Preparando-se para uma Venezuela pós-Hugo Chávez

José R.Cardenas, da Foreign Policy – O Estado de S.Paulo
é ex-membro do Conselho Nacional de Defesa no governo de George W. Bush


Com pílulas e gotas de informação, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, está lentamente informando ao mundo que ele sofre de uma doença grave. Depois de finalmente admitir que tem câncer, ele iniciou esta semana em Havana um tratamentos de quimioterapia.

Apesar de ainda não sabermos o tipo de câncer que ele tem nem o prognóstico de sua doença, parece certo supor que a condição médica dele vai prejudicar sua capacidade de continuar governando a Venezuela como antes.

De fato, tudo indica que ele está hoje reunido com seus conselheiros cubanos para preparar os alicerces de uma sucessão para garantir a sobrevivência do chavismo na ausência do seu loquaz fundador.

O vice-presidente Elías Jaua, leal a Chávez (e a Fidel Castro), é oficialmente o primeiro colocado na fila da sucessão, mas ele não passa de um lacaio sem brilho que ninguém considera ser a resposta de longo prazo. O ministro das Relações Exteriores, Nicolás Maduro, outro leal acólito de Chávez, é outro que não é visto como substituto viável. O general Henry Rangel Silva, ministro da Defesa, e o chefe da divisão de espionagem do Exército, Hugo Carvajal, duas figuras poderosas que pairam nas sombras, são chavistas até a medula, mas ambos foram sancionados pelo Departamento do Tesouro americano por facilitar o tráfico de drogas que passa pela Venezuela, o que descredencia ambos como possíveis sucessores de Chávez.

Ainda assim, eles dispõem do poder de garantir o sucesso ou o fracasso de um sucessor de Chávez – e ambos têm motivos para atuar nesta definição, levando-se em consideração sua vulnerabilidade às sanções legais americanas caso a pessoa errada venha a substituir Chávez.

Circula também uma ambiciosa e corrupta corte de ex-funcionários do governo que inclui o ex-vice-presidente Diosdado Cabello, o ex-vice-presidente José Vicente Rangel e o ex-ministro Jesse Chacón. Tratam-se de políticos formidavelmente habilidosos, mas sua conspícua venalidade e a desconfiança que eles inspiram nos cubanos por causa de seu pensamento independente os impedem até de participar da corrida. Ainda assim, devemos observá-los.

Assim sendo, o único que parece ter boas chances de manter sob controle este estranho e variado grupo de trogloditas políticos e dar prosseguimento ao chavismo na ausência de Chávez é seu irmão mais velho, Adán.

Quinze meses mais velho do que o presidente, Adán Chávez não é um desconhecido na política da esquerda radical. Já no início dos anos 80 ele estava envolvido em conspirações para derrubar o governo venezuelano. Marxista convicto e ardente defensor de Fidel, ele serviu como ministro da Educação e como embaixador em Cuba, ocupando atualmente o governo do Estado de Barinas. É conhecido como ideólogo de princípios. De acordo com um comunicado diplomático interceptado pelo WikiLeaks, Chávez tem apenas dois confidentes: Adán e Fidel Castro.

Conflito. No fim de junho, Adán ganhou as manchetes internacionais quando disse aos partidários do governo que, apesar de preferirem se manter no poder por meio das urnas, eles não devem excluir a possibilidade de um conflito armado caso isto se faça necessário.

A bendição de Adán parece já estar encaminhada. Durante a misteriosa viagem de Chávez a Cuba, os funcionários do governo tiveram dificuldade para explicar a ausência do presidente. Foi Adán quem pareceu estar mais bem informado a respeito daquilo que estava ocorrendo. Além disso, quando Chávez voltou à Venezuela, Adán foi o único personagem político a aparecer ao lado dele no terraço do palácio presidencial para cumprimentar seus partidários.

O problema de Adán está no fato de faltar-lhe carisma, como aos demais postulantes, mas seus importantíssimos laços de sangue devem atropelar esse defeito (assim como o impopular Raúl se tornou o líder titular do decrépito regime castrista em Cuba). Os cubanos se encarregarão de garantir isso.

E Adán conta também com o apoio de uma verdadeira galeria internacional de participantes independentes que já lucraram muito com a generosidade de Chávez. Eles vão pressionar não apenas pela manutenção do status quo como também pela continuidade do chavismo nas eleições de 2012. Além de Cuba, esses interessados incluem Rússia, China e Irã (incluindo o Hezbollah).

O significado disso para a oposição venezuelana e os interesses americanos será o tema de blogs futuros, mas, por enquanto, todos os olhares devem se voltar para as maquinações políticas em Caracas que determinarão o futuro próximo do chavismo.

Tradução de Augusto Calil

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