Síria – Europa ameaça Síria com sanções

Mesmo sob intensa pressão internacional, o regime sírio enviou ontem milhares de soldados e policiais para reprimir os protestos em diversas cidades do país, com as forças de segurança disparando contra prédios, escolas e mesquitas em Deraa, segundo testemunhas. A brutal repressão às manifestações, que se intensificou nos últimos dias, já deixou cerca de 400 mortos, com o regime sírio prendendo 500 manifestantes pró-democracia somente em dois dias, segundo organizações de direitos humanos. O crescente uso da força levou ontem vários países europeus a criticar o governo do presidente Bashar al-Assad, defendendo sanções contra o país.

Num pronunciamento conjunto, França e Itália pediram que a ONU e a União Europeia aumentem a pressão sobre a Síria. O ministro do Exterior da Holanda, Uri Rosenthal, defendeu que a UE imponha sanções e o embargo de armas. Segundo fontes diplomáticas, o assunto será discutido pelo bloco europeu na sexta-feira e pode incluir a proibição de visto e o congelamento de bens da família Assad e de membros do regime.

— A Síria está numa encruzilhada — disse o chanceler britânico, William Hague, ao Parlamento. — Seu governo pode escolher entre adotar uma reforma radical, e somente ela pode levar a paz e a estabilidade à Síria. Ou uma repressão ainda mais violenta. Se fizer isto, vamos trabalhar com nossos parceiros europeus e outros para adotar medidas, incluindo sanções, que tenham impacto no regime.

EUA retiram pessoal não essencial
França, Reino Unido, Alemanha e Portugal fizeram circular ontem, entre os demais membros do Conselho de Segurança da ONU, uma declaração pedindo uma resolução que condene Assad. O texto apoia o pedido do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, por uma investigação independente para esclarecer a morte de manifestantes. No entanto, a discussão foi adiada para hoje e é pouco provável que sanções sejam adotadas, pois China e Rússia são contrárias à medida. Ao fim da reunião de ontem, Ban condenou “a violência contínua contra manifestantes pacíficos, particularmente o uso de tanques e munição que mataram e feriram centenas de pessoas”.

Separadamente, a França pedia “medidas fortes” contra a Síria e condenava “a escalada de repressão, marcada pelo uso de carros de combate”. A Espanha apoiou uma investigação sobre as mortes, que segundo a Anistia Internacional chegam a 393. Mas pelas contas de organizações não governamentais sírias, elas passam de 400. Some-se a isso as prisões — 500 em dois dias, segundo o grupo de direitos humanos Sawasiah, e que ontem voltaram a ocorrer em Deraa.

O Reino Unido pediu que seus cidadãos deixem imediatamente a Síria e anunciou ter um plano para retirar os 700 britânicos no país. Os EUA, que na véspera condenaram a violência síria, anunciaram que estão retirando pessoal não essencial e familiares dos funcionários da embaixada.

Com as manifestações em sua sexta semana, o uso de tanques e o fechamento da fronteira indicam que Assad cada vez mais adota uma estratégia de força. Ativistas temem que ele repita medidas do pai, Hafez al-Assad, que em 1982 reprimiu uma revolta islâmica numa ação que deixou mais de dez mil mortos. A agência estatal afirma que 15 soldados e policiais morreram na segunda-feira, vítimas de “grupos criminosos”. Já os manifestantes citam 35 mortos somente em Deraa.

Ontem, tiros de artilharia pesada e fuzis eram ouvidos na parte antiga da cidade. Com Deraa sem eletricidade ou telefones, era difícil obter informações independentes. Segundo testemunhas, os soldados começaram a atirar assim que chegaram à cidade. A brigada seria liderada pelo irmão mais novo de Assad, Maher, e estaria bombardeando prédios, invadindo casas e detendo pessoas. Moradores contavam que escolas e mesquitas estavam sendo atingidas, e colunas de fumaça surgiam em vários pontos do horizonte. Corpos eram vistos pelas ruas.

— Deraa se tornou uma prisão. Não se pode sair sem colocar a vida em risco — contou um morador.

Mais de 2 mil policiais foram deslocados para Douma, um bairro de Damasco, bloqueando ruas. Blindados com metralhadoras percorriam as ruas, enquanto agentes da polícia secreta carregavam fuzis. Em Banias, um porto petroleiro, as forças de segurança tomavam posição, enquanto uma multidão, estimada em até dez mil pelos próprios organizadores, entoava:

— Queremos derrubar o regime.

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