Brasiguaios apoiam volta de colorados no Paraguai

 

Roberto Simon


Um dos grupos mais poderosos do Paraguai, os grandes produtores rurais "brasiguaios" do Alto Paraná estão comemorando o provável retomo do establishment político em Assunção nas eleições presidenciais do próximo domingo, menos de um ano após a queda de Fernando Lugo.

Se, em 2008, a vitória do bispo ligado a movimentos sociais rompeu pela primeira vez a hegemonia histórica do Partido Colorado, pesquisas indicam que o poder deve voltar para as mãos da legenda conservadora.

O Estado conversou com vários agricultores e pecuaristas brasileiros instalados há décadas no país, os quais deram amplo apoio à destituição de Lugo pelo Congresso, em junho. Os brasiguaios – comunidade estimada hoje em 500 mil pessoas -apoiam em massa o colorado Horácio Cartes contra o rival liberal Efraín Alegre e acreditam que mesmo uma improvável vitória do Partido Liberal não trará de volta a onda de invasões de terra que marcou a era Lugo.

Os grandes agricultores e pecuaristas brasileiros acusavam o bispo reformado de acobertar e até patrocinar movimentos de agricultores que contestam direitos de propriedade rural de estrangeiros.

Alçado ao poder após o impeachment relâmpago do presidente, em junho, o liberal Federico Franco, em seu primeiro dia no cargo, mandou um avião buscar empresários brasiguaios em Ciudad dei Este e levá-los a Assunção para mostrar que, embora o governo Dilma Rousseff não o apoiasse, a poderosa comunidade estava do seu lado. "Quase todo mundo aqui está apoiando o Cartes", afirma Francisco Mesomo, brasileiro de 65 anos, que no fim dos anos 70 comprou uma pequena propriedade no Paraguai para cultivar hortelã e, hoje, é um dos grandes produtores de sojae milho. Ele tem filhos e netos nascidos no Alto Paraná.

Embora Alegre tenha sido ministro de Obras e Infraestrutura de Lugo, a maior parte dos brasiguaios acredita que mesmo uma vitória dos liberais não impulsionaria os movimentos de sem-terra, principalmente os chamados "carperos", caracterizados pelas barracas de lona. "A situação das invasões de terra melhorou 90% desde que Franco chegou ao poder", segundo outro produtor, "e isso não vai mudar".

Os grandes empresários rurais brasiguaios se uniram nas últimas semanas em uma nova batalha política: um projeto de lei que impõe 10% de imposto sobre a exportação da soja.
O Paraguai é o quarto maior vendedor de soja do mundo. Depois de o Senado aprovar a medida, líderes da comunidade brasileira organizaram uma "marcha" à Assunção para pressionar a Câmara a derrubar o projeto de lei, o que ocorreu na semana passada. Tanto Gartes quanto Alegre se disseram contrários à nova taxa aos exportadores, embora o candidato colorado tenha sido mais duro nas críticas.

Fernando Schuster, brasiguaio que encabeça a lista de candidatos a deputado do Partido Colorado pelo Alto Paraná, afirma que Cartes, além de ter prometido vetar a taxação da soja, consolidará a "segurança jurídica" contra as invasões de terra. "Há ainda cerca de 30 ordens de desalojamento que não foram cumpridas. Cartes vai cuidar disso, elé está do nosso lado."

Para o sociólogo e analista político José Carlos Rodríguez, as eleições do domingo são um "retorno" ao quadro que existia antes da vitória de Lugo, mesmo se o liberal Alegre vencer. A chegada do bispo ao poder, em 2008, só foi possível em razão da aliança que ele selou com o Partido Liberal. A ruptura dessa parceria, no ano passado, levou à derrocada do presidente, que ficou sem apoio no Congresso.

"Não importa quem ganhar, o discurso progressista de Lugo agora faz parte do passado", afirma Rodríguez. O candidato da Frente Guasú, do ex-presidente, está em quarto lugar na disputa. Lugo, mais discreto no noticiário, tenta uma vaga no Senado.

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