Mundo deve ter cautela para não forçar Assad à via militar

RICHARD KAREEM AL-QAQ

A tomada da cidade de Hama marca o início de uma nova fase do conflito – o uso da força militar em detrimento do diálogo político.

A mudança de tática reflete um deslocamento no centro de poder do regime, de Bashar Assad, que parecia favorecer o diálogo, ao seu irmão Maheer, comandante da Guarda Republicana, que prefere a linha dura.

A decisão reflete a posição precária do regime. Há semanas, a cidade de Hama vinha servindo de cenário a grandes manifestações.

Enviar tanques para ocupar a cidade é uma tentativa desesperada de esmagar a resistência antes que as manifestações ganhem mais ímpeto. No entanto, é provável que essa campanha militar saia pela culatra.

Desde que começaram os protestos, o regime de Assad vem contando com espaço diplomático de manobra garantido por aliados, entre os quais o Brasil, que argumentavam que a ONU deveria apoiar o processo de diálogo.

Ansiosos por não permitir um novo "precedente líbio" na ONU, os países do grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) subestimaram o nível dos protestos na Síria e tentaram equiparar a repressão do regime à violência da "oposição".

As ações do Exército sírio em Hama tornaram impossível sustentar essa posição diplomática.

O mais preocupante para a Síria é que empregar o Exército contra seus cidadãos acarreta o risco de transformar os protestos até agora não violentos em sectários.

Embora mais de 70% da população seja muçulmana sunita, o regime e o Exército são dominados por uma seita islâmica xiita minoritária, os alauítas.

Por isso, o Exército provavelmente não servirá como mecanismo de transição na Síria, a exemplo do que aconteceu no Egito, e manterá a lealdade ao clã Assad.

Agora também existe um risco de instabilidade regional e o perigo de que Turquia e Irã combatam por meio de prepostos pelo controle desse país de importância geopolítica crucial.

Dados esses perigos, o Conselho de Segurança da ONU precisa ter cautela, pressionando o regime a realizar concessões políticas mas sem forçar a família Assad a uma situação na qual a repressão militar é sua única opção de sobrevivência ou saída.

RICHARD KAREEM AL-QAQ é pesquisador na School of Oriental and African Studies, em Londres.

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