Peacekeepers, a história de quem ajuda a manter a paz

Ten Iris Vasconcellos

Manter a paz. Essa é a função dos militares designados pela Organização das Nações Unidas (ONU) para participar de missões de paz em países considerados em situação de risco. Neste domingo (29/05) é comemorado o dia internacional dos peacekeepers. A Força Aérea Brasileira, atualmente, tem 12 peacekeepers (como são conhecidos esses profissionais) atuando tanto de forma individual quanto em tropa em cinco missões de paz da ONU.

Um deles, o Capitão Robert Kluppel atua há seis meses na Missão das Nações Unidas para o Referendo no Saara Ocidental (MINURSO), país localizado África setentrional. Segundo o militar, o país, que vivia em conflito até a assinatura do cessar fogo na década de 90, possui duas áreas diferentes: uma estabilizada e outra onde não se vê a figura presente do Estado.

“A diferença é marcante, mas a presença da ONU garante que todos sejam tratados de igual para igual perante a comunidade internacional”, enfatiza ao descrever um dos principais objetivos da presença dos peacekeepers no território.

O capitão Kluppel atua como observador militar que é uma das funções mais operacionais dos mantenedores da paz. Entre as atividades que compõem a rotina do observador está a realização de patrulhas não armadas. “As patrulhas percorrem rotas pré-definidas de carro, com o objetivo de visitar unidades e identificar possíveis violações do cessar-fogo. A MINURSO é uma missão de manutenção da paz, e os peacekeepers não usam nenhum tipo de armamento”, explica.

Um dos desafios enfrentados pelos militares brasileiros é a diferença cultural. Mas o capitão conta que há um costume habitual para tornar a adaptação mais fácil. “A recepção é feita pelos outros brasileiros que já estão na missão. Tradicionalmente, somos recebidos com a Bandeira do Brasil. Já nos sentimos em casa”, revela o Capitão que, a quase quatro meses da partida, já está em ritmo de despedida.

Já o Capitão Júlio César está com o sentimento de ansiedade. Ele vai render o Capitão Kluppel na MINURSO e explica como é a preparação para o novo desafio. “Tive a oportunidade de realizar o treinamento no Centro Conjunto de Operações de Paz do Chile (CECOPAC). Em um dos exercícios, durante uma semana, fomos submetidos a atividades bem próximas as que serão realizadas na missão real, tais como realizar patrulhas, conduzir investigações, observar atividades militares, produzir os relatórios para a ONU, etc”, ressalta.

Realização de um sonho 

Participar de uma Missão da ONU sempre foi o sonho do Capitão Victor Giscard desde as instruções de infantaria na época de Cadete. E a partir de novembro desse ano, ele vai por esse plano em prática ao integrar a Missão das Nações Unidas para o Referendo do Sudão (UNISFA). “A gente se prepara desde cadete para participar de uma missão real. Poder ajudar o próximo e auxiliar uma população necessitada é muito importante para mim”, ressalta.

Como o capitão Giscard que se prepara para integrar uma missão de paz da ONU, a FAB já enviou para o exterior desde 1991 cerca de 180 militares. Foram 21 missões da ONU, algumas já encerradas. Atualmente a FAB tem militares na Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul (UNIMISS), Missão das Nações Unidas no Sudão (UNISFA), Missão das Nações Unidas na Costa do Marfim (UNOCI), Missão das Nações Unidas no Saara Ocidental (MINURSO) e Missão das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH).

O processo de seleção avalia diversos fatores, entre eles, afinidade com o inglês e conduta do militar ao longo da carreira.

Outro fator é o voluntariado. Todos os peacekeepers são voluntários para missões que podem ser perigosas, como define o capitão Giscard. “O principal desafio da missão será lidar com os perigos que podem se apresentar em um ambiente que é hostil. Mas eu vou para lá fazer o melhor de mim. E é isso que me impulsiona”, finaliza.
 

Ordem do Dia alusiva ao Dia Internacional dos Peacekeepers¹

 

Na data de hoje, celebramos o Dia Internacional dos Peacekeepers das Nações Unidas e homenageamos os homens e mulheres que contribuem para a manutenção da paz e da segurança ao redor do mundo. Há 68 anos, em maio de 1948, as Nações Unidas enviavam seu primeiro contingente de observadores militares para monitorar o acordo de cessar-fogo na guerra entre árabes e israelenses. Desde então, a ONU já desdobrou 71 missões em sua busca incessante por estabilidade e paz, com foco nos pilares do desenvolvimento e da segurança.

Na conjuntura internacional contemporânea, em que persistem diversos cenários de conflito e instabilidade, aproximadamente 104 mil capacetes azuis de diferentes nacionalidades atuam, sob a égide da ONU, em busca da resolução de conflitos pela via pacífica.

O Brasil tem participado desse processo de forma significativa ao longo das últimas décadas e já contribuiu diretamente para a formação dos contingentes de 40 missões de paz da ONU, com o envio de 51 mil militares ao exterior. Atualmente, cerca de 1.200 brasileiros da Marinha, do Exército e da Força Aérea participam de diversas missões de paz das Nações Unidas ao redor do mundo.

O Brasil contribui com tropas no Haiti e no Líbano e participa, com missões individuais, das operações no Saara Ocidental, na Libéria, na República Centro-Africana, no Sudão, no Sudão do Sul, na Guiné-Bissau, na Costa do Marfim e no Chipre. A liderança do Brasil na Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), desde 2004, tem sido motivo de largo reconhecimento internacional e alçou a dimensão de nossa participação em operações de paz a um novo patamar.

É também muito significativo que um almirante brasileiro comande, desde 2011, a única força naval em operação sob a égide da ONU no mundo – a Força-Tarefa Marítima integrante da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), que contempla o navio-capitânia, também brasileiro. Os capacetes azuis brasileiros destacam-se por seu preparo, profissionalismo, humanismo e empatia em relação à população local.

O Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil, o CCOPAB, desempenha papel fundamental na preparação de nossos contingentes militares e policiais. Ao longo dos últimos seis anos, o Centro já recebeu quatro certificados internacionais das Nações Unidas, que reconhecem a excelência de seu trabalho e o colocam em posição de destaque em relação a seus congêneres. O engajamento brasileiro com as missões de paz das Nações Unidas reflete o compromisso de nosso País com o multilateralismo e o pacifismo.

Nossa contribuição pauta-se, ainda, pelo reconhecimento da importância de se atentar para as causas profundas dos conflitos, que geralmente se relacionam a fatores como a pobreza extrema, a desigualdade e a fragilidade institucional.

Para além da reafirmação de valores que fundamentam nossa atuação externa, a participação em missões de paz também oferece ao Brasil oportunidades importantes de aprimoramento e atualização das capacidades operacional e logística de nossas Forças Armadas e policiais.

Vocês, peacekeepers de ontem e de hoje, são motivo de orgulho para a Nação, para o Ministério da Defesa e para as Forças Armadas brasileiras. É o seu trabalho, realizado em condições extremamente adversas e desafiadoras, que consagra o Brasil como um país referência por sua participação em missões de paz da ONU e por sua contribuição para a manutenção e construção da paz.

Estendo a todos vocês meu reconhecimento e admiração pelo heroísmo e abnegação com que cumprem cada dia de suas missões. Presto, ainda, uma emocionada homenagem aos capacetes azuis brasileiros que faleceram no cumprimento da missão, em especial àqueles vitimados por ocasião do terremoto de 2010 em solo haitiano.

Parabéns pelo seu dia!

Tudo pela paz!

Raul Jungmann
Ministro de Estado da Defesa

 

¹Com Ministério da Defesa

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