Russia – China – Laços Estreitos


Rússia e China assinaram acordos econômicos e fecharam uma linha de financiamento de até US$ 25 bilhões de bancos chineses para empresas russas, num momento em que Moscou tenta se aproximar de seu vizinho no sudeste diante das sanções impostas pelo Ocidente.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o da China, Xi Jinping, promoveram a assinatura de um acordo para permitir que empresas russas tomem empréstimos de bancos chineses com garantias fornecidas pelo governo russo, excluído dos mercados globais de capital por sanções ocidentais. Os dois países também assinaram um acordo preliminar para que a Rússia forneça gás para a China através de um gasoduto — embora detalhes essenciais ainda precisem ser resolvidos — e outros acordos para a aviação e a agricultura.

“Hoje, a China é nosso principal parceiro estratégico”, disse Putin ao lado de Xi, enquanto os acordos eram assinados.

Xi era o líder estrangeiro mais importante presente em Moscou para as celebrações russas do fim da Segunda Guerra Mundial, ocorridas no sábado. Os líderes ocidentais não compareceram ao evento em face da anexação da Crimeia pela Rússia e o apoio de Moscou aos rebeldes separatistas do leste da Ucrânia.

Enfrentando sanções econômicas de países ocidentais, o governo russo vem tentando uma virada rumo ao Oriente, dizendo que pretende reduzir sua dependência das Europa e Estados Unidos ao buscar investidores asiáticos. Os resultados, porém, têm sido inconstantes. No ano passado, a Rússia ficou decepcionada porque os chineses e outros investidores asiáticos não ocuparam o vazio deixado por credores ocidentais após as sanções. O acordo financeiro, assinado na sexta-feira pelo Fundo de Investimento Direto Russo (ou RDIF, na sigla em inglês), o Fundo de Investimento Rússia-China e o Banco de Construção da China, parece mais um exemplo das duras táticas de negociação da China, uma vez que a Rússia vai arcar com quase todo o risco.

O acordo permitirá às empresas russas, que estão com dificuldades para pagar dívidas externas, captar até US$ 25 bilhões nos próximos dois a três anos a custos mais baixos que no mercado doméstico, disse um porta-voz do RDIF.

O órgão estatal fornecerá cerca de US$ 1,5 bilhão para a parceria financeira, ajudando a financiar acordos futuros e atuando como garantidor no caso de possíveis inadimplências.

“Vamos nos concentrar em empresas que não estão sob sanções formais, mas estão tendo dificuldade para atrair recursos. Pretendemos ajudar empresas que, em consequência da situação geopolítica atual, estão enfrentando problemas de liquidez”, disse Kirill Dmitriev, diretor do RDIF, em comentários na TV.

“Vemos excelentes oportunidades com muitas empresas russas procurando financiar suas dívidas nos mercados estrangeiros, e é de interesse mútuo alavancar o forte capital dos bancos e instituições financeiras chinesas, que têm planos ativos de investir internacionalmente”, disse Hu Bing, presidente do Fundo de Investimento Rússia-China, num comunicado.

Mas não há evidências de avanço nos acordos sobre combustíveis, os quais o Kremlin colocou no centro de sua esperada virada para leste. A gigante estatal russa GAZPROM assinou um acordo preliminar com a China National Petroleum Corp. para fornecer 300 bilhões de metros cúbicos de gás natural para a China através da chamada “rota ocidental”, que possibilitaria à Rússia desviar o gás de campos que atualmente servem a Europa. Não há, entretanto, indicação de progresso na questão do preço. O diretor-presidente da Gazprom, Alexei Miller, não quis fornecer nenhum detalhe sobre o cronograma do projeto.

A Rússia quer vender mais gás para a Ásia porque a Gazprom enfrenta concorrência e pressões regulatórias na Europa. Mas o progresso vem sendo lento e analistas questionam a viabilidade econômica do gasoduto “Força da Sibéria”, destinado a transportar gás para o leste da China num acordo assinado em maio de 2014 e avaliado em US$ 400 bilhões.

Após a reunião com Xi, Putin elogiou o status da China como o maior parceiro comercial da Rússia e o “passado heroico em comum” dos países na Segunda Guerra Mundial.

Como parte do plano para impulsionar o comércio em rublos e em yuans, o Sberbank,  maior banco da Rússia, fez um acordo com o China Development Bank Corp. para estabelecer uma linha de crédito de 6 bilhões de yuans (US$ 970 milhões) para propósitos comerciais.

Entre outros acordos assinados na sexta-feira, a Rússia e a China concordaram em criar um fundo agrícola de US$ 2 bilhões para investir em projetos nos dois países.

Moscou também fechou um acordo para fornecer até 100 jatos regionais russos Sukhoi Superjet para os mercados chineses e do Sudeste da Ásia nos próximos três anos, afirmou o RDIF.

A Rússia e a China também assinaram um acordo preliminar para segurança cibernética. Os dois países se comprometeram a não realizar ataques cibernéticos um contra o outro e a contra-atacar conjuntamente tecnologias que possam provocar distúrbios políticos ou sociais.

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