Líderes que reprimem imprensa provocaram polêmica em marcha de Paris

Apesar de ter celebrado a presença de vários chefes de Estado e dirigentes políticos estrangeiros na marcha em Paris, a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) expressou nesta segunda-feira (12) sua indignação com a presença de líderes de países que não respeitam a liberdade de informação, como a Turquia, a Jordânia, o Gabão, entre outros. A marcha em protesto ao terrorismo e em memória às vítimas do atentado contra a revista Charlie Hebdo reuniu cerca de 1,5 milhão de pessoas na capital francesa ontem.

“Em nome de que os representantes de regimes predadores da liberdade de imprensa vêm marchar em Paris em uma homenagem a uma publicação que sempre defendeu a mais alta liberdade de expressão?”, declarou o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire.

Para ele, é intolerável que representantes de Estados continuem a reprimir jornalistas em seus países e se aproveitem da emoção gerada pelos ataques terroristas para tentar melhorar sua imagem internacional. “Não devemos deixar que predadores da liberdade de imprensa cuspam nos túmulos de Charlie Hebdo”, reiterou.

Dirigentes dos países classificados como os que mais desrespeitam a liberdade de imprensa estavam presentes ontem. A lista feita anualmente pela RSF conta com 180 nações. O Egito está na 159ª posição, a Turquia, na 154ª, Rússia, 148ª, Jordânia ocupa o 141º lugar e Gabão, o 98º. Todos esses países foram representados no evento contra o terrorismo e em memória de Charlie Hebdo na capital francesa.

Eliseu diz que não teve alternativa

Questionado sobre a suposta gafe pelo jornal francês Le Monde, o Palácio do Eliseu respondeu que todos os que estivessem dispostos a condenar o extremismo eram bem-vindos à manifestação. O objetivo do governo francês era “responder à altura” contra o terrorismo organizando uma marcha com presença de chefes de Estado e governo de todo o mundo, como nunca havia acontecido antes, disse um porta-voz do Eliseu.

“O presidente foi claro. Devido ao mal mundial que causa o terrorismo, todos eram bem-vindos, todos aqueles que estão dispostos a nos ajudar a combater este problema. Não podemos nos permitir fazer distinções entre países. Todos esses dirigentes condenaram claramente o ataque contra Charlie Hebdo”, publica o Le Monde, como resposta do governo francês.

Ausência de Obama foi criticada

O presidente americano Barack Obama foi duramente criticado por não ter participado da mobilização. Washington foi representado pela embaixadora dos Estados Unidos na França, Jane Hartley. No total, cerca de 50 dirigentes marcharam de braços dados, abrindo o cortejo.

“Você decepcionou o mundo”, diz a capa do jornal americano New York Daily News desta segunda, mandando um recado a Obama. Já o repórter Jake Tapper, da CNN, durante uma reportagem no meio da multidão parisiense ontem, alfinetou: “como americano, eu gostaria de estar melhor representado nesta bela marcha”.

O que mais irritou a opinião pública dos Estados Unidos foi o fato de que nem Obama, nem o vice-presidente Joe Biden tinham compromissos oficiais em suas agendas ontem. Já o secretário de Estado americano, John Kerry, estava em visita oficial à Índia e disse que encontrará com autoridades francesas nesta quinta, em Paris.

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