Assad diz que aliança com Rússia “salvará Oriente Médio”

O presidente sírio, Bashar al-Assad, disse, em entrevista veiculada neste domingo (04/10) pela emissora iraniana Khbar TV, que o sucesso de uma campanha militar da Rússia e seus aliados é vital para salvar o Oriente Médio da destruição. A afirmação foi feita um dia depois de Moscou dizer que irá redobrar ataques aéreos contra alvos do Estado Islâmico na Síria.

Assad disse que a campanha militar realizada pelas forças aéreas ocidentais e árabes na Síria e no Iraque têm sido contraproducentes e que ajudam o terrorismo se propagar. "Mas uma coalizão entre Síria, Rússia, Irã e Iraque pode alcançar resultados reais", afirmou. "Ela deve ter sucesso. Caso contrário, enfrentaremos a destruição de toda a região e não apenas de um ou dois Estados", acrescentou Assad.

“Não temos visto que a aliança liderada por Washington haja conseguido resultados, simplesmente porque os países que apoiam o terrorismo não podem combatê-lo”, ressaltou o presidente sírio, citado pela agência estatal de notícias síria. Na opinião dele, o Ocidente "carece de uma visão clara".

Esta semana, Moscou lançou seus primeiros ataques aéreos na Síria, em locais identificados como bases militantes do Estado Islâmico no país.

No entanto, Estados Unidos, França, Reino Unido afirmam que os ataques aéreos russos têm como objetivo fortalecer Assad, após os recentes avanços dos rebeldes. "Eles estão apoiando o carniceiro Assad, o que é um erro terrível para eles e para o mundo", reclamou o premiê britânico David Cameron, em entrevista à BBC.

A Rússia afirmou neste domingo que suas aeronaves realizaram 20 missões na Síria e atacaram 10 alvos do Estado Islâmico nas 24 horas anteriores, incluindo um campo de treinamento e uma fábrica para produzir cintos explosivos.

"Conseguimos interromper o sistema de controle, as linhas de fornecimento da organização terrorista e também causar danos significativos à infraestrutura utilizada para preparar ataques terroristas", comunicou o Ministério da Defesa russo.

Rússia defende ataques na Síria e afirma que mira apenas terroristas

O ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, defendeu nesta quinta-feira (1º/10) os ataques aéreos de seu país na Síria e afirmou que apenas organizações terroristas são alvo. "A força aérea russa está atacando o EI e outros grupos terroristas em coordenação com as forças de segurança sírias", disse o ministro, durante uma entrevista nas Nações Unidas.

Ele acrescentou que a Rússia não considera o Exército Livre da Síria (grupo moderado de oposição apoiado pelo Ocidente e que luta contra Assad e também contra o EI) uma organização terrorista. Lavrov defendeu a participação do Exército Livre da Síria e outros grupos da oposição nas negociações para uma solução diplomática para o conflito que atinge o país desde 2011.

"Isso é absolutamente necessário para o processo político se assegurar e ser sustentável. Nós consideramos terroristas aqueles que são reconhecidos como tal pelas Nações Unidas e pelo sistema legal da Rússia", reforçou Lavrov, citando o Estado Islâmico e a Frente al-Nusra. "Se os Estados Unidos atacam apenas grupos terroristas, então nós fazemos o mesmo."

Ataques a rebeldes moderados

Nesta quinta-feira, um dos comandantes do Exército Livre da Síria, da oposição moderada, assegurou que a aviação russa bombardeou posições do seu grupo nas províncias de Hama e Idleb. O Exército Sírio Livre, de tendência moderada e fundado por desertores das Forças Armadas do regime de Damasco, recebe apoio militar dos Estados Unidos e está ligado à Coalizão Nacional Síria, a principal aliança política da oposição ao presidente Bashar al-Assad.

Também nesta quinta, o senador republicano John McCain afirmou à emissora CNN poder "confirmar absolutamente" que alguns dos primeiros ataques russos na Síria atingiram rebeldes apoiados pelos Estados Unidos e treinados pela CIA.

Em Nova York, Lavrov confirmou ainda que a Rússia está coordenando os bombardeios ao "Estado Islâmico" (EI) com as forças de segurança sírias e que "muito em breve" a Rússia conversará com os Estado Unidos sobre a ação militar na Síria. Ele rejeitou a ideia de que os bombardeios de Moscou tenham como principal objetivo fortalecer o regime de Assad.

Uma coalizão liderada pelos EUA tem bombardeado alvos do "Estado Islâmico" na Síria há cerca de um ano. Na quarta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, recebeu autorização do Parlamento para a realização de uma intervenção militar na Síria e deu início aos ataques aéreos.

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, disse que os EUA não são contra os ataques russos, desde que eles tenham como alvo o EI, e que negociações militares com a Rússia ocorrerão em breve.

Ataques no Iraque

Lavrov também disse que a Rússia não planeja conduzir ataques aéreos contra o EI e outros grupos terroristas no Iraque. "Nós somos educados e não vamos participar sem ser convidados", afirmou. Mas o convite formal poderá ser feito em breve, pois o governo iraquiano já sinalizou apoiar a iniciativa russa no país vizinho e saudou nesta quinta-feira os bombardeios russos contra extremistas na Síria.

O primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, disse que não houve ainda conversas com o Moscou sobre a expansão dos ataques ao Iraque, mas não descartou a possibilidade. "Se a oferta for feita, vamos considerá-la e ela será bem-vinda", afirmou.

Kremlin admite que alvos vão além do "Estado Islâmico"

O segundo dia de bombardeios russos na Síria elevou as suspeitas, nesta quinta-feira (1º/10), de que a intervenção militar lançada por Vladimir Putin tem mais como objetivo proteger o regime de Bashar al-Assad do que conter os avanços do "Estado Islâmico".

Um porta-voz de Putin admitiu que os ataques aéreos russos na Síria têm como alvo uma lista de conhecidas organizações terroristas, porém não revelou quais. Os alvos estariam sendo passados diretamente de Damasco para o Kremlin. E o regime de Assad e o Ocidente têm visões diferentes sobre que grupos atuantes na Síria são terroristas.

"Essas organizações [na lista de alvos] são famosas, e os alvos são escolhidos em coordenação com as Forças Armadas da Síria", afirmou Dimitri Peskov.

Ao ser indagado se o Exército Livre da Síria – o grupo moderado de oposição apoiado pelo Ocidente, que luta ao mesmo tempo contra Assad e o EI – estaria na lista de organizações terroristas, Peskov questionou a própria existência do grupo, dizendo que "ninguém sabe ao certo" se de fato existe, e ainda sugeriu que a maioria de seus membros teria aderido ao EI.

Segundo o canal de TV libanês Al Mayadeen, que é pró-Assad, a Rússia lançou pelo menos 30 novos bombardeios contra bases da Jaysh al-Fatah (Exército da Conquista), a poderosa coalizão rebelde que inclui a Frente al-Nusra, uma afiliada da Al Qaeda na Síria, e uma série de organizações islamistas menos radicais.

Nos últimos meses, o Exército da Conquista foi responsável por impor sérios reveses às forças de Assad, ocupando a cidade de Idlib e, mais tarde, a província homônima – numa clara ameaça às áreas costeiras, tidas como reduto do ditador. E é justamente nessa região que a Rússia vem concentrando parte de seus bombardeios.

Moscou nega mortes civis

Apesar de o discurso oficial russo ser combate ao terrorismo, o Ocidente questiona se os objetivos de Moscou na Síria seriam apenas seu fortalecimento como uma potência regional – e isso se daria através do fortalecimento de Assad, maior aliado da Rússia no Oriente Médio.

Putin diz que Assad deve fazer parte da coalizão que luta contra o "Estado Islâmico". Os EUA e seus aliados, por sua vez, argumentam que Assad pode permanecer no poder a curto prazo, mas que seria essencial uma transição de regime na qual ele não teria papel duradouro.

O ministro do Exterior russo, Serguei Lavrov, desafiou os Estados Unidos a provarem que o alvo das operações russas no país árabe não seria os "terroristas" e dispensou acusações da oposição síria de que 36 civis foram mortos na província de Homs.

"Os rumores de que os alvos desses ataques não eram posições do EI são infundados", rebateu Lavrov, após encontrar-se com o secretário de Estado americano, John Kerry, em Nova York. "Eles expressam dúvidas e afirmam que há provas, as quais pedimos que nos mostrassem", afirmou.

Washington reclama que Moscou alertou com apenas uma hora de antecedência sobre os ataques. Segundo Kerry, uma reunião entre os comandos militares dos dois países está sendo preparada para breve. "Concordamos que é essencial que seja realizada logo", afirmou.

 

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