O lado humanitário da Operação Ágata

Patrícia Comunello

JAGUARÃO, Brasil – Em vez de armas e blindados, corte de cabelo, atendimento médico e até passeio a cavalo. Esses foram alguns dos serviços oferecidos gratuitamente aos moradores de Jaguarão, no Rio Grande do Sul, em 18 e 19 de maio, durante a Ação Cívico-Social (Aciso) da Operação Ágata 8.

A Aciso (Ação Cívico-Social) é o braço humanitário das Forças Armadas na Ágata, uma das operações do Plano Estratégico de Fronteiras, lançado pelo governo federal em 2011. E Jaguarão, na fronteira do Brasil com o Uruguai, é uma das dezenas de cidades beneficiadas pela iniciativa.

A merendeira Maria Ester Silveira Mello, 52 anos, passou quatro horas com o marido, Dinarte Morais, 71, usufruindo de vários serviços na grande tenda armada no pátio da Escola Estadual Joaquim Caetano, na zona central da cidade.

“É muito bom ter o Exército aqui. Podia ficar mais tempo ou fazer mais vezes a ação”, disse Ester. “A gente não consegue ser atendido em postos de saúde ou no hospital. Aqui me chamaram em dois minutos.”

A Ágata 8, realizada entre 10 e 21 de maio, fez parte das ações de defesa pré-Copa do Mundo e mobilizou 30.000 militares, além do efetivo de segurança pública dos estados, da Polícia Federal, Receita Federal e Polícia Rodoviária Federal.

“É nossa missão institucional defender e assistir à comunidade, não só coibir o crime”, disse o General de Divisão Geraldo Miotto, Comandante da 3ª Divisão de Exército (DE).

O general explica que os serviços se ajustaram às demandas mais urgentes de Jaguarão, que tem pouco mais de 28.000 habitantes. Em 11 dias de Ágata 8, foram prestados cerca de 30.000 atendimentos médicos e odontológicos de norte a sul do país, segundo o Ministério da Defesa.

“Fizemos Aciso diariamente em algumas comunidades ao longo dos 16.866 km da fronteira terrestre do Brasil com dez países”, disse Miotto.

A Aciso em Jaguarão envolveu mais de cem militares do Exército e da Marinha em cuidados de saúde, lazer, manutenção e limpeza de locais públicos.

“Estamos aqui para ajudar as pessoas. A maioria não vai ao dentista há muito tempo ou nunca foi”, constatou o aspirante a oficial dentista Manuel Rieth, desde 2009 no Exército.

Ele e mais quatro colegas fizeram 175 procedimentos odontológicos em Jaguarão, distante 348 km de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul.

A estudante Tarsila Raquel Dias Corrêa, 9, estava ansiosa para ocupar a cadeira do dentista.

“Isso é novidade. A maioriar quer ficar bem longe”, brincou Rieth, que advertiu: “Não adianta vir aqui e depois não usar fio dental.”

Eva Eni, 72, conduziu o marido, o padeiro aposentado Vanderlei Rodrigues, 74, pelo braço até a escola. Ele achou que era apenas um passeio, mas o plano dela era levá-lo para um check-up.

“Meu marido sempre foge de exames”, entregou Eva aos militares.

Ao detectar que o aposentado tem taxa alta de glicose, a Terceiro Sargento e técnica de enfermagem Sabrina da Silva Araújo avisou que o destino dele seria uma conversa com o clínico.

“Agora não tenho como escapar”, rendeu-se Rodrigues.

Sentado à frente do aspirante a oficial médico Maurício Perez Zeni, ele listou queixas.

“Doutor, parece que minha glicose está alta, mas tomo remédio. Também tenho asma e sinto dores nas costas”, disse Rodrigues, um dos 144 atendimentos médicos nos dois dias da Aciso em Jaguarão.

No barbeiro, Ariane Calvetti Martinez, 8, desferiu um olhar desconfiado para Davi Coelho, 57, barbeiro há 16 anos dos militares do 12º Regimento de Cavalaria Mecanizada, de Jaguarão.

“Pensava que barbeiro só cortasse cabelo de homem, mas gostei do resultado”, disse a garotinha, dando um abraço de despedida em Coelho.

“Não tem preço ver o sorriso dessas crianças”, resumiu o barbeiro, que junto com o filho Rodrigo, 32, foi campeão entre todos os atendimentos prestados na ação local. Juntos, eles fizeram 220 cortes.

O fluxo de pessoas foi intenso nos dois dias, com mais de 1.200 atendimentos, jogos na quadra de esportes e até passeios a cavalo.

“São comunidades muito carentes que precisam da nossa ajuda”, diz o Vice-Almirante Leonardo Puntel, Comandante do 5º Distrito Naval, com sede em Rio Grande. “Esse trabalho mostra outro lado da atuação da Marinha, por exemplo. Muitos acham que nós ficamos só no litoral.”

Apreensões de drogas

A cidade é cortada pelo Rio Jaguarão. Do outro lado da margem, fica Rio Branco, no Uruguai, onde freeshops atraem turistas brasileiros diariamente. Na Ponte Mauá e nas rodovias que ligam as duas cidades, cerca de 1.000 homens do Exército se revezaram dia e noite em barreiras de fiscalização da Operação Ágata 8.

No Rio Jaguarão, lanchas motoaquáticas da Marinha fizeram vigilância.

A Ágata 8 apreendeu 40 t de drogas em 11 dias de Norte a Sul do país, segundo balanço do Ministério da Defesa, volume 53% superior às 26 t apreendidas na Ágata 7, em maio de 2013, mas que durou 19 dias.

Segundo o Ministério, a maior parte do entorpecente (39,5 t de maconha) teria como destino mercados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Em uma barreira da Polícia Rodoviária Federal em Dourados, no Mato Grosso do Sul, 15 t da droga foram flagradas em um caminhão com destino a São Paulo.

Principais números do balanço da Operação Ágata 8:

 

  • 40 t de drogas apreendidas;
  • Mais apreensões: 206 barcos, 126 automóveis, 28 armas e 58 metros cúbicos de madeira ilegal;
  • 122.428 veículos e 7.776 embarcações inspecionadas;
  • Mais de 20.000 pessoas revistadas.

Ação Cívico-Social (Aciso)

 

  • 12.443 atendimentos médicos e 16.655 odontológicos;
  • 226.346 remédios distribuídos;
  • Manutenção de 62 km de trechos de rodovias e reparos em 104 instalações públicas.

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