Dilma, o mundo e as Forças Armadas

Denise Rothenburg

Se o Brasil pretende mudar de patamar na política externa, tem que procurar ser mais responsável no que se refere aos custos das instituições mundiais e ter Dilma, seus ministros e diplomatas mais presentes e atuantes em fóruns internacionais

Nestes três meses em que deu seus primeiros passos na política externa, a presidente Dilma Rousseff deixou claro que seu plano principal é dar ao país maior relevância no cenário internacional em todas as frentes e colocá-lo como líder inconteste na América do Sul. E, para isso, algumas ações já foram lançadas. A primeira delas foi galvanizar o relacionamento no Cone Sul. Daí a visita à Argentina logo na largada do mandato. Dilma planejava ainda visitar o Uruguai do presidente José Mujica, e o Paraguai de Fernando Lugo, mas esses encontros ficaram para mais tarde.

O difícil, no cenário internacional de hoje, é fazer com que a população brasileira entenda que, se o Brasil quer maior participação e liderança, deve também se preocupar em promover ações de atração aos demais países. Isso requer ajuda financeira, inclusão em missões de paz, caso do Haiti, e muita conversa.

No caso do Paraguai, a presidente espera que o Congresso ratifique logo o acordo que Lula assinou em 2009 com Lugo. Por esse documento, o Brasil se compromete a elevar de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões o total de recursos que paga anualmente pela energia de Itaipu que os paraguaios não usam. A aprovação dessa proposta vai além do dinheiro. Em termos de geopolítica, o Brasil fortalece sua posição com o vizinho e enfraquece investidas de outros países — como os Estados Unidos e a China — naquele país.

Ocorre que é justamente nesse documento que a oposição — e, por tabela, a parte insatisfeita da base aliada — deseja mostrar a Dilma quem manda, impondo-lhe uma derrota. E é muito mais fácil dizer ao povo que não dá para pagar mais ao Paraguai porque o Brasil precisa desses recursos para as próprias obras do que dizer que o acordo é fundamental em termos geopolíticos. No Congresso, o acordo com o Paraguai promete ser tão atacado quanto foi o pagamento de US$ 135 milhões feito pelo país à ONU em 2006 para colocar em dia suas contribuições ao orçamento regular da instituição.

Mas caberá ao governo tentar vender o seu peixe. Afinal, está cada vez mais claro que, se o Brasil pretende mudar de patamar na política externa, tem que procurar ser mais responsável no que se refere aos custos das instituições mundiais e ter Dilma, seus ministros e diplomatas mais presentes e atuantes em fóruns internacionais.

A viagem à China faz parte desse investimento. O fato de Dilma ter recebido o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e, menos de um mês depois, voar para Pequim, onde se reuniu com Hu Jintao e demais autoridades chinesas, mostra que ela pretende jogar em pé de igualdade com os dois países em termos da relação bilateral e de comércio.

Com a China, entretanto, e os demais Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), há mais interesses em comum. Vão além do quesito rodízio no comando de instituições financeiras internacionais e, ao mesmo tempo, ampliação do Conselho de Segurança da ONU — temas fartamente explorados na semana passada.

Em relação à geopolítica, há dentro do Brics uma forte intenção de fortalecimento da relação entre os países, inclusive com preferência na hora de trocas comerciais e acordos de transferência de tecnologia em várias áreas. E foi justamente dentro dessa perspectiva da geopolítica que Dilma Rousseff disse ao presidente russo que nada está fechado em termos da compra dos aviões caças. Da mesma forma que Lula tinha um alinhamento com a França — e muitos citam que daí tenha surgido o fato de ele defender os caças Rafale —, Dilma tem hoje a preferência pelo Brics.

Por falar em caças…
Dilma não tomará qualquer decisão sobre a compra dos aviões sem estar segura e discutir profundamente o tema com o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Ela tem uma boa relação com Jobim e com as Forças Armadas. No Dia do Exército, os discursos — tanto dos militares quanto de Dilma — foram convergentes na linha do país pacífico. Quem estava no evento garantiu que constrangimentos entre a Força e a ex-militante de esquerda que participava de operações armadas são coisas do passado. O mesmo vale para a Aeronáutica e a Marinha.

Jobim foi uma peça que ajudou na construção dessa ponte entre Dilma e os militares. Além disso, muitos no governo atribuem a ele o fato de a presidente não ter problemas nessa área. E Dilma tem tempo para decidir sobre os caças. Afinal, se Lula demorou 8 anos e deixou o governo sem bater o martelo, não será em 3 ou 4 meses que a sua sucessora cuidará desse tema.

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