China avalia compra de 32 jatos da Embraer

Assis Moreira

A China poderá encomendar mais 32 jatos regionais da Embraer esta semana, valendo algumas centenas de milhões de dólares, durante a visita do presidente Michel Temer ao maior parceiro comercial do país, segundo fontes próximas das discussões.

Oficialmente, o que está previsto é que ao final do seminário econômico Brasil-China, na sexta-feira em Xangai, seja anunciada a aprovação do governo chinês à compra de 18 jatos da Embraer pela companhia Hainan, encomendados em 2014.

Mas a expectativa agora é de também novas aquisições de 32 aeronaves pela Tianjin Airlines, atualmente a operadora com a maior frota de E-Jets na Ásia. O negócio "está no ar", com possibilidade alta desse anúncio.

Essa operação seria ainda mais significativa, ocorrendo algumas semanas depois de a China ter lançado o primeiro jato regional desenvolvido no país, pela qual Pequim quer competir com os aparelhos da própria Embraer e da canadense Bombardier.

A Embraer entrou no mercado chinês no começo dos anos 2000, onde até agora recebeu 224 encomendas firmes, incluindo 188 jatos comerciais e 36 jatos executivos. O valor total das transações fica em torno de US$ 8 bilhões, pela lista de preços atuais.

Dos aparelhos encomendados, o fabricante brasileiro já entregou 167, sendo 135 jatos comerciais (85 E-190 e quatro E-194) e 32 executivos, incluindo 22 Legacy 600-650.

Em suas projeções de 20 anos (2015-2034) para o mercado chinês, a Embraer identificou demanda para 1.020 jatos regionais de 79 a 130 assentos. Isso representa 16% da demanda global no período, de 6.350 aparelhos com custo estimado em US$ 300 bilhões. Por sua vez, a Boeing projeta demanda de 5.580 jatos civis pela China, num valor total de US$ 780 bilhões, para as próximas duas décadas.

Nesse cenário, Pequim quer reduzir sua dependência do exterior e se posicionar também como fabricante aeronáutico, para capturar boa parte desses negócios.

O projeto do primeiro jato regional chinês, ARJ-21, para 70 passageiros, foi lançado em 2002, com plano de entregar o primeiro aparelho em 2007. Isso só ocorreu em junho deste ano, por causa de persistentes problemas técnicos.

O fabricante chinês diz ter mais de 300 encomendas, sobretudo de companhias locais. O aparelho até agora só recebeu certificação de voar na própria China. A companhia chinesa tenta desenvolver o jato C919, bem maior, com a expectativa de competir com o 737 da Boeing e o A320 da Airbus. O plano é de fazer a primeira entrega em 2019.

Crise não muda ritmo de crescimento da Embraer¹

Fundada em 1969 como uma empresa de capital misto, vinculada ao Ministério da Aeronáutica, a Embraer percorreu um longo caminho até se tornar uma das maiores fabricantes de jatos do mundo. Privatizada em 1994, a companhia se internacionalizou, tornou-se uma das principais blue chips da Bolsa de São Paulo e pulverizou seu capital em 2006, ao mesmo tempo em que se tornava um player global no segmento de jatos executivos.

Em 2008, a Embraer Aviação Executiva tinha 3,3% do total de unidades vendidas no mercado global, chegando a 17% em 2015. Isso corresponde a um em cada cinco jatos vendidos no setor, gerando uma participação de 10% em vendas. Em abril, a empresa entregou seu milésimo jato nessa categoria, para a Flexjet, de Cleveland, nos Estados Unidos. "Foi uma marca extraordinária", diz Marco Túlio Pellegrini, presidente e CEO da Embraer Aviação Executiva.

Hoje, a empresa conta com uma carteira de 700 clientes em 60 países, mas vem enfrentando um mercado turbulento. A desaceleração nas vendas provocou o fechamento da fábrica na Embraer na China, mantida em joint venture com a chinesa Harbin. Segundo Pellegrini, esse cenário torna o crescimento sustentado da divisão de Aviação Executiva da Embraer ainda mais relevante. "Existe uma clara falta de confiança que vem impedindo a retomada plena. Mesmo assim, a Embraer tem tido um taxa de crescimento médio de 21% ao ano", afirma. Para atravessar esse período, a Embraer aposta nos novos modelos 450 e 500 da linha Legacy.

A situação é mais confortável no segmento de aviação comercial, onde a empresa tem 60% do mercado global e 80% das encomendas. Os analistas de mercado avaliam que a empresa brasileira tem uma posição bastante vantajosa em relação à sua principal concorrente, a canadense Bombardier, que só a partir de 2017 deve lançar novos produtos para tentar reequilibrar o jogo.

¹Carlos Vasconcellos

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