Saiba porque o 22 de abril é o Dia da Aviação de Caça

Esta é uma história de heróis. Em abril de 1945, as tropas aliadas preparavam-se para uma grande ofensiva contra as forças alemãs. A todo custo, seria preciso estabelecer uma cabeça de ponte na região do Vale do Pó e impedir que exército nazista, em retirada, formasse uma nova linha de resistência e adiasse o final do conflito. Tal esforço exigiria sacrifício de todas as nações. Estava para acontecer o “Dia D” da Aviação Brasileira na Segunda Guerra Mundial.

Dia 22 de abril de 1945. O céu amanheceu encoberto na base brasileira em Pisa, na Itália. A aparente calmaria na pista de decolagem escondia o intenso movimento do 1° Grupo de Aviação de Caça (1º GAVCA) nos últimos dias. A unidade vinha cumprindo de quatro a seis missões por dia, o dobro, às vezes até o triplo da quantidade de saídas de antes da ofensiva de primavera que agora se desenhava.

Participar dessa ofensiva exigiria um esforço acima da média para os pilotos e especialistas da unidade. Os militares brasileiros haviam acabado de tomar uma das mais importantes decisões de toda a guerra. Preocupado com o aumento das saídas e o número de pilotos brasileiros, o Comando do 350th Fighter Group USAF (United States Air Force) propôs acabar com a unidade e aproveitar sua estrutura para pilotos americanos que entrariam em combate. Liderados pelo então Tenente-Coronel Nero Moura, Comandante do 1º Grupo de Caça, os brasileiros decidiram continuar lutando como uma unidade independente.

Dezenove pilotos acordaram escalados para as 11 missões do dia 22 de abril, prontos para quebrar o recorde de saídas diárias de toda a campanha na Itália. Para isso, voariam duas, até três vezes, por sucessivos dias, até o final da ofensiva. A unidade tinha então a metade do número de aviadores que desembarcaram em Livorno, um ano antes, resultado de baixas operacionais.

Passava das 8h, quando o ronco do primeiro P-47 ecoou pela pista de decolagem de Pisa. Às 8h30, partiram o capitão Horácio e os Tenentes Lara, Lima Mendes e Canário. Cinco minutos mais tarde, saíram o Capitão Pessoa Ramos e os tenentes Rocha, Perdigão e Paulo Costa. Às 8h40, decolaram os Tenentes Dornelles e Eustórgio, mais os aspirantes Poucinha e Pereyron.

Em terra, o ritmo de preparação continuava acelerado para dar conta das outras missões do dia. Havia um clima de preocupação. A experiência em combate indicava pelo menos três aeronaves abatidas por mês, dentro da rotina normal de saídas. O dia 22 de abril escapava totalmente desse perfil.

Às 9h45, decolaram o Tenente-Coronel Nero Moura, o Capitão Buyers, da USAF, e os Tenentes Neiva e Goulart. Uma hora depois, começaram a retornar as três primeiras esquadrilhas, sem nenhuma baixa.

Abrindo a segunda leva de ataques, partiram, às 10h55, o tenente Rui, Meira, Marcos Coelho de Magalhães e o Aspirante Tormin. Na seqüência (11h40), decolaram, pela segunda vez no dia e depois de menos de uma hora de descanso, os pilotos Horácio, Lara, Lima Mendes e Canário. Todos voltaram.

Na sétima missão do dia, às 12h40, saíram os Tenentes Dornelles, Eustórgio e o Aspirante Poucinha, todos voando pela segunda vez, mais o Tenente Torres, que chegaria ao final da guerra como o piloto mais voado. Em seguida (13h45), foram para o combate o Capitão Pessoa Ramos e os Tenentes Rocha, Perdigão e Paulo Costa, apenas três horas depois de terem retornado de outra missão.

Ainda restavam três missões. Até o meio da tarde, o 1º Grupo de Caça havia cumprindo à risca o plano aliado, sem nenhuma baixa. Em todas as saídas, os pilotos jogavam bombas em pontos estratégicos e passavam a procurar alvos de oportunidade, como colunas de tanques e transportes de suprimentos.

Às 14h45, o comandante do 1º Grupo de Caça, Tenente-Coronel Nero Moura, acompanhado dos Tenentes Neiva e Goulart, mais o Aspirante Pereyron, decolaram. A penúltima missão começou minutos antes das 16h. Partiram (pela terceira vez) Horácio, Lima Mendes e Lara, mais o capitão Buyers, que cumpria sua segunda missão. Filho de pais americanos, mas nascido no Brasil, Buyers juntou-se ao grupo ainda no Brasil, como oficial de ligação.

A última missão do dia, a décima primeira em pouco mais de sete horas, foi a mais dramática. Às 15h45, decolaram os Tenentes Meira, Tormin, Keller e Coelho. Dos quatro, apenas três retornaram. Ao mergulhar sobre um alvo, seguindo seu líder, Coelho foi atingido e teve que saltar de paraquedas, ficando desaparecido até o final da guerra.

No dia seguinte, em 23 de abril, finalmente, os aliados estabeleceram uma cabeça de ponte no Vale do Pó. Engana-se quem pensa que o esforço acabou ali. Por mais três dias, depois de 22 de abril, os pilotos brasileiros voaram dez missões diárias. Nesse esforço, o Tenente Dornelles, com 89 missões, morreu em combate, faltando poucos dias para o final da guerra.

Fonte: Agência Força Aérea

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