EUA reposicionam navios e aviões no Mediterrâneo para pressionar Kadafi

Jamil Chade

Os EUA e os países europeus alertaram Trípoli ontem que estão prontos para ir além de sanções econômicas para derrubar o líder líbio, Muamar Kadafi. Washington reposicionou navios e aviões de combate no Mediterrâneo e começou a coordenar com a Europa uma eventual ação militar para a crise. As potências ocidentais também anunciaram em Genebra o isolamento financeiro total do país.

Por enquanto, diplomatas admitem que as ameaças militares são instrumentos de dissuasão e fazem parte de uma campanha para convencer Kadafi a abandonar a Líbia imediatamente. "Kadafi não tem mais legitimidade e tem de sair agora, sem violência nem adiamentos", afirmou a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton.

Líderes de Washington, Bruxelas, Londres e Roma começaram ontem a falar abertamente em ações militares. Equipes aéreas e navais americanas foram deslocadas para os arredores da Líbia. "Nenhuma opção está fora da mesa", alertou Hillary, frase que em linguagem diplomática significa que um governo está considerando o uso da força. A americana explicou que o posicionamento das Forças Armadas estava relacionado com uma eventual operação humanitária e não havia planos de um ataque iminente.

Já o governo britânico admitia que poderia até armar os rebeldes para acelerar a queda de Kadafi. Os países europeus pretendem ainda estabelecer contatos diretos com os líderes rebeldes que controlam a maior parte do território líbio.

Enquanto Kadafi tenta sufocar a rebelião usando parte do Exército que se mantém leal a ele e mercenários africanos, ganha apoio entre a comunidade internacional o plano de aplicação de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia, como forma de evitar que o regime use sua aeronáutica para bombardear os rebeldes.

O chanceler italiano, Franco Frattini, declarou-se favorável à medida. Mas admite que ainda não há um consenso sobre como implementá-la. "Na prática, uma questão concreta se coloca: o que fazer quando um avião líbio violar a zona de exclusão?", questionou. A regra seria abatê-lo, o que faria eclodir um conflito internacional.

Roma diz-se pronta para assumir o risco. "Precisamos de uma decisão política e logística para fazer a proposta funcionar. Mas ainda assim acho que temos de manter essa opção", disse.

Hillary também disse que a proposta da zona de exclusão "é uma opção e está sendo ativamente considerada."

Serguei Lavrov, ministro russo de Relações Exteriores, no entanto, disse a Hillary que seu país se opõe à iniciativa. "Não há como aplicá-la", afirmou.

Diversos governos, incluindo o do Brasil, indicaram que não aceitarão solução unilateral para a questão do Norte da África e exigirão consultas multilaterais. "Não há como aceitar qualquer proposta unilateral", repetiu ontem a ministra de Direitos Humanos do Brasil, Maria do Rosário. "A proteção dos direitos humanos não deve servir de pretexto para ações unilaterais sem o apoio da comunidade internacional", afirmou a ministra.

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