Enquanto Harry é assediado no Brasil, William é alvo de protestos na Argentina

A chegada do príncipe William às Ilhas Malvinas (ou Falklands, para os britânicos), no início de fevereiro, gerou protestos de um grupo de manifestantes no centro de Buenos Aires e em frente à embaixada da Grã-Bretanha, no bairro da Recoleta, na capital federal.

"Fora, William", escreveram nos muros do centro da cidade. Com bandeiras e cartazes, em frente à embaixada, eles também repudiaram a presença do príncipe ao arquipélago no Atlântico Sul.

Piloto da Royal Air Force, William chegou às Ilhas em meio à crescente tensão entre a Argentina e o Reino Unido e a poucos dias do dois de abril, data que marca os 30 anos da invasão de tropas argentinas no arquipélago, em 1982. A guerra terminou com a derrota argentina pouco mais de dois meses depois, em junho daquele mesmo ano.

O pedido de recuperação da soberania das Ilhas é uma das principais bandeiras do chamado Kirchnerismo, movimento político que foi liderado pelo ex-presidente Nestor Kirchner (2003-2007), morto em 2010. O pedido é mantido por sua viúva e sucessora, a presidente Cristina Kirchner.

"Nós insistimos, através das Nações Unidas, pela abertura do diálogo com a Grã Bretanha para discutirmos a soberania das Ilhas Malvinas", disse Cristina em diferentes discursos este ano.

'Uniforme de conquistador'

A presidente acusou os britânicos de "militarização" do Atlântico Sul e também criticou a presença de William, vestido de militar, no arquipélago.

"Estão militarizando a região. Não podemos tolerar o envio de um imenso (navio) 'destruidor' (HMS Dauntless) acompanhado do príncipe (William), a quem esperávamos ver com outra roupa (civil), que não a militar", disse a presidente.

Pouco antes da chegada de William às Ilhas, no fim de janeiro, o Ministério das Relações Exteriores da Argentina divulgou uma nota na mesma linha crítica.

"O povo argentino lamenta que o herdeiro real chegue ao solo pátrio com o uniforme de conquistador e não com a sabedoria do estadista que trabalha a serviço da paz e do diálogo entre as Nações", dizia o texto oficial.

Autoridades britânicas afirmaram que a presença e treinamento de William nas Ilhas são de "rotina".

A presidente tem acusado a Grã Bretanha de "colonialismo" – expressão que também foi usada pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, ao se referir à Argentina na questão Malvinas. A disputa pelas Ilhas levou os países do Mercosul a assinarem, no fim do ano passado, uma declaração de apoio à Argentina, impedindo que barcos com bandeira das Falklands possam ancorar nos portos do bloco fundador do Mercosul e também do Chile.

A defesa da soberania das ilhas é um assunto que, segundo diferentes especialistas, faz parte da "identidade" argentina e une governistas e opositores.
 

Neste sentido, a presidente convidou parlamentares da oposição para uma reunião, no dia 14 de junho, no Comitê de Descolonização das Nações Unidas, onde a Argentina insistirá na reabertura do diálogo com os britânicos. Especialistas argentinos recordam que a ONU sugeriu negociações entre os dois países em 1965. O Reino Unido, no entanto, nunca aceitou negociar e em 1982 ocorreu a guerra que mudou o panorama das relações bilaterais.

Cruzeiros e brigas

Nos últimos dias, dois cruzeiros com bandeira britânica foram impedidos de ancorar na cidade de Ushuaia, na província de Terra do Fogo, na Patagônia. Nesta sexta-feira, em Comodoro Rivadavia, na província de Chubut, também na Patagônia, ex-combatentes da guerra das Malvinas e moradores tentaram impedir que estivadores levassem carga de cimento para um navio cargueiro também de bandeira britânica.

Segundo a imprensa local, a polícia foi chamada para apartar a briga entre os manifestantes e os trabalhadores que teriam conseguido continuar os trabalhos após o incidente.

O ex-presidente Kirchner era da Patagônia, região que está no caminho para as Malvinas e onde costumam dizer que o "sentimento malvinense" – de que as Ilhas são argentinas – seria "ainda mais forte", segundo políticos locais.

Nesta clima de animosidade, foi designado na sexta-feira o novo embaixador britânico na Argentina, John Freeman. Poucos dias antes, o governo argentino tinha designado embaixadora para sua embaixada em Londres após cerca de quatro anos com o posto vazio.
 

Segundo a imprensa local, Freeman é especialista em temas de não proliferação de armas nucleares, terrorismo e luta contra o tráfico de drogas e teria dito, através de um comunicado, que quer "contribuir para o desenvolvimento de uma relação de mutuo beneficio para o Reino Unido e a Argentina".

Harry

Neste sábado, uma das principais emissoras de televisão da Argentina, C5N, destacou entre suas manchetes: "Protesto contra príncipe Harry no Rio de Janeiro".

Na mesma linha, três dos principias sites de notícias do país também informaram que o irmão de William não teria sido bem recebido no Brasil.

"Manifestantes brasileiros protestaram contra a visita do príncipe Harry ao Rio de Janeiro em solidariedade com a Argentina e seu pedido de soberania das Ilhas Malvinas", publicou o site Infobae.

Os manifestantes se concentraram no Aterro do Flamengo, publicou o Infobae. Em seu site, o jornal Página 12, de Buenos Aires, publicou: "Durante corrida para promover os Jogos Oimpicos de Londres, o filho de Charles e Diana foi surpreendido por um grupo de manifestantes que erguia cartazes dizendo: 'The Malvinas are Argentinian' ('As Malvinas são argentinas')."

O site do jornal Âmbito Financiero informou: "Mau momento para Harry no Rio. Ele foi vaiado por causa das Malvinas e o músico Morrisey o criticou em público."

 

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