Comandante da Aeronáutica detalha planos para os 100 anos da FAB

Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo Luiz Rossato, assinou nesta quinta-feira (21/01) a Diretriz do Comando da Aeronáutica (DCA 11-45) que projeta como será o futuro da instituição. A “Concepção Estratégica – Força Aérea 100” delineia objetivos e principais desafios que a Força Aérea Brasileira (FAB) deve alcançar nos próximos 25 anos. Em 2041 a FAB completará cem anos.

Entre as metas está a qualificação dos profissionais do Comando da Aeronáutica. Segundo o Comandante, o militar da FAB em 2041 deverá ser “de alta capacitação operacional e administrativa, sendo referência para outras instituições da área governamental”.

Leia a seguir:

Agência Força Aérea – Qual deverá ser o papel da Força Aérea Brasileira em 2041?
Comandante da Aeronáutica – O papel da Força Aérea Brasileira será o mesmo que temos hoje, ou seja, manter a soberania do espaço aéreo com vistas à defesa da pátria. Certamente os meios aéreos, a interoperabilidade, a capacidade de comando e controle, a estrutura organizacional e o perfil de qualificação dos militares terão o benefício da evolução normal das diversas áreas do conhecimento.

Agência Força Aérea – Nas últimas décadas, os principais conflitos mundiais deixaram de ser travados entre Estados e passaram a ter como atores grupos nacionais ou transnacionais. O que isso significa no planejamento do futuro de uma força aérea?
Comandante da Aeronáutica – Não visualizo este cenário para nosso país. O pensamento unificado de que todos somos brasileiros e a união existente de Norte a Sul e de Leste a Oeste nos permitem pensar que não sofremos com problemas que existem em outras áreas do planeta. Temos, sim, que nos precaver das ameaças externas, pela cobiça que despertam nossas riquezas e nossas imensas áreas de vazio demográfico.

Agência Força Aérea – Uma situação comum nos últimos anos tem sido o uso de meios da FAB para atender à população em situações de crise, como no caso de enchentes, epidemias, queimadas e secas. Qual a visão do emprego da Força Aérea, no futuro, neste tipo de missão?
Comandante da Aeronáutica – Certamente não apenas continuaremos a cumprir este tipo de missão, como serão incrementadas. A carência de outros meios de transporte, as distâncias e a rapidez no atendimento por via aérea tornam a Força Aérea corresponsável na solução de problemas que estão dentro de seu alcance. Este tipo de missão faz, também, com que a população perceba a Força Aérea como sua protetora, não apenas contra ameaças externas, mas também para situações que precisam da intervenção do Estado.

Agência Força Aérea – No tocante aos meios aéreos, quais as perspectivas para os próximos 25 anos?
Comandante da Aeronáutica – Nossa Força está em processo de modernização e substituição de seus meios. Muitas mudanças já foram efetivadas como a implantação das aeronaves A-29 Super Tucano, AH-2 Sabre e H-60 Black Hawk. Outras estão em processo de recebimento, como o SC-105 Amazonas, H-36 Caracal e IU-50 Legacy 500. A modernização do caça F-5 está sendo finalizada e a do A-1 está em andamento. Entretanto, as modificações mais expressivas ocorrerão nos próximos anos com o recebimento do KC-390 e do F-39 Gripen, sendo que estas duas aeronaves constituirão a linha mestra de nossa aviação de transporte e caça. Embora costumemos falar muito em aviões, os tempos modernos têm novos atores no espaço como satélites e aeronaves remotamente pilotadas. As Forças Armadas precisam urgentemente incorporar estes meios em suas atividades militares e, por razões de afinidade, cabe ao Comando da Aeronáutica a iniciativa desta responsabilidade.

Agência Força Aérea – A FAB já tem em operação plena o seu primeiro esquadrão de Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP), hoje responsáveis por missões de reconhecimento. Qual a projeção para ampliar esse novo tipo de aviação na FAB? Podemos estimar para quando o uso, por exemplo, ARP em missões como ataque e patrulha marítima?
Comandante da Aeronáutica – Cinco anos atrás a FAB visualizou a importância das aeronaves remotamente pilotadas e criou o Esquadrão Hórus [1º/12º GAV, sediado em Santa Maria – RS]. Entretanto, esta unidade tem como missão fundamental o desenvolvimento doutrinário utilizando as aeronaves Hermes 450 e Hermes 900, envolvendo não apenas o Comando da Aeronáutica, mas também as Forças irmãs. Foram elaborados os requisitos para um ARP conjunto e estabelecido um conceito de emprego que irá beneficiar as três Forças, como também outros parceiros que necessitam este tipo de equipamento. No momento, o andamento do programa depende da alocação de recursos financeiros.

Agência Força Aérea – Os caças F-5 completam, em 2016, 41 anos de serviço ativo na FAB. Caso tenha a mesma história operacional do F-5, o Gripen NG – cuja previsão para recebimento da primeira unidade é 2019 – deverá voar até 2060. O mesmo pode ocorrer com vetores como o KC-390. Há um planejamento para a operação de longo prazo desses vetores?
Comandante da Aeronáutica – O F-5 presta um excepcional serviço à Força Aérea e tem potencial para permanecer em serviço por pelo menos mais dez anos. Outras aeronaves têm a mesma folha de bons serviços com o T-25 Universal, H-1H e C-130 Hércules, todos com mais de quarenta anos em atividade. O potencial e expectativa que temos em relação ao F-39 Gripen e KC-390 é que atendam à Força Aérea por um longo período.

Agência Força Aérea – O senhor acredita que o Gripen NG será o último caça tripulado da FAB?
Comandante da Aeronáutica – O assunto é muito discutido por aviadores e especialistas da área aeronáutica. Tem mais valor emocional do que prático, uma vez que tudo depende da evolução das tecnologias. Eu penso que a tecnologia tem auxiliado muito no trabalho que era feito, no passado, totalmente pelo tripulante. Mas o ser humano é a máquina mais perfeita que existe e não será descartada com tanta facilidade.

Agência Força Aérea – A FAB tem ampliado o leque de atuação de suas aeronaves, boa parte por suas capacidades multifunção. É o caso dos P-3AM Orion, aeronaves de patrulha marítima capazes de realizar atividades de reconhecimento, ou o H-60, que levou a Aviação de Asas Rotativas para um novo patamar operacional, atuando inclusive como vetor de defesa aérea. Como a FAB planeja o futuro das suas unidades aéreas? O futuro é a multifuncionalidade?
Comandante da Aeronáutica – Esta multifunção está mais afeta aos caças de gerações mais novas como será o caso do F-39 Gripen. Outras aeronaves, como o C-130, o P-3 e os helicópteros, sempre foram usados em diversos tipos de missões desde que equipados adequadamente. Dentro deste conceito de adaptação dos meios ao cumprimento da missão, quando desativarmos os T-25 e, posteriormente, os T-27 Tucano na instrução primária e básica de nossos pilotos, acredito que usaremos um único avião, como já se torna usual em outras Forças Aéreas.

Agência Força Aérea – E em termos de estrutura? Quais as perspectivas em termos de mudanças estruturais da Força Aérea? A distribuição das Bases Aéreas no território, por exemplo, pode ser alterada nos próximos 25 anos?
Comandante da Aeronáutica – Estamos divulgando a Concepção Estratégica da Força Aérea 100, ou seja, de quando a Força completar cem anos. Junto com este documento, estamos finalizando também a revisão do PEMAER (Plano Estratégico Militar da Aeronáutica) onde estão sendo aplicados conceitos de acordo com a capacidade que queremos da Força nos anos vindouros e adequando a estrutura, quantificação de pessoal, meios aéreos, número e localização das bases para atender esta visão de futuro.


Agência Força Aérea – Como o senhor avalia a gestão de conhecimento para a estruturação da Força Aérea do futuro?
Comandante da Aeronáutica – É indispensável, básico, que trabalhemos nesta área sob o risco de não conseguirmos avançar em nossos planos. Para aumentarmos nossa produtividade, otimizar nossos recursos em proveito da atividade fim, que é a “garantia da soberania do espaço aéreo com vistas à defesa da pátria”, precisamos ter uma revolução em nossos métodos de trabalho, na melhoria dos processos, na capacitação do pessoal e no uso de TI (Tecnologia da Informação).

Agência Força Aérea – E a política de pessoal? Que tipos de mudanças podemos ver nos próximos 25 anos?
Comandante da Aeronáutica – Racionalização do efetivo decorrente de uma estratégia de articulação que priorize as necessidades de treinamento e as demandas de emprego, buscando valorizar as características básicas de uma Força Aérea, como medidas práticas a concentração das unidades aéreas e uso de bases de desdobramento. A maior atenção à gestão do conhecimento pela concentração das atividades administrativas e implantação de processos modernos; o uso de PPP [Participação Público Privada] e EP [Empresa Pública] também contribuirão para a otimização e redução do efetivo.

Paralelamente, será implementada a quantidade de pessoal temporário tanto de graduados quanto de oficiais. Esta mudança de perfil permitirá receber profissionais prontos para trabalhos específicos e possibilitará dar maior atenção, oportunidades e capacitação aos militares de carreira. Esta nova visão da Força exigirá também mudanças nos perfis de formação de graduados e oficiais de carreira, adequando-os aos novos conceitos operacionais e administrativos.

Agência Força Aérea – Como deverá ser o militar da FAB em 2041?
Comandante da Aeronáutica – De alta capacitação operacional e administrativa, sendo referência para outras instituições da área governamental. Com visão ampla da missão da Força Aérea e sua inserção na estrutura pública e social brasileira. Deverá ter capacidade de se manter atualizado em diversas áreas, como TI e línguas estrangeiras. Terá condições plenas de operar de forma integrada com agências governamentais e Forças Armadas nacionais ou estrangeiras.


 Agência Força Aérea – O que baseia os planos do projeto Força Aérea 100? Há exemplos de outras Forças Aéreas?
Comandante da Aeronáutica – Fundamenta-se na análise do histórico e da conjuntura da FAB. A partir desta análise foi apresentado um diagnóstico da Força Aérea e uma visão prospectiva com as propostas a serem implementadas. Estas propostas, onde predominam o uso de TI, comando e controle centralizado, estrutura de apoio simplificada, mobilidade, armamento inteligente e meios aéreos com condições de fazer frente a qualquer ameaça são uma tendência mundial e já foram ou estão sendo aplicadas em diversas forças aéreas.

Agência Força Aérea – Todos os planos da FAB estão condicionados à disponibilidade de recursos enviados pelo governo federal. Qual a estratégia para assegurar o fluxo financeiro necessário para a realização dos planos propostos?
Comandante da Aeronáutica – A concretização dos planos da Força Aérea, assim como da Marinha e do Exército, depende de recursos do governo federal. Há necessidade de conscientização da sociedade em geral, do Congresso Nacional e dos diversos órgãos do governo para a importância da Força Aérea na defesa da pátria e do inestimável apoio que presta à sociedade em épocas de normalidade.

O Brasil, com sua grande dimensão, fronteiras vulneráveis e extenso litoral, precisa de Forças Armadas compatíveis para sua proteção. Se não tivermos os meios adequados para defendermos nossos interesses, nossas riquezas, nossa integridade e nosso povo, não cumpriremos nossa missão e colocaremos nossos militares em posição de vulnerabilidade. Destaco que, na guerra moderna, a capacidade de dissuasão fundamenta-se prioritariamente no poder aéreo. Além disso, qualquer agressão ao nosso País começará pela tentativa de destruição dos meios aéreos e sua infraestrutura para obter a supremacia aérea e a partir daí ameaçar todas as estruturas do país.

Entretanto, todos nós, homens e mulheres do Comando da Aeronáutica, não devemos adotar uma posição passiva, à espera unicamente que o governo nos repasse os recursos que precisamos. Podemos e devemos pôr em prática o plano da Força Aérea de otimizar os recursos de que dispomos, ou seja, fazer nossa parte, por em prática a “Concepção Estratégica Força Aérea 100”.

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