Educação – Estilhaços da guerra chegam à escola

Ana Elisa Santana

O risco de morrer após receber ameaças na cidade onde morava, na Colômbia, fez com que o auxiliar de mecânico José Lister Mosquera se mudasse para o Brasil em 2002. Ele é um dos 43 milhões de refugiados que abandonaram os países de origem para fugir da violência, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). De acordo com a Unesco, as guerras civis travadas pelo mundo além das mortes e prejuízos financeiros, provocam danos à educação: cerca de 28 milhões de crianças e adolescentes ficam fora da escola, de acordo com o relatório A crise oculta: conflitos armados e educação, divulgado ontem.

Depois de quase nove anos longe de casa, José Mosquera conseguiu trazer o filho, André Felipe Mosquera, 17 anos, para estudar no Brasil. Ele esperou alcançar uma estabilidade financeira para conseguir dar ao adolescente a oportunidade que não teve; e afirma que, se pudesse, teria feito a mudança de André há mais tempo. “Aqui há mais facilidade para estudar. Lá é mais complicado por causa da violência”, acredita o auxiliar de mecânico. O documento da Unesco alerta para os impactos que os conflitos armados causam no processo de aprendizagem: segundo o relatório, muitos dos 160 países que se comprometeram com a resolução do problema, ao assinar o programa Educação Para Todos, não estão no caminho para cumprir a seis metas que devem ser atingidas até 2015. A organização defende a criação de uma nova lógica de distribuição dos recursos que reconheça a importância da educação em situações de emergência.

Apenas seis dias do total gasto pelos países ricos com armamentos seriam suficientes para preencher o deficit anual de US$ 16 bilhões do financiamento do Educação Para Todos. “Não é necessário dizer que não tem dinheiro para a educação, às vezes não é verdade que faltam recursos. São escolhas”, afirma o coordenador de Educação da Unesco no Brasil, Paolo Fontani.

No Brasil, afirma Fontani, não há conflitos armados, mas em alguns pontos é imposto o convívio com o tráfico de drogas, considerado um “conflito difuso”, que também tem efeitos negativos para as crianças. “Todas as incitações de violência, seja em guerras, seja em conflitos, seja uma violência urbana, têm um impacto muito forte no desenvolvimento psicofísico da criança, então, nesse sentido, também diminui a capacidade aprendizagem. Estratégias específicas têm que ser pensadas nesses casos”, acredita.

Trato feito

O documento foi assinado em 2000, durante a Conferência Mundial de Educação em Dacar, no Senegal, e tem os seguintes objetivos: ampliar a educação para a primeira infância, universalizar o acesso à educação básica, garantir o atendimento de jovens em programas de aprendizagem, reduzir em 50% as taxas de analfabetismo, eliminar as disparidade de gênero no acesso ao ensino e melhorar a qualidade da educação.

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