Guerra no Iraque: 10 anos sem ditador

Um relatório da última auditoria relativa à normalização no Iraque faz um balanço pessimista: os esforços e os meios destinados para o efeito pelos EUA fracassaram completamente. Em véspera do 10º aniversário do início da campanha iraquiana, chegamos uma conclusão evidente: foi esta guerra que criou uma enorme zona de turbulência no Oriente Médio.

O relatório, apresentado ao Congresso norte-americano pelo inspetor geral especial para a reconstrução do Iraque, Stuart Bowen, aponta que os 60 bilhões de dólares gastos no decurso da ocupação não resultaram em alterações positivas naquele país. O dinheiro foi por água abaixo, afirma Bowen, segundo o qual o fracasso real do programa de reabilitação iraquiana deverá servir de lição para a realização de tais operações no futuro, transmite a propósito a BBC.

Mas esta não parece ser a única lição que a guerra iraquiana deu aos seus participantes, não obstante os mais de 800 bilhões de dólares que Washington canalizou desde que as tropas americanas atravessaram a fronteira em 20 de março de 2003. O derrube do regime de Saddam Hussein custou aos EUA 5,5 mil vidas de soldados e mercenários. O número de vítimas entre a população local tem de ser precisado. Segundo as estimativas diversas, no período entre 2003-2012, no Iraque pereceram 90-120 mil pessoas inocentes.

Para os EUA, a maior lição consiste em elevadas baixas não justificadas pelo objetivo final, considera Alexander Ignatienko, presidente do Instituto de Religião e Política. Muitos mais graves são as consequências da agressão norte-americana, irreversíveis e dificilmente calculáveis, revelou o perito em entrevista à Voz da Rússia.

"Na fase inicial da ocupação existia uma chance de prosseguir a linha de criação de um estado laico, preconizada em tempo por Saddam Hussein através da sua ideologia e a prática de baasismo. Mas os EUA elaboraram primeiro uma Constituição transitória e depois a Lei Fundamental atual, segundo a qual o Iraque se transformava em estado multi-confessional. Isto levou à situação que se vive agora. Na realidade, no Iraque ocorre a guerra inter-confessional entre sunitas e shiitas".

O problema do "triângulo sunita" nos bairros norte e ocidentais de Bagdá, onde agora residem os partidários de Saddam Hussein, continua pendente. O Iraque continua a viver à beira do abismo. O Curdistão iraquiano atua como entidade independente. A sua capital, Arbil,  tem fornecido desde a primavera do ano passado petróleo à Turquia, desprezando os interesses do governo central. A província de Basra, igualmente rica em petróleo, não esconde o seu desejo de criar uma Confederação do Sul. As regiões de Kirkuk e Mosul têm sido palco de confrontos entre os grupos armados de sunitas e shiitas. Na província de Anbar, próxima da Síria, estão intensificando as suas acções os grupos da Al-Qaeda no Iraque que vieram a assumir o controle na zona fronteiriça.

O Iraque, rico em petróleo, continua sentindo a falta de combustível e energia, sofrendo de frequentes apagões elétricos. Os preços vão subindo a ritmos vertiginosos. Os  degradados sistemas da Educação e Saúde Pública estão em declínio, sendo a taxa de desemprego em algumas regiões superior a 40%.

Ao contrário do objetivo de proteger a região contra o regime agressivo de Saddam Hussein e suas armas químicas, a incursão dos EUA deu início à turbulência no Médio Oriente. O evoluir da situação deixa claro que a região continuará instável, pelos menos, nos próximos 50 anos, disse à Voz da Rússia, Serguei Serguichev, perito do Instituto do Oriente Médio.

"Estamos no início do processo e este início não deixa de assustar. Os eventos mais graves estão pela frente e terão início quando o Irã cair. Tudo isso levará a um caos semelhante à guerra na Somália, capaz de abranger toda a região do Mediterrâneo. É pouco provável que no Iraque, na Líbia e na Síria se estabeleça em breve uma paz sólida. Primeiro ruirá o Irã, depois o Líbano e a seguir será abalado o Reino da Jordânia".

Peritos assinalam que a zona de turbulência poderá causar a deslocação periférica dos povos, capaz de arruinar os estados europeus meridionais. Para que este cenário pessimista não se torne  realidade é necessário fazer parar a guerra na Síria. A questão é de saber como fazê-lo, dado que o conflito sírio parece ser apenas um elo na reação em cadeia que se iniciou no Iraque.

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