Embraer vai tomar pulso do mercado em Farnborough

João José Oliveira

A Embraer vai triplicar o investimento numa das maiores feiras da aviação realizada na Europa para aumentar sua exposição ante clientes dos segmentos da aviação executiva, comercial e militar. Executivos da empresa dizem que o Salão de Farnborough, na Inglaterra – ao lado do evento de Le Bougert, na França, o maior do setor – será determinante para checar mais sinais de recuperação da demanda, ampliar os contatos comerciais e ampliar a lista de encomendas da empresa. "A feira vai ser importante para checarmos sinais de recuperação", disse o diretor de vendas da Embraer Aviação Executiva, José Eduardo Costas.

"Os preços se estabilizaram no mercado de aeronaves usadas, o que é um sinal de recuperação. Mas ainda é um quadro instável, por causa das incertezas", disse o executivo ao Valor, quando perguntado sobre um horizonte em que enxerga a retomada do ritmo de vendas no segmento. "Ainda há incertezas que levam os empresários e executivos a serem mais cautelosos", afirmou, citando a recente decisão do Reino Unidos, em plebiscito, de deixar a União Europeia. "Isso já foi o suficiente para gerar dúvidas", disse.

Em 2015 a quantidade de aviões executivos vendidos em todo o mundo somou 706 unidades, em linha com as 705 de 2015, acima dos 673 de 2013, mas ainda muito abaixo dos 1.315 jatos para fins particulares vendidos em 2008. O diretor afirmou que ainda há obstáculos à retomada das vendas na avião comercial fora da Europa. Ele citou o ainda baixo crescimento econômico na China em relação a nos anteriores, recessão no Brasil e mesmo cautela entre os americanos.

O executivo classifica a conjuntura atual um momento de transição no setor, em que novas famílias de aeronaves convivem com o fim de ciclo de alguns modelos. "Em nosso caso, temos um novo portfólio, e isso tem nos ajudado nessa conjuntura", disse Costas. Ele citou números para sustentar sua tese, dizendo que a Embraer teve consistente taxa de crescimento de 21% ao ano de 2002 a 2015, tendo aumentado de 2,7% para 17% de taxa de participação nas aeronaves entregues nesse segmento de mercado.

Os Estados Unidos têm dois-terços da frota mundial de 20 mil jatos executivos, por isso, Costas acredita que parte da retomada das vendas nesse segmento será inicialmente alimentada pelos clientes americanos. "Se eles crescerem [PIB] pouco mais de 1% pode parecer pouco, mas como o mercado é gigantesco é o suficiente para aquecer o mercado".

Lembrou que o potencial na China segue relevante, mas que a velocidade da demanda depende de uma regulação e infraestrutura que dê segurança para que os clientes daquele país possam investir nesse segmento. Essa área representou 30,3% da receita líquida da empresa entre janeiro e março – último balanço disponível -, com R$ 1,53 bilhão em vendas. Foram 23 entregas, ante 30 de outubro a dezembro de 2015.

No segmento de defesa e segurança, a Embraer já abriu negociações com potenciais clientes para o novo cargueiro militar com governos de países da Europa, África e Ásia, disse o presidente da Embraer Defesa & Segurança, Jackson Schneider. Ele afirmou que espera ampliar negociações durante e depois de Farnborough, que acontece a cada dois anos. Antes de expor o KC-390 na feira, fará voos de demonstração da aeronave.

Um país já confirmado é Portugal, onde a Embraer tem a unidade industrial de Évora. Ali, partes do KC-390 são montadas, como as asas. Schneider não adiantou que outros países devem receber o cargueiro antes e depois de feiras na Europa, na África e na Ásia. "Temos recebido muitas demandas de perguntas sobre os testes; alguns países já visitaram a Embraer, em Gavião Peixoto", disse.

A Embraer tem quatro protótipos d KC-390, o maior avião já desenvolvido pela companhia. Enquanto dois deles estão fazendo teste de voo, os outros dois estão sendo usados para os testes em solo. O executivo disse que os testes feitos somam 320 voos em 8 meses. "Esse mercado é relevante e acreditamos que podemos ter uma fatia relevante nesse mercado. Não posso adiantar uma projeção desses números porque no mercado de defesa há menos previsibilidade do que o segmento comercial, por exemplo", afirmou.

No primeiro trimestre, conforme o último balanço disponível, a unidade de defesa e segurança respondeu por 14,7% da receita líquida total da companhia, que foi de R$ 5,05 bilhões no período.

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