Conheça os principais protagonistas da Guerra da Bósnia

Os principais protagonistas políticos e militares da guerra intercomunitária na Bósnia entre 1992 e 1995 estão atualmente detidos por crimes de guerra, morreram e, em alguns casos, já estão livres por terem cumprido sua pena.

– Alija Izetbegovic (1925-2003): Líder político dos muçulmanos da Bósnia às vésperas da desintegração da Iugoslávia em 1991 e primeiro presidente da Bósnia. Levou o país à independência, cuja proclamação em 1992 desencadeou uma guerra de três anos e meio entre muçulmanos, sérvios e croatas. Afastou-se da política em 2000 devido a seu estado de saúde e faleceu três anos mais tarde.

Seu filho, Bakir Izetbegovic, foi eleito membro da presidência colegiada da Bósnia nas eleições de outubro de 2010.

– Radovan Karadzic (nasceu em 19 de junho de 1945): Este psiquiatra que se voltou para a política dirigiu a Republika Srpska, entidade autoproclamada pelos sérvios da Bósnia. Indiciado por genocídio e crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional para a antiga Iugoslávia (TPII) ficou foragido durante 14 anos, antes de ser detido em Belgrado em 2008.

Atualmente está sendo julgado pelo TPII por seu papel na matança de Srebrenica, na qual 8.000 muçulmanos foram assassinados em julho de 1995, e pelos bombardeios de Sarajevo que causaram a morte de mais de 10.000 civis.

– Ratko Mladic (nasceu em 12 de março de 1943): Chefe militar dos sérvios da Bósnia, também foi indiciado pelo TPII por seu papel no cerco a Sarajevo e no massacre de Srebrenica. Quase 16 anos depois de seu indiciamento, Mladic foi preso em maio de 2011 na Sévia. O processo deve começar em maio. Mladic se declarou inocente.

– Biljana Plavsic (nascida em 7 de julho de 1930): A ex-presidente dos sérvios da Bósnia é a mais importante personalidade política da antiga Iugoslávia que reconheceu sua responsabilidade nas atrocidades cometidas durante a guerra da Bósnia e se declarou culpada ante o TPII. Condenada a 11 anos de prisão, em 2009 obteve uma libertação antecipada e reside atualmente em Belgrado.

– Radislav Krstic (nascido em 15 de fevereiro de 1948): Um dos generais sérvios da Bósnia envolvidos na matança de Srebrenica. É a primeira autoridade sérvia a ser declarada culpada de genocídio pelo TPII. Atualmente cumpre uma pena de 35 anos de prisão.

– Mate Boban (1940-1997): Líder dos croatas da Bósnia, foi presidente de uma efêmera "república" dos croatas da Bósnia, cuja constituição provocou um conflito de 11 meses em 1993 e 1994 entre croatas e muçulmanos. Sua saída permitiu pôr fim às hostilidades e abriu o caminho para a constituição de uma federação croato-muçulmana.

– Franjo Tudjman (1922-1999): Primeiro presidente da Croácia independente, este nacionalista fervoroso dirigiu o país durante a guerra da independência (1991-95) e até sua morte em 1999. Apoiou os croatas da Bósnia e negociou em seu nome o acordo de paz de Dayton (Estados Unidos) que pôs fim ao conflito.

– Slobodan Milosevic (1941-2006): Eleito presidente da Sérvia em 1990, teve um papel crucial no desmantelamento da antiga Iugoslávia apoiando os sérvios da Croácia e da Bósnia, que havia se rebelado contra a independência desses dois ex-membros da Federação Iugoslava. Em nome dos sérvios da Bósnia, negociou o acordo de paz de Dayton.

Expulso do poder em 2000, foi transferido para o TPII em 2001. Morreu em Haia antes do fim de seu processo.

Jovens superam divisões e sequelas da Guerra da Bósnia

Três estudantes encontram-se em um café no centro de Sarajevo: Enida, Natalija e Igor. À primeira vista, não são muito diferentes. Vestem-se de forma parecida, escutam a mesma música, têm os mesmos medos do futuro e falam língua parentes. Os três nasceram em 1992, ano que eclodiu a guerra em seu país, a Bósnia e Herzegovina.

No entanto, os três cresceram em mundos distintos. Foram a escolas onde aprenderam diferentes versões sobre a guerra. Bosníacos (bósnios muçulmanos), sérvios e croatas têm, cada um, uma visão diferente do passado. Nem mesmo concordam sobre como e quando o conflito começou. Três povos, três versões do passado.

Natalija é uma croata da Bósnia. Na escola, ensinaram-lhe que tudo começou em outubro de 1991 "com o ataque dos sérvios ao povo de Ravno, a oeste de Herzegovina". Ravno é um pequeno povoado croata na zona bósnia, não longe de Dubrovnik. O exército iugoslavo, dominado pelos sérvios, arrasou o povoado após atacar cidades croatas na costa.

Já segundo o sérvio-bósnio Igor, a guerra teve início meio ano depois, em 1º de março de 1992, na cidade de Sarajevo. "De acordo com o modo como me ensinaram na aula de História, a guerra começou com o assassinato de um convidado a um casamento sérvio". E Enida, bosníaca, é mais diplomática: "Só sei que tudo se deveu a desacordos entre os três povos".

De acordo com a versão oficial, a Guerra na Bósnia-Herzegovina começou em 6 de abril de 1992, o dia em que a Comunidade Europeia reconheceu sua independência como país e em que os francoatiradores sérvio-bósnios dispararam em Sarajevo contra manifestantes que militavam pela paz. Ali teve início o ataque à cidade que duraria quase quatro anos.

Naqueles dias, os pais de Igor abandonaram a cidade. Ele era apenas um bebê com menos de um mês de vida. Sua família não teve outra opção, pois "todos os amigos sérvios já haviam partido, a guerra já havia começado", diz. "Que outra alternativa havia? Esperar que viessem matar seu bebê?" O pai de Igor se alistou pouco tempo depois no exército sérvio-bósnio.

Quase ao mesmo tempo, outro jovem pai – este pertencente ao grupo dos bosníacos – se mudou para Zenica, uma pequena cidade a cerca de 50 km ao noroeste de Sarajevo. Enida tinha apenas um ano de idade quando ficou órfã. "Meu pai morreu em 1993 nas proximidades de Busovaca, lutando contra as tropas bósnio-croatas", conta.

A poucos quilômetros dali, lutava no lado dos bósnio-croatas o pai de Natalija, cujo exército tinha por objetivo a anexação das zonas da Croácia com maior número de assentamentos croatas. "Meu pai defendeu estas zonas dos muçulmanos", diz Natalija.

Até aquele momento, os pais destes três jovens haviam convivido pacificamente uns com os outros. A Bósnia, inclusive, havia sido exemplo, durante muito tempo, de convivência entre diferentes povos e religiões. Mas, durante a guerra, homens que até então haviam jogados futebol juntos passaram a lutar uns contra os outros.

Agora, vinte anos depois, ainda paira certa tensão no dia a dia de Igor. "Quando venho aqui, sinto um mal-estar por meu sobrenome sérvio. Se alguém me chama por ele, estremeço", diz o jovem. "Tenho medo". Mas hoje sentam-se os jovens de vinte anos juntos no centro de Sarajevo, bebem café bósnio e conversam. E se entendem bem: as diferenças étnicas não são obstáculo. Enida explica por quê. "Eu não tenho preconceito nem ódio contra ninguém", diz a jovem. "Não adianta voltar ao passado".

Enida, Natalija e Igor tratam de encontrar seu caminho na atual Bósnia-e-Herzegovina e ir além das limitações nacionalistas de seu entorno. Não querem rastros do passado no seu futuro.

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