Após triunfo europeísta em Kiev, rebeldes preparam as próprias eleições

Enquanto os resultados oficiais das eleições legislativas realizadas no domingo na Ucrânia confirmam o triunfo dos partidos europeístas, os separatistas pró-Rússia do sudeste do país se preparam para fazer o próprio pleito no dia 2 de novembro, medida não reconhecida por Kiev.

Com mais de 90% dos votos apurados, as eleições apontam uma vitória da Frente Popular, partido do primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, e do bloco do presidente Petro Poroshenko, com 22,16% e o 21,77%, respectivamente.

Segundo dados divulgados pela Comissão Eleitoral, no terceiro lugar aparece o também europeísta Autoajuda, de Andrei Sadovi, prefeito de Lviv, a principal cidade do oeste da Ucrânia, com 10,96% dos votos.

Com a apuração quase finalizada, também ganha destaque o inesperado bom resultado do Bloco Opositor, criado por antigos membros do desmantelado Partido das Regiões, do presidente derrubado Viktor Yanukovich, com 9,36% dos votos, muito mais que o previsto pelas enquetes.

Os principais políticos ucranianos no poder após a revolta no país, Yatseniuk e Poroshenko, começaram a negociar na segunda-feira a criação uma coalizão parlamentar e de governo que permita antecipar um ambicioso programa de reformas.

A essa coalizão poderiam se juntar Sadovi e a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko, cujo partido Batkivschina conseguiu 5,7% dos votos. No entanto, uma fonte afirmou nesta terça-feira que ainda eles não foram convidados às consultas.

Enquanto são divulgados os resultados finais e as negociações de coalizão avançam, os líderes das autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk preparam as eleições locais do dia 2 de novembro, o que já representa um novo motivo de tensão entre Kiev e Moscou, acusada pelas autoridades ucranianas e pelo Ocidente de ajudar os rebeldes com armas e recursos.

O presidente Poroshenko advertiu nesta terça-feira que essas eleições, ilegais para Kiev, prejudicarão o processo de paz aberto com as regiões rebeldes.

"A posição do presidente a respeito das 'pseudoeleições' que os terroristas vão realizar e que nunca serão reconhecidas pelo mundo civilizado, anunciadas pelas autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, é que colocam todo o processo de paz em risco", declarou o porta-voz de Poroshenko, Sviatoslav Tsegolko, em seu perfil no Facebook.

Tsegolko acrescentou que essas eleições "não só não têm nada a ver com o protocolo de Minsk, de 5 de setembro (quando foi assinado um cessar-fogo entre os rebeldes pró-Rússia e Kiev), mas contradizem totalmente sua letra e seu espírito".

Segundo o acordo assinado na capital de Belarus, no qual foi estabelecida uma trégua nos combates que causaram cerca de quatro mil mortes desde abril, seriam convocadas eleições locais para o dia 7 de dezembro nas duas regiões rebeldes, a fim de escolher seus órgãos de poder.

Os insurgentes responderam rejeitando essa alternativa e convocaram seu próprio pleito para o dia 2 de novembro, além de não participarem das eleições legislativas ucranianas, que foram realizadas no domingo em todo o país.

A Rússia, no entanto, já anunciou que reconhecerá os resultados das eleições de Donetsk e Lugansk.

"Esperamos que as eleições sejam realizadas como foi combinado e certamente reconheceremos seus resultados", declarou nesta terça-feira o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov. Ele também disse que espera que "a manifestação da vontade seja livre e não haja tentativas de frustrá-la".

A Rússia e os autoproclamados dirigentes separatistas entendem que as eleições para escolher os Parlamentos regionais e seus líderes fazem parte dos acordos de Minsk para a regulação do conflito no leste.

Na nova Rada Suprema (Legislativo) ucraniana entrará também, como quinta força política, o Partido Radical, do populista Oleg Liashko, a favor de uma postura mais rígida com os insurgentes pró-Rússia em Donbass, a bacia mineira de Donetsk e Lugansk, com 7,46% dos votos.

Rússia reconhecerá eleições organizadas por separatistas na Ucrânia

(AFP) A Rússia anunciou nesta terça-feira que vai reconhecer os resultados das eleições legislativas e presidenciais de 2 de novembro nas regiões do leste ucraniano controladas pelos insurgentes pró-Rússia, uma decisão criticada por Kiev.

"Esperamos que as eleições sejam realizadas como estão previstas e certamente reconheceremos os resultados", declarou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, ao jornal Izvestia.

Enquanto os partidos pró-Ocidente que venceram as eleições de domingo na Ucrânia negociam a formação de um novo governo na capital, Moscou lembrou que uma parte do território não está sob controle do Executivo.

Moscou, que segundo Kiev e os países ocidentais, fornece apoio militar aos insurgentes, não havia reconhecido formalmente em maio os referendos de independência realizados pelos separatistas.

Mas, de acordo com Lavrov, trata-se desta vez de "legitimar as autoridades rebeldes", como parte dos acordos de Minsk que estabeleceram um cessar-fogo, em 5 de setembro, para tentar acabar com os combates que deixaram 3.700 mortos no leste ucraniano, segundo a ONU.

Os acordos de paz preveem uma ampla autonomia para as zonas separatistas com um "governo autônomo provisório" e eleições locais, parte de uma descentralização e não de uma independência.

Os separatistas, que não votaram nas legislativas de domingo, não atenderam Kiev, que apresentou a proposta de eleições em 7 de dezembro, e acabaram organizando seus próprios processos eleitorais nas duas "repúblicas" autoproclamadas de Donetsk e Lugansk.

Dimytro Kuleba, membro do Ministério de Relações Exteriores ucraniano, disse à AFP que Moscou está violando o acordo de paz promovido em Minsk.

"A postura da Rússia mina o processo de paz, fragilizando a confiança no país enquanto sócio internacional seguro", declarou Kuleba à AFP.

– Rublo em queda e preços em alta –

A crise ucraniana começou com a destituição do ex-presidente pró-Rússia Viktor Yanukovytch em fevereiro e se agravou com o envolvimento da Rússia, que anexou a península da Crimeia em março e é acusada de estar diretamente envolvida no conflito armado no leste. A situação na Ucrânia provocou a maior divisão entre Moscou e as potências ocidentais desde o fim da Guerra Fria.

A economia russa, abalada por sanções que afetam os grandes bancos e o setor petroleiro, está à beira da recessão. O rublo voltou a registrar um recorde negativo nesta terça em comparação ao euro e ao dólar.

Segundo o ministro da economia Alexei Uliukaev, o fenômeno tem incidência direta sobre os preços, com uma inflação que já supera 8%.

Os embaixadores da União Europeia (UE) se reúnem nesta terça-feira para fazer um balanço da política de sanções em relação à Rússia.

A situação no leste da Ucrânia permanece tensa e os combates foram retomados na segunda-feira, após um fim de semana de relativa calma.

Em Donetsk, combates continuavam sendo travados na área próxima do aeroporto.

– Formação de premiê lidera –

Com 86% dos votos apurados, a vitória eleitoral das forças pró-Ocidente foi confirmada.

A Frente Popular, do primeiro-ministro Arseni Yatseniuk, lidera com 22% dos votos, seguida de perto pelo bloco do presidente Petro Poroshenko (21,7%).

Ambos terão que trabalhar para formar uma coalizão que deve incluir integrantes do Samopomitch (10,9%), um movimento que reúne jovens que participaram dos protestos pró-Europa na Praça Maidan de Kiev, e talvez o partido da ex-primeira-ministra Yulia Timoshenko (5,7%).

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