Ataque de Israel na Síria é capítulo da longa ‘batalha secreta’ contra Irã

Jodi Rudoren e Isabel Kershner

 

Os ataques aéreos duplos em Damasco na sexta-feira e domingo , que foram atribuídos a Israel , parecem falar mais a respeito da batalha secreta de Jerusalém contra o Irã e o Hezbollah do que sobre a sangrenta guerra civil que aflige a Síria.

Apesar da preocupação com o futuro da Síria, os líderes políticos e militares israelenses afirmaram com firmeza que não têm interesse em entrar em um conflito com seu vizinho. Mas os ataques aéreos em armazéns militares e outras instalações militares sublinharam sua determinação em evitar com que armas avançadas caiam nas mãos do Hezbollah, a milícia xiita libanesa aliada ao Irã.

De acordo com especialistas em segurança, o aumento da frequência e intensidade dos ataques também demonstram o desejo de Israel para tirar proveito da situação, assim como seu cálculo de que a Síria, o Hezbollah e o Irã estão muito preocupados e enfraquecidos com o conflito que aflige a Síria para retaliar.

Mas muitos avisaram que havia risco de que os israelenses pudessem exagerar na dose, principalmente ao levar em conta a retórica inflamada com que Damasco, Teerã e Hezbollah reagiram: um forte contraste com o silêncio que seguiu alguns dos ataques anteriores.

Analistas disseram que não enxergaram os ataques aéreos como a abertura para uma nova frente de guerra, ou como uma tentativa de apoiar os rebeldes sírios contra o governo de Assad. Em vez disso, eles tendem a vê-los mais como uma extensão da longa "guerra de sombras" contra o Irã e o Hezbollah, com ataques terroristas e assassinatos que vêm se estendendo ao longo de décadas e em todo o mundo.

"Isso não deve ser visto como Israel tentando intervir em nome dos rebeldes ou contra Bashar", disse Jonathan Spyer, um pesquisador sênior do Centro Interdisciplinar em Herzilya. "Esta é mais uma etapa do conflito que nós já conhecemos: o conflito entre Israel e Irã".

Autoridades israelenses contatadas no escritório do primeiro-ministro, no comando militar e de defesa e nos ministérios estrangeiros se recusaram a discutir os ataques do domingo, seguindo rigorosamente um protocolo projetado para dar aos adversários tempo para evitar resposta. Mas agências de notícias citaram fontes israelenses anônimas, que confirmaram a responsabilidade de Israel.

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu partiu na noite de domingo para uma missão de seis dias à China, que muitos interpretaram como um sinal de que Israel não pretende intensificar sua campanha nos próximos dias – e nem espera um ataque sério.

Israel pode estar apostando na ideia de que o Hezbollah guarda seu poder de fogo no Irã para usar contra o Estado judeu se houver qualquer ataque por parte de Israel ou dos Estados Unidos em relação ao programa nuclear iraniano.

Mas as circunstâncias no terreno na Síria mudaram consideravelmente desde o ataque de Israel em janeiro a um comboio de mísseis russos SA-17. Esses ataques podem ter implicações mais amplas para a guerra civil e além.

"Esse é o tipo de coisa que você sabe como começa, mas não como termina", disse Eyal Zisser, especialista sobre a Síria e o Líbano na Universidade de Tel Aviv. "Israel ainda não está envolvido na guerra na Síria", acrescentou, "mas está se aproximando cada vez mais."

Emile Hokayem, analista do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, disse que os ataques sugerem que os israelenses enxergaram uma confluência de "necessidade operacional e conveniência estratégica".

"Os ataques enviaram uma mensagem clara ao Hezbollah e ao Irã de que sabemos que vocês possuem esses recursos e vamos atrás de vocês se tentarem alterar o equilíbrio militar", disse Hokayem.

Ehud Yaari, um analista de assuntos árabes para o canal de notícias israelense Channel 2 e pesquisador do Instituto Washington para a Política do Oriente Próximo, disse no domingo (5), que todos os alvos em Damasco eram controlados pelo Hezbollah (apesar dos relatórios de terreno terem indicado que cerca de 100 soldados sírios foram mortos , talvez inadvertidamente). Isso ressaltou a visão de que esses ataques foram parte da guerra de sombras contra o Irã e o Hezbollah.

Michael Herzog, um general de brigada aposentado e ex-chefe de gabinete do ministro da Defesa de Israel, disse ser mais provável que a resposta aos bombardeios venha na forma de um ataque aos interesses israelenses no exterior do que por mísseis disparados contra Tel Aviv a partir do norte.

Moshe Maoz, professor da Universidade Hebraica de Estudos do Oriente Médio, disse que o Irã era agora a figura fundamental em relação ao que pode acontecer a seguir. "Israel pode estar testando o Irã", disse Maoz. "O Irã é a chave. Se o Hezbollah receber luz verde do Irã para retaliar, ou a Síria, Israel não ficara parado. Isso poderia levar a uma guerra regional.”

 

 

 

 

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