A Guerra do Chaco – 1932 e 1935

 

Varlei Edemundo Batista da Silva
S Ten Adjunto de Comando do CI Bld
Carlos Alexandre Geovanini dos Santos
Ten Cel Comandante do CI Bld


A Guerra do Chaco foi um conflito armado ocorrido entre Paraguai e Bolívia, pela disputa da região do Chaco Boreal, entre 1932 e 1935. Para estes dois países envolvidos nesta batalha, a região do Chaco apresentava uma grande vantagem devido à suposta descoberta de petróleo nas proximidades dos Andes, além de permitir uma outra importantíssima vantagem estratégica, no Chaco Boreal se localizava o rio Paraguai, a principal forma de acesso ao oceano Atlântico.

Outros fatores que impulsionaram a referida guerra são: o fato da região do Chaco já ter pertencido à Bolívia, no antigo Vice-Reinado do Rio da Prata; a perda de sua saída ao mar para o Chile, na Guerra do Pacífico, ocorrida em 1879, e definitivamente, a Bolívia não queria perder o petróleo na região dos Andes nem o controle do rio Paraguai.

A Bolívia e o Paraguai eram as duas nações mais pobres da América do Sul, todavia, para o Paraguai o Chaco lhe despertava grande interesse, em razão de sua grande extensão de terra e as reservas petrolíferas já existentes. Por outro lado, a Bolívia com a intenção de resolver às crises que vinha enfrentando, viu a necessidade de invadir o Chaco.

Então em 1932, o Exército Boliviano, mesmo sem autorização de seu presidente, decide entrar no Chaco, nas margens do Lago Pitiantuta, com o propósito de guarnecer o local, mas os paraguaios descobrem e retomam o lago. Na sequência, uma expedição boliviana é enviada e expulsa os paraguaios, tomando os fortes paraguaios de Corrales, Toledo e Boquerón. Após este episódio, o presidente do Paraguai, Eusebio Ayala declara guerra à Nação Boliviana.
 

A Bolívia apostou na vantagem numérica de seu exército, juntamente com a maior capacidade econômica. Apesar da crise enfrentada pela Bolívia na época, sua condição econômica ainda era mais forte que a paraguaia.

Mas por outro lado, o exército boliviano ainda não havia conquistado sua modernização. Já pelo lado de seu oponente, o Paraguai contava com duas grandes vantagens: sua infraestrutura possibilitava um transporte de sua tropa com mais eficiência e a moral dos seus homens, que estavam motivados e dispostos a não ceder nem um centímetro de seu território para os bolivianos.

Além disso, o Paraguai contava com uma vantagem política, pois a política boliviana ficou caótica depois que a guerra começou. A ação precipitada do exército boliviano de atacar sem a permissão do governo repercutiu em uma série de conflitos na capital.
 

O ataque inicial boliviano foi bastante agressivo, avançando o máximo possível para o interior do Chaco. O objetivo era ocupar o território rapidamente, para forçar o Paraguai a um acordo e acabar rapidamente com a guerra, mas a situação logo se reverteu a favor dos paraguaios.

Apesar da superioridade numérica, a infraestrutura boliviana era quase nula. Não haviam ferrovias ou hidrovias que pudessem facilitar o transporte de tropas, e suas estradas eram malfeitas e esburacadas. Já o Paraguai, apesar de ser mais pobre que a Bolívia, era um país cercado por dois grandes rios e contava com pequenas estradas de ferro ligando o país ao interior do Chaco Boreal. Isso permitiu aos paraguaios uma mobilização rápida de seu exército, mobilização esta, que era impossível para os bolivianos conseguirem acompanhar.
 

O Exército Boliviano chegou a um momento que sua superioridade numérica não servia mais para nada. Sua tropa era maior, mas demorava para chegar na linha de frente, possibilitando ao Paraguai arranjar tempo para trazer um efetivo maior do interior do país e também organizar seus ataques.
 
O Exército Paraguaio estava em menor número, mas tinha armas modernas e seus homens estavam dispostos à lutar até o fim. O Paraguai havia mobilizado, no início, em torno de 15.000 homens, enquanto que os bolivianos mobilizaram em torno de 10.000 homens.

O Marechal paraguaio, José Félix Estigarribia, acreditando que havia em torno de 1200 bolivianos, preparou um ataque para retomar o forte de Boquerón. O forte contava com apenas 448 soldados, 350 fuzis, 13 metralhadoras pesadas e 27 leves, além de 2 canhões Krupp, 1 canhão Schneider e 2 canhões antiaéreos. Depois de vários dias de combates, os bolivianos exaustos, famintos e doentes, abandonaram o forte, permitindo aos paraguaios avançarem para o norte.
 

Logo depois da derrota em Boquerón, o presidente boliviano convoca Hans Kundt para retornar ao Comando-Geral do Exército. Kundt, aceita e tenta promover ataques baseados nos já antiquados métodos da Primeira Guerra Mundial, mas como não era um bom estrategista, acabou colocando em prática ofensivas que fracassaram.
 
No mês de outubro de 1932, o Paraguai ataca o poderoso Forte Arce, conseguindo conquistá-lo. No ano seguinte (1933), o Exército Boliviano, comandado por Kundt, contra-ataca o Forte Nanawa empregando 7000 homens. Os 1485 paraguaios resistem sob o comando de Estigarribia, por vários meses, até que em julho do mesmo ano, os bolivianos desistem.
 
O Exército Boliviano empregou blindados durante o segundo ataque contra Nanawa, os veículos empregados foram os Vickers E Type 6 Ton e Cardoen-Loyd, que eram guarnecidos por soldados armados com lança-chamas e apoiados por um avião.

Vickers E Type 6 Ton similar ao usando pelo exército boliviano
 
Vickers E Type 6 Ton boliviano durante a Guerra do Chaco

A efetividade da operação das viaturas blindadas nesta guerra ficou limitada por vários motivos: falta de experiência dos militares bolivianos na operação de blindados; difícil terreno encontrado na região do Chaco; calor excessivo (40º) durante o combate, motivo este, que obrigava a guarnição operar os blindados com as escotilhas abertas, o que os tornou muito vulneráveis; e devido as táticas prussianas empregadas pelo General alemão Hans Kundt, que utilizava o conceito de ataques frontais, primando pela tomada do território e não necessariamente a destruição do inimigo, tática esta, que culminou para a captura ou destruição dos veículos blindados pelos paraguaios.

Tanquete Carden-Lloyd no exército boliviano armado com uma metralhadora Vickers 7.65mm water cooled

Em dezembro de 1933, ocorre o cerco de Campo Vía, onde 10.000 bolivianos tentam desesperadamente contra-atacar os paraguaios, que descobrem os planos bolivianos através da interceptação de mensagens de rádio e se preparam para o ataque.

A Força Aérea Boliviana tenta lançar bombas sobre os inimigos, mas acertam os próprios combatentes bolivianos. Desta forma, o combate inicia, os paraguaios (17.000) homens comandados por Estigarribia, resistem e vencem aniquilando quase todo o exército boliviano de uma só vez. Com isso, o Marechal Kundt foi substituído no Comando-Geral pelo General Peñaranda.
 

Em 1934, o Exército Boliviano tentava enviar mais reforços, mas em razão do clima e as chuvas que encharcavam as estradas esburacadas, suas operações ficaram prejudicadas. Além das dificuldades econômicas, oficias de alta patente da Bolívia liderados pelo General Peñaranda, deram um golpe de estado, derrubando Salamanca e permitindo que José Luis Tejada assumisse como novo presidente boliviano.

Daniel Salamanca em 1931

Em 12 de junho de 1935, acontece a última batalha da referida guerra, foi em Ingavi, quando 3000 bolivianos (desgastados e com pouca logística) comandados pelo coronel Bretel, entram em combate com 850 paraguaios (focados no combate e empregando armas modernas) comandados pelo coronel Rivarola, que derrotou definitivamente os bolivianos.

A partir deste episódio, a Bolívia já sem forças, se rende, iniciando as negociações de paz, que foram efetivadas em 21 de julho de 1938, quando os dois países aceitaram o acordo de paz realizado em Buenos Aires, ficando o Paraguai com a posse de 3/4 do Chaco Boreal e a Bolívia com 1/4, acabando com três anos de guerra, e levando os dois países a novas dificuldades econômicas devido à guerra e à descoberta de que os supostos poços de petróleo não existiam.
 

Sobre a Guerra do Chaco é possível concluir que, os dois atores envolvidos (Bolívia e Paraguai), travaram um conflito por vários motivos: a disputa por território, conquista do acesso ao mar e domínio de fontes de petróleo na região do Chaco Boreal, região que se localiza na fronteira entre os dois países.

A Bolívia apesar de dispor de um exército de 250.000 homens, que enfrentou o Exército Paraguaio que contava com apenas 150.000 homens, acabou sendo derrotada. As causas da derrota do Exército Boliviano podem ser atribuídas a vários fatores: falta de estrutura das vias de acesso que levavam ao teatro de operações; planejamento e estratégias ultrapassadas; carência de logística e experiência em combate, assim como, a falta de coordenação.

Por outro lado, o Exército Paraguaio, mesmo com o efetivo menor, mas contava com experiências adquiridas em guerras anteriores, bem como, possuía vias de acesso, tanto terrestres como fluviais, que possibilitavam o transporte de suas tropas com maior rapidez, contribuindo para atacar e derrotar seu oponente.

Por fim, a Guerra do Chaco foi não apenas o maior conflito da América Latina durante o século XX, deixando um saldo de 30.000 paraguaios mortos e 60.000 mortos pelo lado boliviano, mas uma guerra desnecessária, que contribuiu apenas para agravamento da crise econômica dos dois países, pois, após a guerra descobriu-se que as supostas reservas de petróleo na região do Chaco não existiam.

Aeronaves Ju 52 confiscadas pelo exército durante a guerra com o Paraguai da aerolíneas LAB

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