Insurgência sunita, a inimiga comum dos rivais EUA e Irã

Thomas Erdbrink

Mesmo com as diferenças nas negociações sobre o programa nuclear de Teerã, os Estados Unidos e o Irã se veem no mesmo lado nos assuntos relativos à insurgência que tem varrido o Oriente Médio. Ambos são contra o movimento internacional de jovens rebeldes sunitas que estão erguendo a bandeira preta da al-Qaeda de forma sectária em países como Síria, Líbano, Iraque, Afeganistão e Iêmen.

Relutantes em intervir em conflitos sangrentos e inconclusivos, os EUA observam a queda de sua influência na região, enquanto o Iraque – cuja guerra custou US$ 1 trilhão e 4 mil vidas aos americanos – está cada vez mais instável. Ao mesmo tempo, o xiita Irã tem seus motivos para se preocupar com os militantes sunitas ameaçando Síria e Iraque, importantes aliados, e com os EUA retirando suas tropas do Afeganistão. Esta semana, o Irã se ofereceu para enviar ajuda militar, junto com os EUA, para o governo xiita em Bagdá – que enfrenta radicais sunitas.

Para alguns, os movimentos iranianos refletem o pragmatismo de seu novo governo, voltado para transformar o país em uma potência regional. Para outros, as ações de Teerã têm como objetivo estimular a complacência ocidental enquanto o Irã busca armas nucleares e apoia seus próprios jihadistas na região. Mas, com o Irã como ilha de estabilidade na região, não há muitas opções para Washington. Até mesmo iranianos fora do campo reformista consideram inegável a coincidência de interesses.

– Está claro que temos cada vez mais em comum com os americanos – disse Aziz Shahmohammadi, ex-integrante do Supremo Conselho de Segurança Nacional iraniano. – Nenhum país deveria ter inimigos eternos, nem nós, nem os EUA.

 

QUESTÃO NUCLEAR NO CAMINHO

O governo Obama reconhece que o Irã pode desempenhar um papel importante em assuntos do Oriente Médio, mas integrantes do alto escalão declararam que estão mantendo o foco nas negociações nucleares. Segundo eles, a cooperação em outros temas depende muito de chegar a um acordo sobre o programa nuclear iraniano.

Os EUA consideram que o governo iraniano tem poder para negociar sobre a questão nuclear, mas não acham que está claro se o presidente Hassan Rouhani tem autoridade para temas como a Síria – onde a Guarda Revolucionária tem vasta influência e oferece armas para o Hezbollah, num esforço para ajudar o governo de Assad.

O Irã tenta se mostrar como a voz da razão, destacando os vídeos de decapitações cometidas por insurgentes na Síria, por exemplo. Para especialistas, é possível que iranianos e americanos cooperem como em 2001, quando a Inteligência de Teerã passou informações aos americanos sobre os talibãs afegãos.

No entanto, a trégua representa riscos tanto para Obama como para Rouhani, que continuam vulneráveis a críticas de conservadores em seus países. No Irã, enquanto comentaristas e políticos da linha dura criticam a aproximação, analistas defendem que o país está seguindo uma estratégia inteligente, usando os EUA para minar o poder de seu maior rival regional, a Arábia Saudita.

– A cooperação habilidosa com a Rússia permitiu ao Irã que mudasse o jogo no Iraque e na Síria – disse Hooshang Tale, ativista nacionalista e integrante do Parlamento iraniano antes da Revolução Islâmica, em 1979. – Se usarmos bem nossas cartas, poderemos tirar vantagem tanto dos EUA como da Arábia Saudita.

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