A Guerra Fria é transportada pelo marketing do governo para dentro do Brasil.

 

Júlio Ottoboni
Exclusivo DefesaNet


A estratégia do marketing da militância do PT para encobrir as graves crises institucionais provocadas pela rejeição ao governo de Dilma Rousseff , e a crise econômica nacional, foi recriar o estado de “Guerra Fria” dentro do Brasil. Essa é a conclusão de vários analistas de estratégia política e militar que acompanham os últimos enlaces da crise institucional brasileira e influências e repercussões externas.  

Além de usarem minorias nos movimentos de rua que pediam a intervenção militar ou a volta dos militares ao poder, passaram a propagar pelas redes sociais uma contra ofensiva aos contrários ao governo e ao PT.  Os termos ‘ golpistas’, ‘extrema direita’, ‘imperialistas’ e ‘intervenção estrangeira’ na soberania nacional ganharam uma nova roupagem nos discursos da militância destacada pelos integrantes do governo federal contra a onda de protestos.

A situação ganhou, num primeiro instante, um certo ar de deboche por parte da oposição ao governo Dilma Rousseff (PT). Mas como o tom de agressividade subiu, incluindo lideranças petistas de dentro do Congresso Nacional e do governo federal, como o ministro Rossetto, novos elementos surgiram de última hora e passaram a escancarar um processo que pode se transformar num conflito de proporções continentais, já que Venezuela, Cuba, Bolívia e setores mais exaltados de esquerda do Uruguai e Argentina adentraram e assumiram o discurso do marketing do governo brasileiro e a extrema retórica venezuelana do governo Nicolas Maduro.

O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), comentou nas redes sociais que a CIA tem atuado nas tentativas de desestabilização de governos democráticos na América Latina. O comentário indigesto para as relações já um tanto abaladas com o principal parceiro comercial do Brasil, os Estados Unidos, que carrega um histórico de grandes interferências nos cenários políticos, bélico e espacial da América Latina.

O cientista político e historiador Luiz Alberto de Vianna Moniz Bandeira, criador da Teoria do cerco americano ao Brasil na década passada,  reforçou as denúncias do líder petista nesta semana. Segundo ele, os Estados Unidos tem destacados organismos de inteligência e espionagem como a Agência Central de Inteligência (CIA), NSA (Agência Nacional de Segurança) e inclusive ONGs ligadas a essas entidades não só para colher informações, mas para buscar “desestabilizar governos de esquerda e progressistas da América Latina, como os da Venezuela, Argentina e Brasil”.

Um novo ingrediente veio com uma matéria no jornal A Crítica, de Manaus, o maior do Norte do país, que publicou: “autoridades militares do País receberam com estranhamento informação de que a China pretende treinar tropas no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), em Manaus”. A desconfiança não está no interesse pela unidade, que já recebe militares de outras nações. O senão está no contato que a China usou com o ministro da Defesa, Jaques Wagner, o embaixador Li Jinzhang,  ao anunciar que seria indicado um novo adido militar chinês no Brasil, e no posto de general, fato raro nas relações entre os países”.

Nota DefesaNet – Os analistas não estavam acostumados com a nomenclatura chinesa que tem um posto, que podemos chamar de “Full” Coronel, que indica que geralmente deverá ser promovido a general. É um status um pouco mais amplo que o adotado no Brasil com os Coronéis com Curso ECEME / ECEMAR e EGN.

A região da Panamazônia é composta por 8 países e uma colônia, inclui hoje aliados ideológicos do governo petista, como a Venezuela e Bolívia. A Amazônia tem diversos clusters de estudos e pesquisas de países estrangeiros, muitos deles dentro do território brasileiro e violando a soberania nacional. Isso tem se intensificado nas últimas décadas.

Em 1993, o Brasil promoveu a primeira grande operação conjunto em Roraima, batizada como Surumu, depois que pelo território venezuelano os Mariners norte-americanos não só invadiram as fronteiras brasileiras como estiveram muito próximos da capital Boa Vista. A partir de então as forças armadas brasileiras tem efetuado operações conjuntas entre Exército, Marinha e Aeronáutica na região.

A movimentação pela internacionalização da Amazônia foi reacesso. Principalmente depois das escolhas da senadora Katia Abreu, conhecida como uma das lideranças na expansão da fronteira agrícola sobre a floresta e do ministro de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, que não reconhece os efeitos do aquecimento global e muito menos da influência da floresta no clima do planeta, ambas consideradas desastrosas e péssimas escolhas tanto no meio científico como diplomático estrangeiro.

Outro reforço dado aos argumentos de internacionalização da Amazônia veio do Congresso Nacional, por meio da bancada ruralista da Câmara, que obteve duas vitórias nesta semana. A primeira foi a instalação da comissão para aprovar a PEC 215/2000.

A proposta busca transferir para o Congresso a responsabilidade de demarcação das terras indígenas e é criticada pelas entidades de defesa dos direitos indígenas, diversas delas internacionais e ligadas a soberania dos povos. Se aprovada, a medida tira o poder da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) sobre a prerrogativa de pedir ao Executivo a demarcação das áreas. O que paralisaria mais de mil pedidos de novas áreas para demarcação. Isso ficaria sob custódia do Congresso Nacional.

Outra informação que corre ha poucos dias nos bastidores e junto a setores de inteligência estratégica é que já na primeira reunião deste ano, o ministro da defesa da Rússia, Sergei Shoigu, destacou que haverá manobras militares conjuntas com Cuba, Coréia do Norte, Vietnã e Brasil.  Há exatos um ano,  Shoigu, disse que seu país está pensando em expandir sua presença militar em vários países, incluindo a Venezuela, Cuba e Nicarágua, segundo informações da agência de notícias russa RIA Novosti.

De acordo com o informe da agência, Shoigu disse que a lista de lugares onde as negociações estão mais avançadas para o aumento da presença militar russa inclui Vietnã, Cingapura e Seicheles. Shoigu disse que o objetivo russo era fazer com que suas Forças Armadas possam usar bases militares, portos e aeroportos em lugares estratégicos no mundo, para missões de patrulha internacional.

A resposta veio pela  diretora do Centro de Políticas de Defesa e Segurança do centro americano de pesquisas RAND Corporation, Olga Oliker. Para ela a ideia da Rússia é expandir sua influência global.

"Me parece interessante que entre os países mencionados estão nações na América Latina, Ásia e Oriente Médio. Isso é realmente sobre um papel mais global da Rússia, que já sabemos que ela quer ter, e não é surpreendente. Mas é uma confirmação", diz ela a agência de noticias inglesa BBC.

Um influente integrante do PT paulista, que pediu para não se identificar, confirmou que o partido acredita realmente na intervenção norte-americana nas manifestações para derrubaram a presidente Dilma, inclusive no surgimento de pedidos de golpe militar.

“Na onda vieram os demais golpes militares em toda a América latina patrocinados pelos Estados Unidos via CIA, derrubando todos os governos eleitos pelos povos latino-americanos, incluindo Allende, de esquerda e legitimamente eleito nos conformes da democracia concebida pela burguesia”, observou.

“Agora , depois da descoberta do pré-sal, da formação do Brics, da criação da UNASUL, e de eleições de políticos com compromissos populares há mais de dez anos os mesmos velhos interesses da casa grande daqui e do norte se levantam para destituir governos eleitos da América Latina. Foi assim com Chávez, com Cristina Kirchner  e aqui, agora, no segundo governo eleito da Dilma. Está claro que a maioria dos países da América do Sul saiu da órbita estadunidense e que, no que se refere a  nós, o pré sal, por enquanto, está longe das mãos internacionais”, concluiu.

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