Petróleo – OPEP prevê barril longe de US$ 100 nos próximos dez anos


A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) prevê que os preços do petróleo não serão consistentemente negociados a US$ 100 o barril novamente pelos próximos dez anos, uma avaliação pessimista que tem levado o grupo a considerar um retorno às quotas de produção para influenciar o mercado, de acordo com pessoas a par do relatório de estratégia mais recente do cartel.

O documento, ao qual o The Wall Street Journal teve acesso de forma parcial, prevê que os preços da commodity chegarão a cerca de US$ 76 por barril em 2025, no cenário mais otimista, o que reflete as preocupações da Opep de que os concorrentes americanos conseguirão lidar com os preços baixos e continuarão aumentando a oferta. O relatório também contempla situações em que os preços do petróleo caiam para menos de US$ 40 o barril em 2025.

O preço de “US$ 100 [o barril] não faz parte de nenhum dos cenários”, disse um delegado da OPEP na apresentação sobre a estratégia do cartel, na semana passada, em Viena.

Um representante da OPEP não quis comentar.

A OPEP tem tido dificuldade para decidir como responder a um histórico declínio dos preços causado em parte pelo petróleo proveniente dos Estados Unidos, graças à técnica de extração conhecida como fraturamento hidráulico, ou fracking, de formações de xisto no subsolo. Normalmente, o cartel corta sua própria produção para reduzir a oferta e segurar os preços em tempos de turbulência do mercado, mas no ano passado o grupo concluiu que, dessa vez, a estratégia não funcionaria.

 

Em vez disso, alguns países da OPEP, notadamente a Arábia Saudita, têm inundado o mercado com mais petróleo e reduzido os preços na esperança de manter seus clientes. Por sua vez, membros da diretoria do cartel dizem que o ambiente de preços baixos poderia acabar tirando do mercado alguns projetos cuja produção é muito cara, como de produtores americanos de petróleo de xisto, cujos custos são bastante altos.

O mercado se recuperou nos últimos meses, com o Brent, a referência global para a definição de preços, tendo fechado em US$ 64,91 ontem em Nova York, depois de cair abaixo de US$ 50 em janeiro. O petróleo tipo Brent chegou a ser negociado a US$ 115 por barril em junho de 2014.

A queda dos preços é uma enorme preocupação para os países produtores que precisam do dinheiro do petróleo para equilibrar seus orçamentos. Apenas dois membros da Opep — o Catar e o Kuwait — têm condições de cobrir seus gastos governamentais com o barril de petróleo a US$ 76, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional. A maioria dos membros necessita que os preços estejam bem acima dos US$ 100 o barril; a Argélia, por exemplo, precisa deles em mais de US$ 130, de acordo com o FMI.

O rascunho do relatório foi apresentado em uma reunião da OPEP em Viena na semana passada. Ele poderia ser alterado antes do tão aguardado encontro de ministros do grupo, em junho, ou antes que os países membros sejam convidados a aprová-lo ainda este ano. O preço do petróleo poderia subir ou cair mais daqui até 2025, segundo a estimativa da Opep.

O relatório recomenda que a OPEP volte a adotar um sistema de quotas de produção que foi abandonado em 2011, depois de desacordos sobre quanto cada país poderia produzir. Os membros da OPEP relutavam em concordar com limites na produção porque isso restringiria sua capacidade de atrair novos negócios e, portanto, as quotas eram, em sua maioria, ignoradas.

Agora, países com grandes reservas como a Arábia Saudita e o Iraque estão produzindo níveis recordes de petróleo, em uma tentativa de manter ou ganhar participação de mercado.

O cenário de quotas de produção em questão permitiria que os membros menos abastados da OPEP produzissem mais. Embora o relatório não mencione qualquer país individualmente, essa política poderia agradar os governos de países como a Argélia e a Venezuela.

“O efeito de um prolongado período de declínio no mercado é mais forte para alguns países que outros. Por isso, a solução tem que ser bem calculada”, recomenda o relatório, de acordo com uma autoridade da OPEP que já teve acesso a ele.

Se a OPEP pudesse ser uma organização mais disciplinada, ela teria mais poder para influenciar os mercados, diz essa pessoa.

“Se eles querem manter a organização, não terão escolha”, diz a autoridade, acrescentando que qualquer concessão feita por membros mais fortes seria temporária.

Segundo as recomendações feitas no rascunho do relatório estratégico da OPEP, as quotas poderiam entrar em vigor caso a participação total da OPEP no mercado global fique abaixo do patamar atual de 32%, disseram autoridades. O grupo já chegou a produzir mais de metade do petróleo do mundo.

“Em algum ponto, a OPEP não vai concordar em reduzir mais” a produção, diz uma autoridade da OPEP.

O relatório recomenda também que a OPEP planeje uma resposta forte para as negociações sobre mudanças climáticas na Organização das Nações Unidas. A próxima rodada de negociações será em Paris, em dezembro. O cartel vai argumentar que os novos regulamentos ambientais não deveriam reduzir as receitas de países em desenvolvimento obtidas no setor de energia.

“Os membros da OPEP não querem sofrer com regulações ambientais que prejudiquem sua receita”, disse um participante da apresentação. O relatório recomenda que os “membros da OPEP participem de forma agressiva dessas discussões para limitar os efeitos negativos e eles devem ter uma posição unificada”, acrescentou essa pessoa.
 

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