Ucrânia diz ter perdido 60 por cento de seu arsenal em guerra com separatistas

O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, disse nesta segunda-feira (22/09) que as Forças Armadas já perderam cerca de 60% de seu arsenal nos mais de quatro meses de combates com os separatistas pró-Moscou no leste do país.

"Entre 60% e 65% dos nossos equipamentos militares foram destruídos", disse Poroshenko, em entrevista a um canal de TV ucraniano.

No último sábado, em Belarus, representantes de Kiev e dos separatistas assinaram um memorando que define a colocação em prática dos termos do acordo de paz, anunciado há cerca de duas semanas.

Segundo o presidente ucraniano, a trégua, que levou há uma paralisação parcial dos conflitos no leste do país, representa uma chance às Forças Armadas para se organizarem.

Ele garantiu que seu governo deseja buscar a paz, mas deixou claro que a Ucrânia precisa estar preparada "caso o plano de paz não funcione".

O memorando assinado no sábado tem nove pontos. O principal deles é a criação de uma zona desmilitarizada de 30 quilômetros entre as tropas de Kiev e os separatistas nas regiões de Donetsk e Lugansk, ambas na fronteira com a Rússia.

O documento foi bem recebido no Ocidente, mas não é considerado um acordo de paz nem um armistício. Ele congela, porém, as atividades militares na região, ainda que de forma provisória. Desde a assinatura da trégua, há duas semanas, pelo menos 40 separatistas e dois soldados ucranianos morreram em combates.

Milhares protestam em Moscou contra envolvimento do Kremlin no leste ucraniano

Durante muito tempo, a oposição russa no conflito na Ucrânia se mostrou reticente quanto as críticas públicas ao presidente Vladimir Putin. Agora, pela primeira vez, a resistência se manifesta na Rússia, também devido às dolorosas consequências da crise no país – reflexo da perda de valor do rublo e o aumento dos preços dos alimentos devido às sanções econômicas do Ocidente.

Sob o lema "Não à guerra!", os opositores de Putin realizaram uma manifestação pacífica neste domingo (21/09) nas ruas da capital russa. Trata-se da primeira grande ação de protesto desde a eclosão do conflito no leste da Ucrânia, em abril deste ano. Apesar da trégua, os críticos do Kremlin ainda acreditam que Putin possa se utilizar de todos os meios para impor seus interesses de poder no país vizinho.

Soldados russos na Ucrânia

Os organizadores da marcha pela paz criticaram duramente que mercenários russos, mas também soldados regulares, participem das lutas no leste ucraniano. "Por que nossos soldados estão morrendo?", pôde ser lido em cartazes. Eles exigem das autoridades esclarecimentos sobre as ações e mortes de soldados russos no conflito entre o Excército da Ucrânia e separatistas.

Até então, em Moscou só haviam acontecido manifestações de fanáticos nacionalistas ou cristãos ortodoxos, que exigiam de Putin uma participação das Forças Armadas "para salvar o mundo russo". Putin sempre negou a atuação do Exército russo no conflito na Ucrânia.

Apesar de o Kremlin contestar publicamente até hoje o emprego de soldados russos, até mesmo na mídia estatal houve relatos recentes sobre soldados russos que estariam lutando "voluntariamente durante as suas férias" no leste ucraniano.

Apoio de Khodorkovski

Os protestos em Moscou são apoiados por Mikhail Khodorkovski, antes o homem mais rico da Rússia. Em entrevista à revista Der Spiegel, o ex-magnata apontou graves erros na política do Ocidente frente à Rússia.

"Com sua chamada realpolitik, o Ocidente alimentou em Putin a convicção de que ele e seu entorno tudo podem. A mensagem era: vamos fazer bons negócios, quanto ao resto, tudo é permitido", afirmou Khodorkovski à revista alemã.

Khodorkovski alertou para as consequências de um desmoronamento da Rússia. "Isso não vai acontecer de forma tão pacífica como foi após o fim da Guerra Fria com a separação da República Tcheca e da Eslováquia". Quanto mais tempo Putin ficar no poder, maior a probabilidade de acontecer um derramamento de sangue.

Na próxima terça-feira, Khodorkovski vai estar em Berlim para o relançamento de sua iniciativa Open Russia. Com a ação, o ex-presidente da companhia petrolífera Yukos pretende ajudar a sociedade civil a se reerguer na Rússia.

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