A nova concepção doutrinária da Força terrestre e a Mecanização

O Projeto GUARANI


A criação de competências e capacidades para atendimento a um novo espectro de atividades, com um novo conceito de efetividade para fazer frente às novas ameaças, tornou-se via necessária para o Exército Brasileiro (EB) nortear seu emprego.

Nesse mister, a Doutrina Militar Terrestre, um dos vetores do Processo de Transformação do Exército, tem papel fundamental, por apresentar um dinamismo indispensável ao atendimento das demandas de um mundo em que a natureza dos conflitos tem um caráter volátil e impregnado de novas tecnologias que acabam por determinar a participação da sociedade. Diante de um futuro cada vez menos previsível, lidar com a incerteza passou a ser o desafio. O ambiente de indefinição agrava-se quando não há um oponente claramente definido que motive a sociedade para assuntos de Defesa.

O combate ao terrorismo, a proteção da sociedade contra as armas de destruição em massa, à participação em missões de manutenção da paz sob a égide de organismos internacionais e o controle de contingentes populacionais ou de recursos escassos (energia, água ou alimentos) tornaram–se vertentes inequívocas de possibilidade de emprego do aparato militar em defesa do Estado brasileiro.

A nova dimensão do estamento da guerra, com características ímpares de surgimento e permanência, requer dotação de materiais com tecnologia agregada e capacitação de pessoal para que sua estrutura tenha flexibilidade, adaptabilidade, modularidade, elasticidade e sustentabilidade, para atuar no amplo espectro das operações. Nesse contexto, nas quais a prontidão operativa representa o grau de efetividade obtido pela doutrina colocada em ação.

Os campos delimitadores dos conflitos na atualidade (humano, informacional e físico) têm imposto significativos reflexos no modo de operar das forças militares, incluindo a mudança do material de emprego militar (MEM). A letalidade do aparato militar deve ser seletiva e efetiva, baseada no emprego de materiais incrementados pela tecnologia que circunda o mundo em que vivemos.

Esse ambiente muda completamente as condicionantes para a decisão dos comandantes em atividade. O foco da análise do ambiente operacional era concentrado na dimensão física, considerando a preponderância dos fatores terreno e condições meteorológicas sobre as operações. As variações no caráter e na natureza do conflito, resultantes das mudanças tecnológicas e sociais, impõem uma visão que também considere as influências das dimensões humana e informacional sobre as operações militares e vice-versa.

Alinhado com a Estratégia Nacional de Defesa e com a Doutrina das Forças Armadas da maioria dos países ocidentais, o EB passa a adotar a geração de forças por meio do Planejamento Baseado em Capacidades. Entende-se como capacidade a aptidão requerida a uma força ou a uma organização militar para que possa cumprir determinada missão ou tarefa.

É obtida a partir de um conjunto de sete fatores determinantes, inter-relacionados e indissociáveis que formam o acrônimo DOAMEPI: doutrina, organização (e/ou processos), adestramento, material, educação, pessoal e infraestrutura. Desse modo, o desenvolvimento de capacidades será calcado na análise da conjuntura e em cenários prospectivos com o objetivo de identificar as ameaças concretas e potenciais ao Estado.

Como reflexos da importância da Dimensão Humana, torna-se necessário adotar soluções que priorizem a redução do custo em vidas humanas, a proteção do homem e a preservação do bem-estar físico e mental, como, por exemplo, equipamentos de proteção individual, plataformas blindadas e sistemas de proteção ativa e passiva.

Sob esse prisma e atendendo ao que determina a visão da sociedade sobre o valor intrínseco da guerra, o EB resolveu adotar o novo conceito de veículo blindado para suas tropas mecanizadas, ou seja, a Nova Família de Blindados de Rodas (NFBR), que tem, no carro Guarani, sua clara definição de desenvolvimento de MEM a partir do esforço capitaneado pela indústria nacional.

O desenvolvimento do carro Guarani tem por objetivo atender à necessária transformação das Brigadas de Infantaria Motorizadas em Mecanizadas e à impositiva modernização das Brigadas de Cavalaria Mecanizadas. A proposta de substituir os carros Cascavel e Urutu, fabricados pela Engesa na década de 1980, resgata o conceito de operacionalidade como objetivo basilar da Força Terrestre que se insere na Era do Conhecimento.

Merece destaque a observância do novo conceito de Consciência Situacional para que os carros integrantes dessa NFBR possam contribuir de modo eficaz aos objetivos a que se propõe, por permitirem que a atuação de Comando e Controle, em apoio ao comandante tático, seja integralmente atendida.

O Brasil está diante de um novo conceito de emprego das forças de defesa, baseado em alinhamento de sua doutrina com a praticada por países considerados de primeiro mundo. O Projeto Piloto que está sendo implantado na 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada conta, inicialmente, com a distribuição de viaturas Guarani para mobiliar as Unidades valor batalhão.

Como são viaturas de grande robustez e alto valor agregado em tecnologia, definitivamente inserem o EB na Era do Conhecimento, podendo preparar recursos humanos nas diversas áreas de atuação e viabilizar o conceito de emprego tático das frações previstas para defesa do território nacional e de atendimento aos Organismos Internacionais em operações de paz.

As viaturas contarão com sistema de comando e controle, dispondo de software de gerenciamento do campo de batalha com interface com o Sistema C² em Combate, comunicação externa sem fio, estrutura para tráfego de voz, dados e imagens, além ser totalmente integrado à estrutura eletrônica e ao sistema de armas. Este último, dependendo da versão, pode ter uma torre manual, remotamente controlada com canhão 30 mm, remotamente controlada para metralhadoras, ou uma torre com canhão 105 mm para a Viatura Blindada de Reconhecimento — Média de Rodas (VBR-MR).

Nesse último caso, destaca-se a torre REMAx, fabricada pela empresa ARES, localizada no município do Rio de Janeiro (RJ), em parceria com o Centro Tecnológico do Exército. A REMAX permite o uso de metralhadora .50 ou 7,62 mm, além de quatro lançadores de granada 76 mm, sendo a primeira estação de armas remotamente controladas produzidas e desenvolvidas no Brasil, conferindo segurança e eficiência à guarnição da viatura, particularmente em operações urbanas, perfeitamente ajustada com o pensamento da população sobre a minimização de danos à vida e a seletividade dos sistemas de armas.

Indubitavelmente, a evolução doutrinária do EB, verdadeira mudança transformacional de conceitos, encontrou, na mecanização e no Projeto Guarani, as molas motrizes para catapultar o esperado alcance de objetivos audaciosos na Era do Conhecimento. A proposta de posição hegemônica no cenário sul-americano ficou facilitada ante a proatividade que o Brasil assumiu na caminhada para transformar o pensamento de defesa em realidade do cotidiano. A indústria de defesa como parceira do Exército e a sociedade como beneficiária desse processo de mudança são sustentáculos de um Brasil potência. 

Nota DefesaNet

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