O Ebola rompe fronteiras

O temor que toma conta do mundo com a proliferação do vírus ebola se tornou mais intenso na semana passada no Brasil. Na quinta-feira 9, o País registrou o primeiro caso suspeito da doença. Trata-se de Souleymane Bah, 47 anos, solteiro, que veio da Guiné – um dos países mais atingidos pela epidemia que assola a África.

Ele deixou a capital de seu país, Conacre, no dia 18 de setembro, passou pelo Marrocos e, no dia 19 de setembro desembarcou no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. De lá, seguiu para a Argentina. Depois foi para Dionísio Cerqueira, em Santa Catarina, onde pediu refúgio político à Polícia Federal.

Acabou chegando a Cascavel, no interior do Paraná, onde ficou hospedado em uma casa com mais dois casais. Na tarde da quarta-feira 8, teve febre, tosse e dor de garganta. Procurou ajuda no posto de atendimento básico do município paranense, onde permaneceu em isolamento até ser transferido, na madrugada da sexta-feira 10, para o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, no Rio de Janeiro.

A instituição é um dos serviços de referência do País preparados para o atendimento de doenças infecciosas. Na sexta-feira 10, Bah não tinha mais febre e uma suspeita de malária havia sido descartada.

A ocorrência que deixou o País em alerta na verdade é parte da evolução de uma epidemia que, sabia-se desde seu início, não ficaria restrita ao continente africano. Há tempos a Organização Mundial de Saúde vem alertando os países para preparem esquemas de contenção do vírus, já que há intenso tráfego internacional de viajantes registrado hoje pelo mundo.

A confirmação de que o cuidado se justifica apareceu quando os Estados Unidos registraram seu primeiro caso de ebola. O liberiano Thomas Duncan, 48 anos, chegou ao País para participar da formatura do filho e acabou morrendo na quarta-feira 8, em Dallas. Na semana passada, foi a vez de a Espanha ter seu primeiro caso. O vírus contaminou a enfermeira Teresa Romero, que havia cuidado do padre Manuel Viejo, infectado na África, transferido para um hospital em Madrid e morto dias depois.

Todos esses casos estão servindo para colocar em xeque os esquemas de proteção montados pelas nações. Nos EUA, ficou patente que ele falhou, e por causa de erros grotescos.

Ao sentir-se mal, Eric procurou o hospital e relatou que havia chegado da Libéria, outro país que está no epicentro da epidemia, junto com Serra Leoa. Mas a informação não foi repassada ao médico e o liberiano acabou liberado. Voltou três dias depois, quando a doença se agravou.

Na Espanha, ao que parece também houve falha preocupante. A enfermeira teria se infectado depois de tocar o rosto com a mão coberta pela luva com a qual havia manuseado o padre. O episódio mexeu com os profissionais de saúde espanhóis, que exigiram a demissão da ministra da Saúde, Ana Mato.No Brasil, pelo menos à primeira vista, o atendimento de Souleymane Bah seguiu o que ditam as normas de segurança nestes casos.

Ao serem informados da procedência do guineense e de que tivera sintomas, apesar de estar assintomático no momento do exame, ele foi prontamente isolado e uma equipe do Evandro Chagas foi enviada imediatamente ao local. Durante o contato com o paciente, os profissionais usaram as vestimentas indicadas, protegendo corpo e rosto.

Seu transporte até o aeroporto de onde seguiu para o Rio de Janeiro foi feito em ambulância do Samu preparada especialmente para isso. O mesmo ocorreu no avião da FAB que o transportou para o Rio de Janeiro. Nele, a tripulação também estava protegida. Já na capital fluminense, foi levado para o Evandro Chagas em ambulância especial.

As amostras de sangue só foram coletadas dentro da instituição carioca, onde havia mais segurança no seu manuseio. Como o previsto, elas foram enviadas para o Pará, a uma unidade do Instituto Evandro Chagas que será a responsável pela análise do material coletado de casos suspeitos – trata-se de um laboratório de nível de segurança 3, o que significa que dispõe de um dos mais seguros sistemas de proteção contra eventuais acidentes no manuseio de vírus e bactérias.

Até o início da tarde da sexta-feira 10, tinham sido identificadas 64 pessoas que haviam tido contato com Bah após a manifestação da febre. “Antes do aparecimento dos sintomas não há risco de transmissão”, disse Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde. Elas serão monitoradas durante 21 dias (período de incubação do vírus), mas eram consideradas de baixo risco.

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