Testamento de Caxias – 7 de maio de 1880

No dia 7 de maio de 1880, às 20h30, morria Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. Mais que Patrono do Exército Brasileiro, símbolo de liderança e herói nacional, seu nome passou a ser cultuado como sinônimo de modelo desejável de cidadão, militar ou civil. Passados 139 anos de sua morte, o legado de Caxias permanece vivo.

Não à toa, transformou-se em verbete de dicionário, que confere a essa palavra, na classe de adjetivo, as seguintes definições: "diz-se de pessoa muito disciplinada, estudiosa, cumpridora de seus deveres"; "diz-se de pessoa que, em cargo de chefia, exige de seus subordinados o cumprimento rigoroso dos deveres, das leis e dos regulamentos".

Caxias atingiu o ápice da carreira militar. Invicto em campanhas no Brasil e no exterior, "o Pacificador" alcançou o posto de Marechal de Exército em 1866, ao assumir o comando das tropas brasileiras na Guerra da Tríplice Aliança. Fora da caserna, foi senador, Presidente do Conselho de Ministros e único brasileiro a receber o título nobiliárquico de duque durante o Segundo Reinado.

Todavia, as glórias acumuladas ao longo da vida não modificaram o modo de ser do cidadão Luiz Alves de Lima e Silva. Simples até o final, Caxias expressou os últimos desejos em um testamento que se transformou em síntese do seu caráter comedido e sereno. Um documento representativo do espírito de militar privado de vaidades e suscetibilidades. Algo raro em um homem com sua posição.

Alguns trechos do testamento são eloquentes. Em dada passagem, Caxias deixa claro aos seus testamenteiros a forma como desejava que fosse procedido o próprio funeral. "Recomendo a estes que quero que meu enterro seja feito, sem pompa alguma, e só como irmão da Cruz dos Militares, no grau que ali tenho. Dispensando o estado da Casa Imperial, que se costuma a mandar aos que exercem o cargo que tenho".

Além de dividir os bens pessoais com seus herdeiros, Caxias teve a cortesia de não se esquecer daqueles que o acompanhavam mais de perto. Ao empregado pessoal e homônimo, Luiz Alves, deixou "quatrocentos mil réis e toda a roupa do meu uso". Coube ao amigo e companheiro de trabalho, João de Souza da Fonseca Costa, "como sinal de lembrança, todas as minhas armas, inclusive a espada com que comandei, seis vezes, em campanha, e o cavalo de minha montaria, arreado com os arreios melhores que tiver na ocasião da minha morte". Ao Capitão Salustiano de Barros Albuquerque, que era seu secretário pessoal, "deixo meu relógio de ouro com a competente corrente, também como lembrança pela lealdade com que tem me servido".

Mesmo possuindo as prerrogativas das funções que exerceu, Caxias dispensou qualquer espécie de ostentação em suas honras fúnebres, exprimindo que "só desejo que me mandem seis soldados, escolhidos dos mais antigos, e de melhor conduta, dos corpos da Guarnição, pra pegar as argolas do meu caixão".

Esse é Caxias por ele mesmo. Autorretrato perfeito desse militar, estadista e herói brasileiro. Símbolo de honra e devoção à carreira das armas, que teve sua data natalícia, 25 de agosto, transformada na maior efeméride do Exército Brasileiro: o Dia do Soldado.

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