FEB – Aconteceu e não muda mais…

Cel Gustavo Baracho¹ 

Ao som da música Aquarela do Brasil, a FEB cruzou o oceano Atlântico para ajudar a restabelecer a liberdade solapada pelo nefasto tratado Molotov-Ribbentrop.

A primeira gravação da música Aquarela do Brasil completou 80 anos; o samba de Ary Barroso que conquistou o mundo afora foi gravado no dia 18 de agosto de 1939 por Francisco Alves. No entanto, só se popularizou em 24 de agosto de 1942, no Rio de Janeiro, quando lançado na animação Saludo Amigos dos estúdios da Disney.

Uma breve análise desse recorte histórico do ambiente cultural brasileiro não pode apagar o momento de tensão política que se sucedia na política internacional da qual o Brasil fazia parte.

Em 31 de agosto de 1942, o governo Vargas decretou o Estado de Guerra contra o Eixo – formado por Itália, Alemanha e Japão. Então, a Força Expedicionária Brasileira foi cantarolar a Aquarela do Brasil na Itália.

O Brasil, ao lado dos aliados, defendeu a liberdade e a democracia e, escolhendo o lado certo desde o princípio, precisou derramar o sangue verde e amarelo nos Apeninos para a glória do invicto Exército de Caxias.

O que conversavam os pracinhas quando atravessavam o Atlântico?

Muitos assuntos; porém, não seria incorreto conjecturar como muito provável o seguinte: “Como tudo isso começou?” Alguns diriam que começou devido aos navios mercantes brasileiros afundados no litoral por submarinos alemães; outros talvez diriam que isso começou em 23 de agosto de 1939.

Alguns dias após a gravação de Aquarela do Brasil, a Alemanha nazista e a União Soviética comunista assinaram o Tratado de Molotov-Ribbentrop. O pacto, de modo geral, criou acordos comerciais e a garantia de que os dois Estados não entrariam em guerra; e realmente Alemanha e União Soviética não lutaram entre si até junho de 1941.

Porém, o acordo feito pelos chanceleres soviético e alemão continha dispositivos secretos que iriam horrorizar o mundo a partir da abominável visão da Polônia invadida e dividida entre União Soviética e Alemanha no início de outubro de 1939. “…Foi então que tudo isso começou…”, diria um pracinha em uma sussurrada conversa com seu companheiro de pelotão.

O rompimento do tratado pela Alemanha surpreendeu Stálin, o seu único equívoco estratégico, segundo o escritor Viktor Suvorov, que o acusa de ter provocado a 2ª Guerra Mundial em seu livro “O Grande Culpado”. E então a União Soviética, com objetivos políticos-militares expansionistas, decidiu integrar a aliança militar que lutava contra o Eixo, passando a receber inúmeros recursos ocidentais de esforço de guerra.

Além de metade do território polonês, a União Soviética anexou, no período de 1939 a 1940, territórios da Finlândia, da Estônia e da Letônia e a maioria permaneceu sob a administração soviética após a guerra.

A Aquarela do Brasil e o Tratado de Molotov-Ribbentrop completam 80 anos neste mês de agosto; porém, enquanto a primeira levou alegria a todas as partes do mundo, o segundo levou ao totalitarismo e à morte.

E o Exército Brasileiro cruzou o oceano para ajudar a devolver a democracia e a alegria ao mundo, e isso aconteceu e não muda mais.

¹Cel Gustavo Baracho – Autor do livro Livros Brancos de Defesa: Realidade ou Ficção? é coronel da reserva do Exército Brasileiro, doutor em Administração pela Fundação Getúlio Vargas – Escola Brasileira de Administração Pública e Empresarial, mestre em Ciências Militares pela Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, graduado pela Academia Militar das Agulhas Negras em Ciências Militares e foi comandante do 9º Batalhão Logístico na cidade de Santiago/RS, no biênio 2015-2016.

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