Em meio a pressão à Síria, Israel diz que não ratificará tratado contra armas químicas

Guila Flint

O Ministério das Relações Exteriores de Israel declarou que o país não pretende ratificar o tratado de não-proliferação de armas químicas, que assinou em 1993, enquanto países que não reconhecem sua existência possuírem esse tipo de armas.

"Outros países na região, que ameaçam destruir Israel, possuem armas químicas", justificou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Igal Palmor.

"Organizações terroristas, patrocinadas por esses países, também podem vir a utilizar armas químicas".

As declarações foram feitas em meio às negociações entre EUA, Rússia e Síria sobre a possibilidade de uma solução diplomática à crise na Síria, após o suposto ataque com armas químicas do dia 21 de agosto, que deixou cerca de 1.400 civis mortos perto de Damasco.

A Síria não é signatária do tratado. Como parte do plano diplomático para evitar um ataque americano à Síria como retaliação ao ataque do dia 21 de agosto, o governo sírio está sendo pressionado a assinar e ratificar o documento.

Outros quatro países também não assinaram o tratado – Angola, Coreia do Norte, Egito e Sudão do Sul. Assim como Israel, Mianmar assinou o tratado, mas nunca o ratificou.

Sem a ratificação do tratado pelo Parlamento, Israel de fato não se submeteu ao controle internacional de armas químicas e não se comprometeu a tomar medidas de acordo com o tratado.

Segundo o presidente russo, Vladimir Putin, "as armas químicas na Síria existem para que o país possa enfrentar o poderio militar de Israel".

Em relação às armas químicas, Israel mantém a mesma politica de ambiguidade que aplica sobre armas nucleares. De acordo com fontes estrangeiras, o país possui os dois tipos de armas, porém o governo não confirma e também não nega essas alegações.

Máscaras

No entanto, a população de Israel vive sob temor de ataques químicos desde a primeira Guerra do Golfo, em 1991, quando o país foi bombardeado por mísseis lançados pelo Iraque.

Naquela época, as autoridades alertaram que os mísseis iraquianos poderiam conter substâncias químicas e distribuíram máscaras antigás para toda a população.

Desde então, a maioria dos israelenses tem máscaras de gás em suas casas, e de tempos em tempos a população é convocada a ir aos centros de distribuição para trocá-las, quando vence a validade dos filtros.

Em cada situação de crise na região surge novamente o temor de um ataque químico e a população, que geralmente ignora a convocação de atualizar a validade das máscaras, sai correndo para os centros de distribuição.

Houve corrida por máscaras em 2003, antes do ataque americano ao Iraque, e também em 2011, quando havia rumores sobre um ataque iminente de Israel contra o Irã, após ameaças explícitas feitas por líderes do governo.

Após o ataque químico em Damasco e, em vista da possibilidade de um ataque americano contra a Síria, a população de Israel novamente correu para os centros de distribuição de máscaras antigás.

Durante duas semanas se formaram filas quilométricas nos centros e houve até incidentes de violência por parte de cidadãos ansiosos para receber as proteções faciais.

No entanto, nos depósitos do Comando da Retaguarda do Exército israelense restaram apenas 100 mil máscaras, enquanto 2 milhões de israelenses ainda não receberam o artefato.

Com o início das negociações entre os Estados Unidos, Rússia e Síria, a possibilidade de um ataque americano contra a Síria ficou mais remota, e as filas nos centros de distribuição diminuíram.

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