A voz fraca do Brasil no cenário global

New York Times
  Nicholle Murmel – Tradução, adaptação e edição


Quando Dilma Roussef foi eleita presidente do Brasil em 2010, a indústria nacional prosperava e seu objetivo de erradicar a pobreza na então sétima economia do mundo parecia factível. Muitos brasileiros esperavam que Dilma, que já foi prisioneira política, estabeleceria um legado como líder transformadora nos planos doméstico e externo.

Até o momento, parece que essa esperança não vingou. Dilma vem sendo uma chefe de Estado aquém do esperado diante das questões internas e, talvez, uma decepção ainda maior no cenário global. Enquantro as outras três grandes economias em desenvolvimento – China, Rússia e Índia – correm atrás de reforçar seus meios de política exter, sob o governo de Dilma a voz do Brasil na arena internacional se tornou pouco mais que um sussurro.

Após ser reeleita ano passado com uma margem minúscula, a presidente agora enfrenta o período mais turbulento de sua carreira política. A economia está falseando, e os cidadãos estão enfurecidos com a corrupção que se alastrou na Petrobras, e na qual estariam envolvidas até mesmo figuras emblemáticas do Partido dos Trabalhadores. Com milhares de brazileiros indo às ruas para protestar contra o governo, e alguns pedindo pelo impeachment, Dilma muito provavelmente se verá tentada a se proteger dos ataques e se concentrar em passar pela crise política.

Por mais que restaurar a confiança da população seja uma tarefa difícil, seria sábio da parte da presidente gastar um pouco mais de energia olhando além do próprio quintal para ajudar a economia debilitada do país.

Uma primeira medida seria colocar a relação entre Brasil e Estados Unidos de volta em um rumo saudável. Autoridades americanas viram potencial nos primeiros anos de governo de Dilma, e enxergavam a presidente como uma liderança mais pragmática do que seu antecessor, Luiz inácio Lula da Silva, ícone da esquerda latino-americana.

Mas as negociações para expansão commercial e atividades diplomáticas foram suspensas no fim de 2013, quando documentos da Agência Nacional de Segurança (NSA), liberados na Internet por Edward Snowden, revelaram que Dilma era uma das chefes de Estado sob espionagem de Washington. A presidente denunciou a vasta coleção de dados globais da agência como “quebra da lei internacional”, cancelou uma visita de Estado à capital americana e abandonou no último minuto um contrato avaliado em 4,5 bilhões de dólares para a combra de aeronaves de caça da Boeing.

Este ano, os governos do Brasil e dos EUA manifestaram interesse em interagir em um patamar mais elevado, que inclui ampliação do comércio, políticas ambientais e discussões sobre o futuro da tumultuada Venezuela.

A presidente Dilma, antiga líder de uma milícia de orientação marxista, não se tornará uma aliada firme de Washington da noite para o dia, e há muito mais aspectos em que ambos os lados se contentarão apenas em respeitar as desavenças. Por exemplo, o Brasil vem sendo um ator crucial no uso de forças militares no exterior e, no passado, usou sua capacidade de mediação para fortalecer diversas instituições multilaterais que atuam como contrapeso para a influência global americana.

Mesmo assim, o Brasil pode ter um papel fundamental em relação a duas nações latino-americanas que são cada vez mais importantes para os EUA:

Na Venezuela, o vizinho pode ser o ator internacional mais influente e capaz de criar uma ponte no abismo pergoso entre o presidente Nicolás Maduro e a oposição, que Maduro já enfraqueceu através da prisão dos líderes. Lula – político carismático e capaz de estabelecer acordos diplomáticos – usava com frequência sua influência sobre o falecido ex-presidente venezuelano Hugo Chávez.

Já em em relação a Cuba o Brasil pode ter um papel construtivo na evolução econômica e política da ilha na fase final da era Castro. O governo brasileiro já investiu recursos em um enorme porto que pode muito bem fortalecer a frágil economia cubana.

Sendo líder de esquerda, Dilma, como era de se esperar, demonstrou simpatia para com os governos autoritários dos dois países. Considerando seu passado como prisioneira política que sofreu tortura durante o período de governo militar no Brasil, a presidente poderia fazer muito mais pela causa dos que defendem valores democráticos e pelos movimentos sociais que permitiram a ela chegar ao poder.

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