Luta na Frente Ocidental: 74 anos do fracasso da Operação Market

Resumo

Operação Market Garden foi uma operação militar aliada realizada durante a Segunda Guerra Mundial, entre os dias 17 e 25 de setembro de 1944. Seu objetivo tático era capturar uma série de pontes sobre os rios principais dos Países Baixos ocupados pelos alemães.

Para isso, foram utilizadas tropas paraquedistas em larga escala, em conjunto com um rápido avanço de unidades blindadas pelas estradas, a fim de atingir o propósito estratégico de permitir que os Aliados pudessem atravessar o Reno, a última grande barreira natural a um avanço sobre à Alemanha.

Pouco depois das 10 h da manhã de um domingo, 17 de Setembro de 1944, decolou de aeroportos dispersos por todo sul da Inglaterra a maior força de aviões de transporte de tropa até então reunida para uma única operação.

Naquela semana – a 263ª da Segunda Guerra Mundial – o Comandante Supremo das Forças Aliadas, o general Dwight David Eisenhower, desencadeou a Operação Market Garden, uma das mais ousadas e engenhosas da guerra, uma ofensiva combinada aeroterrestre e de superfície, idealizada pelo Marechal de Campo Bernard Montgomery.

A sua fase aerotransportada (Market) da operação foi monumental: envolveu quase 5000 aviões de caça, bombardeiros e de transporte de pessoal e mais de 2500 planadores, o qual seria um assalto diurno sem precedentes para as tropas paraquedistas. No solo, dispostos ao longo da fronteira belgo-neerlandesa, estavam as forças da fase Garden, colunas compactas de carros de combate do Segundo Exército Britânico.

O plano ambicioso visava a lançar velozmente a tropa e os blindados através dos Países Baixos, transpor o Reno e invadir a própria Alemanha. Inicialmente, a operação teve sucesso, com a conquista da ponte sobre o rio Waal em Nimegue no dia 20 de setembro.

Entretanto, acabou por ser uma falha geral devido à ponte de Arnhem, a última do Reno, não ter sido conquistada, e ao fato da Primeira Divisão Aerotransportada Britânica ter sido destruída na batalha, apesar de terem suportado muito mais do que era estimado antes da implementação.

O Reno permaneceria uma barreira ao avanço aliado até as ofensivas aliadas realizadas em março de 1945. O general Montgomery contou com 3 divisões aerotransportadas: as 101ª e 82ª divisões americanas, a 1ª divisão aerotransportada britânica e uma brigada paraquedista polaca, somando mais de 41 mil paraquedistas (fora as tropas do solo).

Os alemães tinham mais homens, provavelmente, mas suas forças estavam espalhadas por toda a região. Após Market Garden, as posições das linhas de batalha na Europa Ocidental permaneceram quase imutáveis até o final de 1944.

A operação estava em Marcha

Em setembro de 1944, o fim das operações começava a vislumbrar uma ampla margem de possibilidades a favor das armas aliadas. Era necessário, portanto, utilizar ao máximo o total de efetivos e táticas a fim de acelerar o mais possível a marcha das operações.

Eisenhower, como comandante supremo dos exércitos aliados, decidiu, em conseqüência, projetar e executar uma operação na qual as reservas convencionais não interviriam, mas sim unidades aerotransportadas. Conseqüentemente, em meados do mês de julho de 1944, o comandante supremo solicitou a seus comandos subordinados a preparação de um plano que materializasse o citado ataque aerotransportado.

Finalmente, dezoito planos foram apresentados ao Alto-Comando, com a finalidade de ser considerado e selecionado um entre todos. Os diversos projetos abrangiam uma grande variedade de objetivos: a cidade de Tournai, a massa dos efetivos alemães retidos na costa do Canal, os arredores de Liège, o setor Aquisgrã-Maastrich, etc.

Em 10 de setembro, finalmente, o Marechal de Campo Montgomery entregou o Eisenhower um novo plano. O comandante supremo, depois de estudar os detalhes e linhas gerais do mesmo, o aprovou sem vacilar. A Operação Market estava em marcha.

Operação Market

Essencialmente, era composto pela intervenção de três divisões aerotransportadas. Elas seriam lançadas nos arredores de Grave, na Holanda, sobre a margem do rio Maas, a 50 km da fronteira da Bélgica e somente a 25 da Alemanha; Nijmegen, também em território holandês, 10 km mais ao norte de Grave, a menos de 5 km da fronteira alemã e sobre o rio Waal (nome holandês do Reno) e Arnhem, também na Holanda, a 10 km mais ao norte de Nijmegen e a uns 10 km da fronteira alemã.

Arnhem situava-se sobre as margens do rio Neder, afluente do Waal e, conseqüentemente, do Reno. O objetivo, em todos os casos, era constituído pelas pontes existentes nos citados rios, que formavam um grande obstáculo para que as tropas aliadas atingissem o território propriamente dito da Alemanha.

A Operação Market objetivava lançar as tropas aliadas através do Reno, sobre o Ruhr, contornando a muralha defensiva alemã (Westwall). Os informes dos serviços de inteligência dos Aliados, referentes às forças alemães no oeste, calculavam os efetivos numas quarenta e oito divisões, com uma potência real equivalente a vinte divisões sendo quatro blindadas.

Quatro dias antes do ataque, o 1º Corpo Britânico Aerotransportado calculou os efetivos alemães em território holandês em algumas unidades de infantaria e um total de tanques que oscilava entre cinqüenta e cem. A 10 de setembro, dia em que o General Eisenhower aprovou o plano e deu o ordem para pôr em execução a Operação Market, informes chegados aos serviços de inteligência davam conta que duas divisões blindadas alemães dirigiam-se para a Holanda, mencionando-se Eindhoven e Nijmegen como seus destinos finais. Pouco depois se soube que as mencionadas divisões eram a 9ª Divisão Panzer SS Hohenstaufen e a 10ª Divisão Panzer SS Frundsberg, provavelmente reequipadas com novos carros de combate.

Planos e preparativos

No setor aliado, o planejamento das ações e o comando posterior dos efetivos em luta tinha ficado subordinado ao Primeiro Exército Aliado Aerotransportado. À frente do comando estava o Tenente-General Lewis Brereton, que tinha granjeado prestígio como comandante no Pacífico.

Posteriormente, enviado a Inglaterra como comandante da 9ª Força Aérea, foi designado comandante do Primeiro Exército Aliado Aerotransportado, na data de 8 de agosto de 1944. Sob as ordens de Brereton estavam os seguintes efetivos: as veteranas divisões aerotransportadas americanas 82ª e 101ª e também a 17ª.

Os efetivos ingleses sob o seu comando eram os seguintes: as 1ª e 52ª Divisões Aerotransportadas. Além disso, também comandava as unidades polonesas, que integravam a 1ª Brigada Polonesa Pára-quedista Independente.

Dispostos os efetivos que interviriam na operação, apresentou-se ao comando de Brereton o primeiro grave problema. Com efeito, se devia decidir se o lançamento se efetuaria de dia ou de noite. O vôo e lançamento diurno exporia as unidades atacantes a um intenso fogo antiaéreo do inimigo, o que poderia causar graves perdas se fosse considerada a lentidão dos aviões que seriam empregados.

Os C-47 destinados à operação eram bastante lentos, o que faria com que os mesmos e os planadores rebocados ficassem consideravelmente expostos ao fogo dos alemães. Por outro lado, se o ataque fosse realizado de noite, os aviões estariam sujeitos ao fogo dos caças noturnos alemães.

De fato, embora os caças diurnos alemães tivessem sido praticamente neutralizados em suas ações, os seus semelhantes noturnos conservavam ainda muito de sua potência e seria muito difícil defender as máquinas de transporte e os planadores de seus ataques.

Em conseqüência a um exaustivo exame da situação e prendendo-se à possibilidade de oferecer à força atacante um grande apoio aéreo diurno, Bereton decidiu: o ataque se efetuaria à luz do dia.

A decisão estava baseada num plano de intensos ataques aéreos, para debilitar as defesas alemães da zona de operações. O problema seguinte a ser resolvido foi o da via de acesso ao objetivo.

A rota mais direta, vindo da Inglaterra, passava sobre as ilhas do estuário do Schelde-Maas. Ali, os alemães mantinham efetivos anti-aéreos que submeteriam os atacantes a um intenso fogo.

Ao mesmo tempo, até chegar à zona de lançamento, os aviões atacantes deveriam voar sobre quase 200 km de território inimigo. Apresentava-se ao comando aliado uma segunda rota, a do sul.

Por esta direção os aviões deveriam sobrevoar um pouco mais de 100 km do território em poder dos alemães. Diminuíam, assim, consideravelmente as oportunidades oferecidas ao fogo antiaéreo inimigo. A decisão final de Brereton, entretanto, foi a de dividir as forças.

Duas divisões iriam pela rota do norte, por sobre as ilhas; uma divisão voaria pelo sul. Foram discutidos e solucionados, paralelamente, dezenas de problemas táticos e técnicos, referentes a unidades, rotas de marcha, abastecimentos, armamentos, sincronização de lançamentos, etc.

Os objetivos

Os planos traçados determinaram os diferentes objetivos que as forças a serem lançadas deveriam ocupar. Conseqüentemente, os diferentes comandos de divisão foram informados que seus objetivos eram precisamente os seguintes: a 101ª Divisão Aerotransportada, americana, teria por meta a cidade de Eindhoven e as pontes que cruzavam os povoados de Zon, 6 km mais ao norte, St. Oendenrode, 5 km ao norte de Zon, e Veghel, 6 km a nordeste de St. Oendenrode; os efetivos da 82ª Divisão Aerotransportada, também americana, seriam lançados mais próximos de Arnhem, em Grave, a 10 km ao sul de Nijmegen, com o objetivo de capturar as pontes no Maas em Grave, as do Waal em Nijmegen e as do canal Maas-Waal, entre as duas localidades; a 1ª Divisão Aerotransportada britânica seria lançada mais ao norte ainda, nas proximidades de Arnhem, com a missão de tomar as pontes sobre o rio Neder; a 1ª Brigado Polonesa Pára-quedista Independente seria lançada à luta no dia D + 2, nas proximidades de Arnhem, do lado sul do Neder.

A Operação Market, em resumo, serio a operação aerotransportada de maior envergadura que se realizaria até o fim da guerra. Realmente, superaria inclusive o Varsity (efetuada pelo Primeiro Exército Aliado Aerotransportado, ao norte e nordeste de Wesel, a 23 de março de 1945); na Market operariam 16.500 pára-quedistas (dia D), contra 14.300 da Varsity e 20.000 soldados aero-transportados, contra 17.000.

Os meios

Os planos traçados previam lançamentos nos dias D, D + 1 e D + 2. As viagens previstas para o dia D eram consideradas suficientes para transportar o QG avançado dos efetivos britânicos, três regimentos de pára-quedistas das 82ª e 101ª Divisões americanas e efetivos da 1ª Divisão: duas brigadas e um regimento de artilharia.

No decorrer do segundo dia, D + l, os efetivos restantes da divisão britânica seriam lançados, bem como elementos da 82ª e 101ª. Durante o dia D + 2 os poloneses e os remanescentes das 82a e 101a tocariam terra. No decorrer do dia seguinte previra-se lançar os efetivos que, por diversos motivos, não tivessem sido lançados nos dias anteriores, se os houvesse. Seria um eventual dia D + 3.

Para o dia D, a 101ª Divisão contava com 424 aviões de transporte de tropa e 70 planadores. A 82ª, por sua vez, empregaria 480 aviões e 50 planadores. A 1ª Divisão contava com 145 aviões americanos, 354 ingleses, 4 planadores americanos e 358 britânicos.

A grande decisão

Contando com os elementos materiais e com os homens prontos para a operação, o General Brereton enfrentou o problema de decidir a data do dia D.

Finalmente, às 19 horas do dia 16 de setembro, Brereton decidiu: o dia D seria o 17; a hora H seria as 13. A campanha começaria na noite anterior, isto é, na noite de 16 de setembro, quando o Comando de Bombardeiros da RAF lançou seus aviões com o fim de eliminar o mais possível a oposição antiaérea alemã.

A 16, durante a noite, em cumprimento às ordens determinadas, uma força de 200 Lancaster e 23 Mosquitos jogaram aproximadamente 890 toneladas de bombas sobre os aeroportos alemães. Outra força, composta por 59 aviões, atacou paralelamente as fortificações da artilharia antiaérea.

Em ambos os casos, os pilotos deram informações positivas. Foram particularmente alentadores os informes dados pelos pilotos que atacaram aeroportos onde estavam estacionados os novos caças Messerschmitt 262.

Os ataques foram renovados no dia 17, às primeiras horas da manhã. Nessa oportunidade, 100 bombardeiros britânicos, escoltados por caças Spitfire, lançaram-se ao assalto das defesas costeiras e das fortificações situadas ao longo da rota do norte.

Pouco antes da operação propriamente dita começar, 816 Fortalezas Voadoras da 7ª Força Aérea, escoltada por P-51, lançaram 3.139 toneladas de bombas sobre 117 fortificações de artilharia antiaérea, ao longo das rotas do norte e do sul, que seriam percorridas pelos transportes aéreos de tropas.

Incluindo os aparelhos de escolta, 435 aviões britânicos e 983 americanos participaram das operações preliminares de bombardeio. No curso das ações perderam-se, no total, dois B-17, dois Lancaster e outros três aviões britânicos de escolta.

Para desempenhar o papel de proteção das forças atacantes, os Aliados destacaram 1.131 caças britânicos e americanos. Ao longo da rota norte, o comando inglês colocou 371 Tempest, Spitfire e Mosquito.

Paralelamente, a rota do sul foi coberta por 548 P-47, P-38 e P-51 da 7ª Força Aérea. Ao se aproximar a hora determinada para a partida, uma força composta por 1.545 aviões de transporte e 478 planadores decolou de vinte e quatro aeroportos situados nas vizinhanças de Swinden, Newbury e Grantham.

A massa aérea compreendia 1.175 aviões americanos e 370 ingleses; os planadores eram 124 americanos e 354 britânicos. Os aparelhos convergiram sobre determinados pontos da costa britânica e, dali, dirigiram-se para os seus respectivos corredores de entrada no continente europeu.

Ao longo da rota do norte voaram os aviões e planadores das 1ª e 82ª Divisões; a rota do sul, paralelamente, era utilizada pelos aparelhos semelhantes da 101ª. Alguns aviões foram obrigados a regressar às suas bases por defeitos mecânicos. Outros, em reduzido número, caíram no mar. Os serviços de salvamento intervieram imediatamente, salvando as tripulações.

O vôo total, entre as bases britânicas e o objetivo, estava calculado em, aproximadamente, duas horas e meia. O vôo sobre o território inimigo seria entre trinta e quarenta minutos do tempo total.

Quando os primeiros aparelhos atingiram a costa inimiga, os canhões antiaéreos abriram fogo. Os danos, entretanto, ficaram reduzidos a pequenas avarias em alguns aparelhos.

Muitas das defesas antiaéreas inimigas ficaram silenciosas. De fato, suas posições foram danificadas ou destruídas totalmente pelos bombardeios prévios. A reação da Luftwaffe foi particularmente débil, em certos lugares nem foi percebida.

Nessa primeira fase das ações, os pilotos unanimemente informaram que da ordem de trinta aparelhos alemães estavam em atividade, sendo que quinze deles eram Focke-Wulf 190.

Os pilotos aliados executaram outras missões no decorrer do dia D. Mais precisamente, 84 aviões britânicos da 2a Força Aérea. Pouco antes da hora H, 84 aviões britânicos atacaram as instalações militares alemães em Nijmegen, Arhem e em mais dois povoados menores nas proximidades.

Com referência às perdas ocasionadas pelo fogo inimigo e as esporádicas intervenções da Luftwaffe, os comandos aliados haviam calculado em 30% dos aviões e planadores diretamente empenhados nas ações.

A realidade, entretanto, mostrou que os cálculos foram exagerados e pessimistas. De fato, as perdas da frota aérea ficaram reduzidas a 2,8%, e, por isso mesmo, imprevisível. Nenhum dos aviões das formações britânicas de transporte foi atingido e somente 35 transportes americanos, juntamente com 13 planadores, ficaram danificados.

No que diz respeito aos aviões de escolta, os britânicos perderam dois. E os americanos, dezoito. No total, os perdas de transportes, planadores e aviões de combate somaram 68 unidades.

Os lançamentos foram qualificados como perfeitos. A 82ª Divisão considerou as operações do dia como os melhores da sua história. O informe da 101ª considerou a operação como "um desfile aéreo", sobre qualquer ponto de vista, o melhor de todos até então efetivados.

No total, a operação de lançamento, consumiu uma hora e meia, aproximadamente. Em conseqüência, uns 20.000 americanos e ingleses tinham sido lançados com seus armamentos e apetrechos por trás das linhas inimigas. A operação que, entretanto, esteve muito próxima de se converter num êxito custou muito cara aos Aliados.

Com efeito, diversos fatores, entre eles o tempo, que, mudando bruscamente, impediu o lançamento de reforços e abastecimentos, influíram e pesaram sobre o desenvolvimento dos acontecimentos, provocando a derrota dos efetivos aliados.

Os combatentes ingleses da 1ª Divisão, isolados, sem tanques e sem artilharia, resistiram durante dez dias às arremetidas da 11.ª Divisão Panzergrenadier de Voluntários SS Nordland, sucumbindo, finalmente, a 27 de setembro, depois desse período de intensa luta.

As péssimas condições climáticas, no decorrer do período citado, impediram que os aviões aliados fustigassem as formações alemães. Por essa razão, ela, que deveria ser a principal arma de apoio com que os Aliados contavam, ficou reduzida ao papel de simples espectadora dos acontecimentos.

O 2º Exército britânico, que tinha partido de Eindhoven em direção a Arnhem, conseguiu cruzar, sucessivamente, os quatro cursos de água cujas pontes os pára-quedistas americanos dominavam: o canal Guilhermina, o Dommel, o Mosa e o Waal.

Em 23 de setembro, os britânicos estiveram muito próximos de se unirem aos pára-quedistas em Arnhem. A manobra, contudo, fracassaria. O General Bradley emitiu os seguintes conceitos sobre a Operação Market:

"Eu não participei em nada na elaboração do plano. Na verdade, Montgomery o havia idealizado e convenci Ike de suas vantagens, vários dias antes de eu me inteirar de sua existência, por intermédio de nosso oficial de ligação no 21º Grupo de Exércitos. O segredo que Monty tinha mantido sobre tal planejamento me deixou realmente confuso, já que, se bem que a operação deveria somente ser realizada na sua faixa de operações, ela iria desarticular, apesar de tudo, a ofensiva conjunta sobre a qual nós tínhamos finalmente concordado apenas alguns dias antes. Desviando as suas tropas para o nordeste, afastando-as da direção na qual acabava de empenhar um de seus Corpos, Monty deixaria descoberto um dos flancos de Hodges, expondo-o a um contra-ataque. Para proteger esse flanco foi necessário que eu tomasse uma das três divisões blindadas de Patton, deslocando-a para o norte e subordinando-a a Hodges.

"Logo que tive conhecimento do plano de Monty, telefonei a Ike e exaustivamente lhe apresentei minhas objeções ao mesmo. Ao abandonar a ofensiva conjunta que tínhamos projetado, as tropas britânicas iam deslocar-se numa tangente, deixando a carga inteira sobre as nossas costas. Porém Ike contestou as minhas objeções: considerava que o plano era arriscado mas promissor. Se desse bom resultado nos permitiria o envolvimento da linha Siegfried, talvez até chegássemos a conseguir uma cabeça-de-ponte sobre o Reno.

"Cada divisão que chegava na França, aumentava a diferença de efetivos entre as tropas americanas e britânicas. Em 15 de setembro, Monty já tinha recebido todos os reforços previstos, exceto três divisões canadenses, que chegariam do Mediterrâneo no mês de abril. Apreensivo com a idéia de que Ike fosse ceder aos insistentes pedidos de tropas com que Monty o assediava, eu me mantinha no firme propósito de que as tropas dos EUA fossem mantidas subordinadas aos comandos americanos…

No domingo de 17 de setembro, os céus holandeses ficaram escuros com os aviões do Exército Aerotransportado de Brereton, que realizariam o primeiro lançamento diurno de tropas pára-quedistas desta guerra. Voei para o PC de Monty em Bruxelas, no final daquela tarde. Ali efetuavam aterrissagens de emergência os primeiros C-47, que sofreram avarias. Apesar dos freqüentes contra-ataques inimigos ao longo de todo o perímetro das tropas aerotransportadas, os blindados de Monty continuaram avançando até o dia 20 como um aríete…

Contudo, entre o Waal e o Arnhem, a Guarda Blindada sustou o seu avanço ante a crescente resistência inimiga… Enquanto que, na margem oposta do baixo Reno, a 1ª Divisão Aerotransportada britânica ficou logo imobilizada em sua posição por furiosos contra-ataques do adversário. Durante cinco dias essas tropas de boinas vermelhas aferraram-se à sua acossada cabeça-de-ponte, até que no dia 25, perdendo toda a possibilidade de chegar até eles, Monty ordenou o sua retirada através do Reno.

Dos 9.000 soldados britânicos que desceram em pára-quedas na mencionada cabeça-de-ponte, menos de 2.500 conseguiram regressar às nossas linhas. Existe uma qualidade nos britânicos diante da adversidade que exprime tudo que existe de mais nobre no valor inglês e, como conseqüência disso, o valor cobre de tal modo a derrota que a lenda heróica fica na recordação muito depois da derrota ter sido esquecida. Arnhem passou a fazer parte dessa tradição britânica. Monty tinha sido rechaçado já bem perto do objetivo, porém a derrota foi tão valorosa que o fracasso estratégico passou despercebido…

"Posteriormente, Monty atribuiu ao tempo desfavorável o fracasso de Arnhem e, certamente, o tempo compartilhou numa boa dose de culpa. De fato, no segundo dia do ataque, o estado brumoso da atmosfera sobre os Países Baixos impediu que as missões aéreas de abastecimentos e reforços chegassem a seu destino. Excetuando dois dias, o mau tempo impediu a ação dos aviões aliados, permitindo que o inimigo desse forma ao seu contra-ataque sem interferências da aviação. Entre 19 de setembro, dia em que a Guarda Blindada chegou a Nijmegen, e 4 de outubro, quando Monty desistiu de continuar em Arnhem, o inimigo atacou o corredor inglês com doze ataques divisionais separados. Monty admitia tristemente que o caminho fácil tinha uma armadilha oculta…".

As perdas

Em comparação com a primeira fase das operações, que praticamente se desenvolveram sem baixas, a batalha propriamente dita foi disputada com um preço extremamente alto de vidas humanas.

No total, as baixas britânicas foram de 7.212 homens mortos, feridos e desaparecidos. Os americanos da 82ª, por sua vez, tinham perdido 1.432 combatentes e a 101ª, 2.110.

As baixas sofridas pelos poloneses chegavam a 378. Entre os pilotos dos planadores americanos foram registradas 122 baixas; as referentes aos pilotos dos aviões de transportes, tanto americanos quanto britânicos, subiam a 596. A operação tinha custado, no total, 11.850 baixas, incluindo-se tropas aerotransportadas e aviadores.

A ofensiva de Aquisgrã

No dia 2 de outubro, o 1ª Exército americano desencadeou uma ofensivo no setor de Aquisgrã, com a finalidade de quebrar a linha Siegfried e avançar na direção do Reno, aumentando a brecha para o norte e para o sul.

As perdas na França, até essa data, tinham sido elevadíssimas e chegavam a 600 mil prisioneiros. Baseados nisso, acreditava-se, nos meios aliados, que ficaria muito difícil para a Wehrmacht manter e defender todas as fortificações da linha de defesa.

Por outro lado, a captura de Aquisgrã, importante cidade alemã, representaria um sucesso que daria prestígio e apoio moral aos exércitos aliados. A operação, extremamente dura, foi concretizada com o cerco da cidade pelo norte e pelo sul, entre 2 e 16 de outubro de 1944.

Os alemães, por sua vez, retiraram o grosso dos seus efetivos através de um estreito corredor que conduzia para leste, deixando na cidade uma guarnição composta por alguns milhares de soldados pertencentes às SS.

Esses mesmos soldados, honrando as suas tradições, repeliram imediatamente o ultimato de rendição que lhes foi oferecido pelo General Hodges, no dia 10 de outubro.

Como conseqüência, a artilharia e a aviação aliadas atacaram, sem descanso, o centro da cidade, onde, a partir do dia 13 de outubro, desenvolveram-se duros combates de rua. Finalmente, ao meio-dia de 21 de outubro, a cidade caiu definitivamente em mãos dos Aliados. Ao final da luta, 1.600 alemães ficaram prisioneiros.

Os alemães, porém, reagrupando os seus efetivos conseguiram estabelecer uma nova linha de defesa na retaguarda de Aquisgrã. Por causo disso, a ruptura na direção do Reno não pôde ser conseguida.

No dia 22 de outubro, numa frente de 80 km, que se alargava de Escout até Nijmegen, Montgomery iniciou a preparação de uma grande ofensiva aliada na direção de Vestfália.

Depois da campanha da Normandia, com efeito, a estratégia alemã, já prevista, consistia no bloqueio de maior número de portos, para impedir o abastecimento dos efetivos aliados.

O bloqueio incluía também a destruição daqueles que fossem abandonados. Em conseqüência, durante dois meses, o único porto que tinha funcionando era o artificial de Arromanches.

Os caminhos e pontes, por outro lado, atacados pela aviação aliada, tinham ficado reduzidos a escombros, dificultando, assim, enormemente, o trânsito das colunas de abastecimentos. Somente o porto de Antuérpia, milagrosamente intacto, constituía para os Aliados, um trunfo que permitiria manter os operações.

Os alemães, por sua vez, a partir de 1ª de outubro, tentaram transforma-lo em ruínas e, com efeito, começaram a bombardeá-lo com as armas V. As V-1, utilizadas inicialmente, eram freqüentemente derrubadas pelo artilharia antiaérea e caças aliados.

Tentando solucionar o problema, os alemães começaram, então, a utilizar as V-2. O número de lançamentos, contudo, não passava de cinco ou dez por dia, não dando resultados positivos na ofensiva aérea alemã, que praticamente fracassou.

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