Bolívia e Argentina despertam temor de onda de nacionalizações na região

Analistas ouvidos pela BBC se dividem, no entanto, sobre o risco de uma onda estatizante. Para alguns especialistas, tratam-se de casos isolados, que ainda assim podem ter implicações sobre os negócios da região, em razão de uma eventual insegurança jurídica criada pelos eventos.

Na Bolívia, o presidente Evo Morales anunciou a nacionalização da empresa elétrica TDE (controlada pela Red Eléctrica Española) durante as comemorações de 1º de maio, em um ato público e de forte apelo popular. Ocasião similar à do anúncio feito pela colega argentina Cristina Kirchner, alguns dias antes, quando expropriou a YPF, controlada pela também espanhola Repsol.

José Maria Román Porta, analista da Fundación Ciudadania y Valores, entidade com sede em Madri, diz que a repercussão foi negativa sobretudo na Espanha, já que o controle acionário de ambas empresas é de investidores espanhois.

"São empresas que formam parte da estratégia e da independência energética da Espanha", disse.

"No caso da Bolívia a repercussão política é mais relevante porque a empresa tem participação do governo espanhol e isso implica diretamente o Estado", afirma ele.

O volume de investimentos na Bolívia, no entanto, é significativamente menor que o empreendido na Argentina. Outra diferença foi a retórica empregada no processo. Enquanto Cristina adotou um discurso mais ácido, Morales chegou a comunicar o governo espanhol a nacionalização da TDE.

Crise

O correspondente da BBC no Cone Sul, Vladimir Hernández, diz que na região existe a impressão de que as empresas espanholas estavam lidando com a crise aumentando a parcela de lucros enviada para a Espanha de suas empresas na região.

"Em 2011 a diretoria da Repsol – YPF aprovou o envio de 90% de seus lucros para os acionistas e isso foi duramente criticado pelo governo argentino que considerou que mais deveria ser investido onde se explorava os recursos naturais", diz Hernández.

Para analistas, as nacionalizações sinalizam insegurança jurídica, e se ocorrem duas vezes seguidas na mesma região, as incertezas crescem ainda mais.

"Há muita incerteza no futuro econômico mesmo que o volume de negócios seja pequeno. A receita que tinha a Red Eléctrica Española e o volume de negócios que representava não eram grandes, mas se cria um temor ante a uma possível onda de nacionalizações", diz Román Porta.

Sem alarmismo

No entanto, embora a Espanha tenha classificado a nacionalização boliviana de "negativa", o ministro espanhol de Economia e Competitividade, Luis de Guindos, disse que a decisão da Bolívia não tem relação com a tomada na Argentina.

"Não acreditamos em absoluto que exista uma situação generalizada, são situações independentes", disse ele.

O analista em relações internacionais Andrés Serbin afirma que "se uma nacionalização acontece não significa necessariamente que acontecerá um problema".

Ele cita o exemplo da PDVSA (Petróleos de Venezuela), nacionalizada em 1976.

"Ao manter seu profissionalismo, se tornou uma das maiores petroleiras do mundo", diz Serbin.

O jornalista da BBC diz que "embora as nacionalizações tenham gerado temor, grupos de empresários estrangeiros na Argentina consideraram a nacionalização da YPF como um acontecimento pontual e não uma ameaça generalizada".

De fato, após anunciar a estatização da empresa elétrica, o presidente boliviano, Evo Morales, inaugurou uma usina de gás elogiando a espanhola Repsol.

"Quero saudar o presidente da Repsol (Antonio Brufau, presente na ocasião). Sua presença, seu esforço, seu trabalho, como sócios", disse ele, de acordo com a agência de notícias EFE.

"Reconheço e reconhecemos a liderança da Repsol, uma das maiores empresas internacionais do mundo, que sempre será respeitada como sócia", disse Morales.

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