28 Anos do ataque à base de Selva do Traíra

Coronel Fernando Montenegro¹

28 anos atrás, no dia 26 de fevereiro de 1991, o território brasileiro foi atacado covardemente de surpresa. Desde 1864, quando paraguaios atacaram um posto isolado em Dourados-MS, dando início à Guerra do Paraguai, que isso não acontecia.

Diferente do conflito do século XIX, dessa vez os agressores foram atores não estatais das FARC. Naquela ocasião, foram vitimados 12 dos 17 militares do Exército Brasileiro que ocupavam um posto de controle fluvial numa pequena clareira na selva, junto à fronteira com a Colômbia às margens do rio Traíra. Três militares morreram e nove ficaram feridos.

Segundo os relatos de sobreviventes, os cerca de 40 guerrilheiros se identificavam como integrantes da Frente Simón Bolívar. A ação fulminante iniciou com a eliminação sincronizada, através de tiros de precisão, dos dois sentinelas que estavam armados na hora.

Na sequência, dois grupos armados com armas de diferentes calibres avançaram por vias de acesso diferentes enquanto um terceiro fazia apoio de fogo. É normal que qualquer pessoa que entre ilegalmente no território brasileiro seja detida por tropas federais na região de fronteira, nesse universo encontram-se garimpeiros ilegais, narcotraficantes, dentre outros.

Algumas semanas antes, duas mulheres conhecidas como Merruda e Ana Rojas haviam sido detidas por uns dias no destacamento e depois enviadas para averiguações, tendo sido liberadas em seguida. Essas mesmas mulheres acompanhavam os narcoguerrilheiros por ocasião do ataque, que ocorreu na hora do almoço.

Durante a ação, elas indicavam os alvos de interesse, o que permite deduzir-se que, provavelmente, forneceram as informações privilegiadas que levaram à realização do ataque com sucesso. Naquela ocasião, os guerrilheiros inutilizaram os rádios, levaram armamentos, munições, mantimentos, medicamentos, dentre outras coisas.

Devido às características da Amazônia, é normal a dificuldade de comunicação, ainda mais quando se trata de um posto isolado. A equipe que faria a substituição chegou cerca de três dias depois e, só então, o escalão superior tomou conhecimento do que havia ocorrido e passou a articular uma resposta.

Depois disso, um contingente de militares do Exército Brasileiro integrado por tropas de selva da região, Comandos, Forças Especiais e aviação do Exército foi enviado à região. Ocorreram confrontos em que ocorreram cerca de 10 baixas entre os guerrilheiros e foram recuperadas várias armas e equipamentos.

Desde então, nenhum outro incidente dessa natureza voltou a acontecer. De uma forma bizarra, até pouco tempo atrás, os líderes das FARC eram muito bem recebidos nos eventos do Foro de São Paulo e ainda são tratados como aliados de alguns partidos políticos brasileiros.

Como se não bastasse, nenhuma referência relevante na grande imprensa brasileira e lamentavelmente a maioria dos brasileiros desconhece o episódio. Minha respeitosa continência àqueles que partiram honrando o compromisso mais sublime que os militares podem fazer, defender seu país, se preciso for, com o sacrifício da própria vida.

Descansem em paz Sansão Ramos Gonçalves, Aldemir Lopes de Oliveira e Sidimar Fonseca Moraes.

Em Tabatinga, militares que tombaram no ataque ao Destacamento do Traíra, em 1991, são lembrado²

No dia 26 de fevereiro, foi realizada, na sede do Comando de Fronteira Solimões e 8º Batalhão de Infantaria de Selva (Cmdo Fron Solimões/8º BIS) e nos seus Pelotões Especiais de Fronteira (PEF), a tradicional e ícone cerimônia em homenagem aos heróis que tombaram no Destacamento do Traíra em 1991.

A solenidade marcou os 28 anos da tragédia em que três militares do Batalhão foram covardemente mortos após um ataque surpresa, às margens do Rio Traíra, por guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

Após essa traiçoeira ação em território brasileiro, foi desencadeada uma grande operação conjunta e combinada, envolvendo as Forças Armadas brasileiras e tropas da Colômbia, a chamada "Operação Traíra".

A ação foi coroada de êxito, resgatando o material do Destacamento levado pelas FARC e capturando vários dos seus membros que participaram das mortes dos nossos três combatentes.

Os Soldados Sidimar Fonseca Moraes, Sansão Ramos Gonçalves e Aldemir Lopes de Almeida não pereceram em vão e jamais serão esquecidos. Levaram a "ferro e fogo" o juramento à Bandeira Nacional, em que todo militar do Exército Brasileiro declama, solenemente, ao transpor os portões da caserna: “…e defender a Pátria, se preciso for, com o sacrifício da própria vida”. Defenderam a Pátria e "combateram o bom combate"! Prestigiaram a distinta cerimônia militares da reserva que pertenceram ao antigo Destacamento do Traíra, além das famílias dos falecidos em combate e autoridades civis, eclesiásticas e militares locais.

¹Coronel Fernando Montenegro Comandou a Ocupação do Complexo do Alemão / Operador de Forças Especiais do Exército / Professor/ Jornalista

²Fonte: Cmdo Fron Solimões / 8º BIS – Fotos: 2º Ten Edielson – CComSEx

 

 

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