A Comemoração dos 60 Anos de Operações Especiais no Brasil

A Comemoração dos 60 Anos

de Operações Especiais no Brasil

 

Por Eduardo e Rogério Atem de Carvalho

Fotos dos Autores

 

 

A FESTA

 

No dia 04 de agosto de 2017, no pátio de formatura do Comando de Operações Especiais (COpEsp), na cidade de Goiânia, atingiu-se o auge da comemoração dos 60 anos das Operações Especiais do Exército Brasileiro. As celebrações já haviam começado antes com eventos esportivos, jantar para os pioneiros e atividades culturais. Faltava aquele tipo de celebração tipicamente militar, com demonstrações de habilidades específicas e por fim o desfile da tropa em continência a quem devido.

Gen Bda Sérgio Schwingel, comandante do COpEsp, recepciona a todos e conduz a cerimônia alusiva aos 60 anos das OpEsp no Brasil.

Na superfície, uma cerimônia militar usual, porém para olhos mais atentos, um extraordinário caleidoscópio humano, revelando diante de nós gerações passadas e presentes de formidáveis soldados de nossa nação.

 

Para as festividades foram convidados Operadores Especiais de todo o Brasil, dos quais muitos se fizeram presentes, desde os pioneiros até os mais jovens. O orgulho de fazerem ou terem feito parte de uma tropa única e constantemente empregada em ações reais em proveito de nossa nação se revela em cada conversa, alternando-se com inevitáveis histórias pitorescas, onde o humor negro e a humildade camuflam a abundância de coragem e abnegação.

É reconfortante notar também que pelo menos nesta Grande Unidade, praças mais modernos são lembrados e convidados para as grandes celebrações e homenageados junto com os comandantes do passado. A poderosa coesão e confiança mútua, nascida no calor do combate, é visível na pouca distância hierárquica existente, onde o general troca lembranças com o soldado e os dois rememoram episódios de grande perigo, quando lutaram ombro a ombro, tiro a tiro, por ruas e becos ou nas selvas.

Após o farto e bem preparado almoço, veio a parte mais saborosa, quando se formavam as rodas de conversa e as lembranças vinham à tona. Foi possível ouvir de um herói condecorado na missão do Haiti contar com naturalidade como foi baleado na cabeça, mas permaneceu em combate até resgatar o último companheiro.

Ou ainda o sargento, grande atirador de nossa tropa, ferido por um membro de gang de rua, mas sem poder revidar porque o elemento virou de costas e pôs-se a correr – a norma de conduta da ONU proíbe disparar contra o adversário se ele der as costas.

Também permaneceu em patrulha, sem revelar o ferimento à bala, para não causar qualquer preocupação nos companheiros de farda. Em dias de total insegurança e de degradação moral, é reconfortante saber que existe um grupo de pessoas capazes de resistir a tudo para levar a cabo sua missão.

Estatueta comemorativa oferecida aos pioneiros

OS VETERANOS

Presentes às dezenas neste aniversário, os veteranos de todas as idades tiveram a oportunidade de entrar em forma e desfilar em continência ao Gen Ex R1 Joubert de Oliveira Brízida, Operador Especial 09, após autorização do Comandante do Exército, Gen Ex Villas Boas Corrêa, cuja presença foi comemorada por todos, como um sinal de respeito e consideração às FE.

Para o desfile, de soldados a generais da ativa, todos compuseram um clássico “tijolão” e abriram o desfile daquela manhã. Notava-se que enquanto alguns veteranos são ainda bastante jovens, indicando que recentemente se desligaram do COpEsp, outros já possuem cabelos grisalhos, indicando sua ligação com época em que o então BFE, unidade singular que concentrava a todos, ainda era sediada na cidade do Rio de Janeiro.

Os Pioneiros, a partir da esquerda: Gen Ex Joubert de Oliveira Brízida (OE 09), Gen Bda Iran Carvalho (OE 03), Cel Paulo Filgueiras Tavares (OE 02), Gen Div Med Antônio Luiz Coimbra de Castro (OE 07), ST Iury Nicolau Kler (OE 13). O Cel Paulo Filgueiras Tavares (OE 02), fardado, doou para o Museu das Operações Especiais diversos artefatos indígenas por ele recebidos de presente, de tribos já extintas do Parque Nacional do Xingú.

O aproveitamento imediato de praças temporários do COpEsp por unidades de elite de diversas PMs do Brasil, também permitiu que se vislumbrasse diversos uniformes de corporações estaduais, onde hoje os veteranos continuam a prestar serviços a seu país.

 

OS PIONEIROS

Presentes nesta comemoração um grupo daqueles que temos poucas vezes na vida a chance de conhecer: Os Pioneiros. Homens que enxergam adiante do seu tempo, coletam um conjunto de novas ideias e novos conceitos e os combinam com práticas já então consagradas e leis eternas, numa amálgama que só o tempo revelará se vitoriosa ou não.

Contam com pequenos apoios de autoridades também discretamente visionárias, mas que tem que equilibrar dois mundos em colisão: o que parte e o que chega. E por fim, para os afortunados, o tempo lhes faz justiça. Quem esteve em Goiânia naquela manhã ensolarada de 04 agosto de 2017, teve a oportunidade de admirar alguns remanescentes desse grupo que foi pioneiro e tem reconhecidos seus méritos.

A Alameda dos Pioneiros, onde os primeiros Operadores Especiais são homenageados.

Visitando a entrada do atual Comando de Operações Especiais, na sua alameda principal, de nome Alameda dos Pioneiros, guardam silenciosas as estátuas representando um destacamento de Operações Especiais em patrulha, cada estátua representando um Pioneiro, graduados na primeira turma.

 

Major Gilberto, criador das Forças Especiais no Brasil e operador 01, conduzindo a Patrulha Eterna até o Gorro Preto.

A patrulha é comandada pelo Operador Especial 01 e fundador das Forças Especiais no Brasil, Major Gilberto. A patrulha se dirige para o Gorro Preto, monumento aos Operadores Especiais mortos em serviço. Ficamos imaginando se no futuro haverá algum ritual de entrada e incorporação de novos militares ao Comando de Forças Especiais, que implique na sua plena realização apenas após seu desfile solene por essa silenciosa alameda e em continência aqueles nominados no Gorro Preto…

Monumento Gorro Preto, homenagem a todos os Operadores Especiais mortos em serviço. No interior do monumento Gorro Preto,  estão os nomes de todos os Operadores mortos em serviço.

 

NASCIMENTO

 

E como nasceu esse grupo? No já longínquo ano de 1957, em plena Guerra Fria, apenas 12 após o final da 2a Guerra Mundial, o Major Gilberto Antônio Azevedo e Silva, voltava de uma estadia oficial nos EUA, e trazia consigo em sua bagagem sementes que germinariam na então Divisão Aeroterreste do Exército Brasileiro.

 

Uma delas culminaria no primeiro Curso de Operações Especiais a ser realizado no país, entre 02 de dezembro de 1957 e 04 de julho de 1958. Desta forma, o major Gilberto se tornou o Operador Especial 01. Ao fim, dos 20 candidatos iniciais, 15 oficiais e sargentos conquistam a laura de Operadores Especiais. A leitura do relatório escrito pelo major Gilberto, ao final do curso, revela um cotidiano de aprendizado onde cada especialista se tornava instrutor de suas habilidades e depois aluno de seus colegas de curso.

 

Era um universo restrito às armas de Infantaria, Engenharia e ao serviço de Intendência. Seus objetivos básicos: se infiltrar na retaguarda profunda do inimigo e causar destruição e confusão, através da sabotagem, destruição, conquista de pontos chave, reconhecimento estratégico, instrução de guerrilheiros, captura de chefes inimigos e socorro às populações ameaçadas por catástrofes.

Como que efeito colateral no Brasil se tornaram também capazes de realizar resgates tipo SAR (Search and Rescue), em regiões remotas de nosso país e ainda uma capacidade de lidar harmonicamente com indígenas, uma característica reforçada desde o primeiro curso. E como não podia deixar de ser em todo o esforço honesto no Brasil, as imensas dificuldades materiais de se instalar o curso, mesmo que em construções modestas e com recursos mínimos, se apresentaram desde o início na chamada Colina Longa, no Rio de Janeiro.

 

ATUALIDADE

 

Das modestas instalações na Colina Longa, para o aquartelamento que hoje abriga as unidades que compõem o equivalente a uma brigada, que compõem o elemento operacional do Comando de Operações Especiais foi um longo caminho.

Companhia de Guerra Química.

Os Comandos se transformaram em um batalhão, o maior deles, e as operações de informação e de guerra QBN, bem como as de apoio passaram a contar com unidades próprias também. Embora existam subunidades, uma no Rio de Janeiro e outra em Manaus, com todas suas unidades concentradas em um único espaço, se otimizou a interação entre os elementos operacionais e foi reduzido o necessário esforço administrativo.

 

Esses dois fatores, somados à proximidade do Aeroporto de Goiânia, contribuem para os rápidos, e muitas vezes inopinados, acionamentos dos elementos operativos do COpESp. E estes acionamentos não são incomuns, pcomo pudemos testemunhar. Um pouco desta “rotina”, onde “não há um dia igual ao outro” – nas palavras de um operador líder, associado ao histórico das unidades, será contado por nós em artigos futuros, para que se tenha uma ideia da complexidade das operações desta grande unidade.

 

Para finalizar, ao olhar para o passado e presente das Forças Especiais do Exército Brasileiro, percebe-se que é mais do que justo comemorar os 60 Anos das Operações Especiais no Brasil prestando homenagem aqueles que com seu profissionalismo, abnegação e amor à Pátria nos permitem viver mais tranquilos.

 

 

“COMANDOS! FORÇA! BRASIL!”

 

 

AGRADECIMENTOS

 

Os autores agradecem ao Cmt do COPESP, Gen Bda Sérgio Schwingel pela confiança depositada; ao 1o. BAC, nas pessoas de seu Cmt, Cel Baumgratz, seu Sub Cmt, Maj Franzoni, e ao pessoal do Dest Rec e Caçadores, pela fraternal acolhida; e por último, mas não menos importante, ao Cmt do Btl Ops Psc, Cel Hobert, pelas longas e francas conversas.

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