Carlos Wagner – Por que a eleição do Mato Grosso do Sul interessa às facções criminosas?

Carlos Wagner

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Um dos candidatos ao governo do Mato Grosso do Sul (MS) tornou a disputa do segundo turno das eleições de grande interesse para as organizações criminosas brasileiras que usam o território do país vizinho, o Paraguai, como esconderijo, entre elas: Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e Comando Vermelho (CV), Rio de Janeiro.

E para as quadrilhas estabelecidas nas terras paraguaias que abastecem o mercado ilegal no Brasil de cigarros pirateados, produtos de informática, armas, munições, maconha e cocaína. O candidato é o juiz Odilon (PDT – MS). De estatura baixa e tom de voz forte, Odilon de Oliveira, 69 anos, ocupou o cargo de juiz federal por mais de 20 anos na fronteira com o Paraguai.

Ele é um ativista político contra o crime organizado. Não é por outro motivo que os quadrilheiros colocaram o preço de 2 milhões de dólares pela cabeça dele. É longa a fila de traficantes, contrabandistas e quadrilheiros que perderam os seus bens e foram sentenciados pelo juiz Odilon, entre eles Luiz Fernando da Costa, 61 anos, o Fernandinho Beira-Mar, um dos criadores do CV.

Em 2007, assim Beira-Mar o descreveu: “juiz da caneta pesada”. Conversei e entrevistei o juiz várias vezes. A primeira foi quando ele trabalhava em Ponta Porã, cidade no oeste do MS separada por uma avenida de Juan Pedro Caballero, município paraguaio considerado um dos lugares mais violentos da América do Sul. Na ocasião, ele morava dentro de um quartel da Polícia Militar e sempre andava escoltado pela Polícia Federal (PF).

Na ocasião em que escrevi o livro País Bandido (2003), falei muito com o juiz. A última vez em que conversamos foi há uns cinco anos, e na época ele era titular da 3ª Vara Federal, em Campo Grande (MS).

O Juiz Odilon, está disputando o governo do MS com Reinaldo Azambuja (PSDB), político conceituado da região. A disputa segue a linha da normalidade. O que interessa para nós, repórteres? É que seja lá quem for eleito presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL – RJ) ou Fernando Haddad (PT – SP), vai ter a segurança pública como um dos principais problemas a ser resolvido. E qualquer plano decente na área de segurança passa pela fronteira Brasil/Paraguai, que são 1,7 mil quilômetros, sendo 1,5 mil no Mato Grosso do Sul. Ali está o grande xis da questão.

E também parte da solução. Em 1987, foi instalado em Dourados (MS), cidade agrícola de porte médio a 100 Km a Leste de Ponta Porã, o Departamento de Operações da Fronteira (DOF), uma espécie de elite de policiais militares e civis que patrulham as fronteiras com o Paraguai e a Bolívia.

O DOF funciona nos moldes do BOPE  do Rio de Janeiro, aquele do filme Tropa de Elite. Os caras do DOF são temidos pelos bandidos da fronteira. Em várias oportunidades, eu  conversei longamente com eles. A última foi há uns oito anos, durante uma madrugada, em uma estrada de chão batido em Mundo Novo (MS), pequena cidade agrícola separada do Paraguai por uma estrada de terra e de Guairá (PR) pelo Lago de Itaipu.

Eu estava fazendo uma reportagem sobre carros roubados no Brasil levados para o Paraguai para serem trocados por cigarros pirateados. Alguns anos depois, foi acrescentada à estrutura do DOF a Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Fronteira (Derfron).

Muitas tentativas foram feitas e falharam em somar forças, reunindo as estruturas federais – Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Forças Armadas –  com o DOF e o Defron já foram feitas para combater os bandidos na fronteira. Uma delas foi em 2010. Na ocasião, nas ruas de Pedro Juan Caballero, o senador paraguaio Robert Acevedo havia sido vítima de um atentado atribuído ao PCC.

No atentado em que morreu o segurança e motorista do senador, que foi ferido, eu entrevistei o senador em Pedro Juan e depois assisti e documentei um encontro entre os então presidentes da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT – SP), e do Paraguai, Fernando Lugo. Os dois se encontraram na avenida que separa Pedro Juan de Ponta Porã e depois foram para um encontro reservado, onde esboçaram o plano de colaboração entre os dois países para enfrentar as organizações criminosas brasileiras estabelecidas na região.

Seja o Juiz Odilon ou Azambuja aquele que os 1,8 milhão de eleitores do MS elegerem, ele terá uma boa barganha da mão para negociar com o governo federal: a sua participação no plano de segurança pública. Considerando que: a maioria das armas, dos explosivos, das drogas e dos cigarros pirateados que inundam as cidades brasileiras entram no país por ali.

E que a pressão da opinião pública por segurança nunca foi tão grande no governo federal. Criou-se uma grande oportunidade para o governo do MS ter acesso a recursos econômicos e materiais. É esperar para ver no que vai dar.

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