FAB treina atiradores de precisão para as forças de segurança

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Patrícia Comunello


Os atiradores de precisão do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE) da Polícia Militar do Rio Grande do Sul estão sempre preparados para prestar segurança. A equipe especializada do GATE também foi acionada nos cinco jogos da Copa do Mundo de 2014 disputados no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre.

“Os atiradores passam completamente despercebidos, ficam em posição privilegiada e não têm só a função de atirar, mas de prover informações”, diz o comandante do GATE, Capitão Glênio Argemi Filho.

Os homens comandados pelo Capitão Argemi foram formados no Curso Tático de Precisão, do Batalhão de Infantaria da Aeronáutica Especial de Canoas (BINFAE-CO), situado na área do V Comando Aéreo Regional (V COMAR). O Batalhão de Canoas é a única organização da Força Aérea Brasileira (FAB) que fornece o treinamento, preparando militares da FAB e de outras agências de segurança, como as Polícias Militares dos estados, o Núcleo de Operações Especiais da Polícia Rodoviária Federal e o Grupo de Pronta-Intervenção da Polícia Federal.

O curso começou em 2002 e teve a nona turma entre 9 e 27 de março. Segundo a FAB, apenas um treinamento está previsto para este ano. A Aeronáutica não informa o número de homens já formado, por questões estratégicas e de sigilo. Dos 21 alunos que começaram a última preparação, sete não concluíram.

“Eles [os outros sete] foram desligados por não atingirem a pontuação mínima prevista”, diz o coordenador do curso, o Primeiro-Tenente de Infantaria da FAB Daniel Alberto Bauer Pereira. “O treinamento é bastante exigente, os participantes são avaliados a cada atividade e os níveis de acerto precisam ser próximos a 100%.”

Além da característica técnica de ser um bom atirador, quem busca a formação tem de conhecer rotinas básicas de infantaria, ter conhecimento de patrulha, sobrevivência, camuflagem, armamentos, navegação, cartas topográficas e uso de GPS. Os formados podem atuar na defesa de bases aéreas, em policiamento, segurança de autoridades e controles de tumultos e ações diretas.

A importância da colaboração

A estrutura usada para o treinamento inclui o estande de tiro da Base Aérea de Canoas (BACO), para alvos denominados P4 (formato de uma pessoa) a até 100 metros de distância. “É preciso acertar em um ponto específico da cabeça para que o inimigo caia sem fazer movimento”, orienta o Primeiro-Tenente Pereira.

Outras instalações da Base Aérea e do V Comar são usadas para exercícios de observação. No campo de instrução de Butiá, pertencente ao Exército Brasileiro (EB) e distante cerca de 80 km da Base de Canoas, são executados tiros de até 800 m, além de caçadas e infiltrações.

“Utilizamos a própria vegetação como recurso de camuflagem como se fosse uma missão real”, explica.

Um componente essencial do treinamento de tiro é a colaboração. Algumas das tarefas mais importantes que os militares realizam durante o treinamento são feitas em duplas, com um sniper (atirador) e um spotter (observador). O sniper – o mais experiente dos dois – carrega o fuzil de precisão (como o 762) e dispara. O spotter faz todos os cálculos – desde elevação, vento, tiro em cano frio, umidade e temperatura – que ajudarão o sniper a atingir o alvo com precisão.

“O observador fica atento ao tiro e o corrige se for necessário”, diz. Usando um fuzil de assalto, como o SIG 5,56 ou o HK-33U, o observador verifica o equipamento. Membros dessas equipes se revezam: os observadores são treinados para ser atiradores e vice-versa.

“O spotter é a outra asa do anjo. Tem de saber observar o que está acontecendo e não se alterar”, define o Capitão Argemi, do GATE. Ele fez a formação no curso do BIFAE-CO e dois de seus homens concluíram a preparação recente. Segundo ele, são escolhidos os participantes com melhor formação e qualidades como calma e tranquilidade, que não “entram em crise” diante de uma situação de maior tensão.

Curso simula missão real

Para testar o desempenho dos participantes em situações de tensão, o treinamento de março simulou a visita de uma autoridade.

“As duplas não atiraram, mas identificaram pontos sensíveis e avisaram os responsáveis por rádio”, diz o Primeiro-Tenente Pereira. Além disso, foram feitas oficinas com cães farejadores, que podem identificar e denunciar a localização do atirador.

Os atiradores vestem uma roupa especial, a guillie, que tem uma base de uniforme de campanha camuflado, macacão de voo ou similar. Na vestimenta, são costuradas lonas na frente, para rastejo, e juta desfiada atrás, para dissimulação.

“A guillie não deixa ninguém invisível, é necessário colocar 70% de vegetação natural presa nela e utilizar o terreno a seu favor”, diz o Primeiro-Tenente Pereira.

Os instrutores recomendam que os atiradores realizem a infiltração sempre a favor do vento, evitando que o policial sejam denunciados pelo cheiro e contra o sol. “[A luz] pode refletir no equipamento óptico e denunciar a posição ou atrapalhar o tiro”, diz o Primeiro-Tenente Pereira.

Os participantes cumprem avaliações com exigência de pelo menos 70% de acerto para passar no curso. Os testes incluem tiro de curta e longa distância, em alvos móveis, prova de conhecimentos, avaliação de distâncias com binóculo, teste de caçada com duas chances de infiltração e caçada final, na qual a dupla precisa acertar um único tiro. Se a dupla erra o disparo, os dois integrantes podem ser desligados.

O Capitão Argemi destaca que a formação na unidade da Força Aérea garante a qualificação e padrão internacional na formação. A parceria com o Batalhão de Infantaria em Canoas começou na década de 1990, antes da criação oficial do curso.

“O GATE tem uma ação muito próxima da dos militares e segue treinamento parecido com o das Forças Armadas”, justifica o Capitão Argemi.

A atuação dos atiradores do GATE em grandes eventos, como a Copa do Mundo, virou rotina. O Grupo de Ações Táticas também integrou a Força Nacional para os Jogos Pan-Americanos, de 2007, no Rio de Janeiro.

Não há definição ainda se a equipe será chamada para reforçar a vigilância nos Jogos Olímpicos e Jogos Paraolímpicos do Rio de Janeiro, entre agosto e setembro de 2016. “Mas a qualquer hora, há uma equipe pronta para atuar”, avisa o Capitão Argemi.

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