O exército turco enfraquecido frente o EI e o PKK

O frustrado golpe de Estado de 15 de julho e o expurgo posterior deixaram o exército turco enfraquecido, em um momento em que a instituição atua em duas frentes: a guerra contra os rebeldes curdos e a luta contra a organização extremista Estado Islâmico (EI).

Seu futuro será decidido, em parte, na quinta-feira (28) durante um conselho militar supremo em Ancara.

O exército se recuperará?

Com 750.000 soldados, em grande parte recrutas, o exército turco é a segunda força da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Até 2010, a Constituição assinalava-o como "guardião da República turca" e laico, ainda que esse prestígio já faça parte do passado: quase um terço de seus generais (123) está preso, em um expurgo sem precedentes.

Para Sinan Ülgen, presidente do Centro para os Estudos Econômicos e de Política Exterior de Istambul (Edam), "o golpe de Estado frustrado terá consequências na capacidade da Turquia em contribuir para a segurança regional". "A moral e a coesão" do exército se verão "inevitavelmente afetadas".

Além disso, uma "confiança enfraquecida" tornará "particularmente problemática a cooperação entre o exército, a polícia e os Serviços de Inteligência", assinalou Ülgen em recente análise.

Qual a consequência na luta contra o EI?

Os americanos tiveram que recorrer a seus geradores na base de Incirlik, de onde saem, desde 2015, seus bombardeiros para atacar os extremistas na Síria: os turcos cortaram a eletricidade. A base foi um dos focos da sublevação contra Erdogan e o comandante, o general Bekir Ercan, está detido.

Apesar disso, para Stephen Biddle, do Conselho de Relações Exteriores com sede em Washington, Incirlik "não é determinante na campanha contra o EI": apenas faz que "os bombardeios saiam menos caros e sejam mais eficazes", mas outras bases turcas poderiam cumprir essa função.

Mais preocupante é a (falta de) determinação de Ancara na hora de controlar suas fronteiras, já que dela depende "a capacidade do grupo Estado Islâmico para se manter financeiramente através da exportação e do contrabando, e para receber combatentes estrangeiros", opina Biddle.

A Turquia não demonstrou muito interesse em vigiar sua fronteira por não ter se tornado alvo do EI e, se mantivesse a baixa vigilância, isso "teria consequências muito mais negativas do que a perda de bases militares", advertiu o especialista.

Como afetará a luta contra o PKK?

As hostilidades no sudeste do país contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) foram retomadas há um ano, e já custaram a vida de meio milhão de efetivos das forças de segurança turcas. Ancara deverá substituir o, até agora, responsável pela guerra contra os curdos, o general Adem Huduti, que atualmente dorme atrás das grades.

Apesar disso, "a maior parte dos combates eram assumidos pela gendarmeria", relativiza Bulen Aliriza, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS) e este órgão, que era comandado pelo Ministério da Defesa, passará a ser responsabilidade do Ministério do Interior. Ainda "é cedo" para predizer as consequências, diz Aliriza.

A Turquia continuará sendo um aliado confiável?

A resposta do governo turco ao golpe suscita "dúvidas sobre a confiabilidade da Turquia como aliado", considera Marc Pierini, ex-embaixador da UE em Ancara e analista do Carnegie Europe.

Enquanto numerosos interlocutores habituais dos americanos e das forças da Otan estão hoje detidos, existe também o problema das armas nucleares mantidas em Incirlik.

Ao mesmo tempo, o Ocidente vê com preocupação a repentina aproximação, após meses de tensão entre Ancara e Moscou.

Para Bruno Tertrais, da Fundação para a Investigação Estratégica (FRS) de Paris, uma ruptura com a Otan "não beneficiaria a Turquia, mas Erdogan é capaz de tomar decisões pouco racionais".

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter