1914-2014, a Europa vulcânica

ENRIQUE BARÓN CRESPO
 
No centenário de 1914, um exercício de comparação entre os mapas políticos europeus às vésperas da Primeira Guerra Mundial, ao final da Segunda Guerra Mundial e na atualidade é altamente ilustrativo das profundas mudanças produzidas em uma realidade ainda magmática, em especial ao leste do Continente.
 
1914. Da Europa das nações à Europa dos acordos. Na segunda metade do século XIX, a Europa das nações foi consolidada, com a unificação italiana realizada pelo Piamonte, a unidade alemã pela Prússia de Bismarck (que ganhou território em guerra contra Dinamarca, Áustria e França, que perdeu a Alsácia-Lorena, enquanto o Império Otomano se enfrentou com as nacionalidades balcânicas. A triplo aliança se formou entre o Império alemão, o austro-húngaro com o Império Otomano e a Bulgária e a Itália (que mudou de bloco em 1915). Em frente a ela se formou a entente cordial entre o Império Britânico, França, Rússia e depois Rússia e Estados Unidos. Depois da guerra, impulsionaram os impérios austro-húngaro, otomano e russo; a Polônia ressuscitou; A Hungria perdeu dois terços de território; nasceram a Irlanda, Estônia, Letônia e Lituânia, Checoslováquia, Ucrânia, Armênia, Georgia e Azerbaijão e o Reino da Iugoslávia como Estados.
 
"O continente europeu vai se configurando em dois blocos"
 
1945-1992. A guerra fria. O continente e a Alemanha ficaram divididos pela cortina de aço, com o equilíbrio do terror pela arma atômica. Em sua parte ocidental, a Aliança Atlântica a a OTAN como braço armado, com os EUA como potência dominante e a criação da Comunidade Euroeia. Em sua parte centro oriental, a URSS, potência euroasiática, com o Pacto de Varsóvia e o COMECON. Stálin redesenhou o mapa europeu com as sobreposições e deslocações de países, como o termo de Kaliningrado (a antiga Könisberg, capital da Prússia oriental).
 
1992-2014. Depois da queda do muro de Berlim em 1989, impulsionaram, em guerra, a Iugoslávia e, de modo pacífico, a URSS. Nasceu a União Europeia (UE) em 1993 com 15 Estados e entraram as neutras Áustria, Suécia e Finlândia. Depois, quando puderam decidir livremente, Polônia, Hungria, Estônia, Letônia e Lituânia, Chéquia e Eslováquia (depois do "divórcio de terciopelo"), mais Malta e Chipre aderiram à UE. Das repúblicas procedentes da antiga Iugoslávia, Eslovênia e Croácia entraram na UE. Sérvia, Montenegro, Bósnia-Herzegovina, Macedônia e Kosovo negociam para entrar. Também é o caso da Albânia e Turquia.
 
Em paralelo, os novos membros se integraram na Associação para a paz promovida pela OTAN, com uma substancial retirada militar dos Estados Unidos no continente europeu.
 
O Conselho da Europa com o Tribunal Europeu de Direitos Humanos tem como membro todos os Estados europeus (47 Estados), exceto a Bielorrússia.
 
"O papel da Ucrânia seria fundamental no projeto de União Euroasiática"
Na etapa atual, o continente europeu vai se configurando em dois blocos. Ao oeste, o processo de consolidação da UE, que passou de 15 a 28 Estados, e ao mesmo tempo de ampliação da mesma para o leste. Em seu seio, o núcleo central é a União Monetária com a Eurozona que por enquanto inclui 18 Estados.
 
As relações com a Rússia se estabeleceram sobre a base do Acordo de Cooperação firmado em 1997, pendente de renovação desde 2007 por diferenças sobretudo nos temas de democracia e direitos humanos. Por sua vez, o presidente Putin lançou o projeto da União Euroasiática, com a Bielorrússia e Cazaquistão como sócios fundadores, para 2015, a partir da Comunidade Econômica Euroasiática, seguindo o modelo de construção da União Europeia a partir da união alfandegária por passos.
 
Em sua concepção, o papel da Ucrânia neste projeto seria fundamental, por seu peso econômico e geopolítico além das razões históricas. Nesta situação, a estabilização da fronteira leste da UE adquire um valor político decisivo.
 
Enrique Barón foi deputado do Parlamento Europeu entre 1986 e 2009.

Compartilhar:

Leia também

Inscreva-se na nossa newsletter