Boeing e Embraer podem fechar acordo este mês

Henrique Gomes Batista


O acordo entre Boeing e Embraer pode ser finalizado ainda neste mês. As empresas e o governo brasileiro estão fechando os últimos detalhes da joint venture que deve dar à americana o controle sobre a aérea de jatos regionais da Embraer. A rapidez em fechar um acordo, dizem fontes, ajudaria a afastar as incertezas sobre as vendas da Embraer – que divulgou nesta quinta-feira forte redução dos lucros no quarto trimestre de 2017 – e seria também para evitar a "politização" do acordo no ano eleitoral.

Se for finalizado até o fim de março, o acordo teria mais três meses para ser aprovado por todos os acionistas. No caso do Brasil, o grande objetivo é convencer o governo brasileiro que não haverá influência americana em questões de defesa brasileira.

Driblando restrições americanas

Nas negociações, os americanos estão tentando mostrar que não será uma compra simples e que a Boeing pode usar o Brasil para desenvolver produtos na área de Defesa que seriam mais facilmente vendidos para terceiros mercados, sem a restrição das leis americanas que impedem a exportação de tecnologia sensível da área militar a outras nações.

A empresa americana tem se esforçado para mostrar que o negócio é bom para o Brasil. Já há companhias aéreas globais que estão querendo realizar compras e veriam com bons olhos a união da Boeing com a Embraer para ter, em um único fornecedor, uma gama completa de aeronaves. Alguns negócios podem estar suspensos ou sendo atrasados por causa desta indefinição na finalização do acordo.

Reunião com Meirelles

Oministro da Fazenda, Henrique Meirelles, se reunirá nesta tarde, em Nova York, com altos executivos da Boeing. Participarão do encontro, o ministro Greg Smith, vice-presidente executivo da Boeing; Travis Sullivan, vice-presidente de Estratégia da Boeing e Donna Hrinak, presidente da Boeing América Latina.  Meirelles não antecipou o que espera da reunião.

– Vamos aguardar – disse Meirelles. – Primeiro tenho que ouvir o que eles têm a dizer.

Lucro líquido da Embraer avança 35,9% em 2017, mas despenca 82% no quarto trimestre¹

Em meio a negociações com a americana Boeing para a combinação de seus negócios, a Embraer divulgou nesta quinta-feira um lucro líquido de R$ 795,8 milhões em 2017, um aumento de 35,9% em relação aos R$ 585,4 milhões reportados no ano anterior. No quarto trimestre, entretanto, a fabricante de aviões brasileira teve uma queda de 81,92% no lucro líquido, que fechou o período em R$ 117,2 milhões na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, quando o lucro líquido atingiu R$ 648,3 milhões.

A Embraer apontou que o resultado da receita do quarto trimestre de 2017 teve um impacto negativo de R$ 217,2 milhões. A maior parte (R$ 178,6 milhões) veio do segmento de aviação executiva por causa de impairments, um termo contábil usado para quando há deterioração de ativos. O impairment no segmento de Defesa & Segurança foi de R$ 28,7 milhões e de R$ 178,6 milhões no segmento de Aviação Executiva. Segundo o vice-presidente executivo financeiro e de relações com investidores da Embraer, José Filippo, trata-se de um procedimento normal, uma regra contábil, em que modelos mais antigos geraram menos receita do que o esperado.

– Com os modelos mais novos, a expectativa é que a receita volte a ficar dentro da previsão – disse.

Segundo Filippo, a Embraer não atingiu a meta de lucro do ano passado devido a custos adicionais inesperados com testes de voo do novo cargueiro militar KC-390. Por conta de de reajustes no contrato de desenvolvimento do KC-390 com a Força Aérea Brasileira, houve um custo adicional de US$ 50 milhões, no final de outubro, que não estava previsto na meta, informou o executivo.

Em novembro, a companhia interrompeu os voos de um dos dois primeiros protótipos do KC-390, o avião militar da companhia que deve entrar em serviço este ano, depois de um problema, em que a aeronave teve danos estruturais quando voava em condições imediatamente anteriores à perda de estabilidade (stol). Segundo Filippo, os dois protótipos estão em testes atualmente.

Excluindo impostos e outros itens especiais, o lucro líquido ajustado da fabricante de aeronaves brasileira, no quarto trimestre de 2017, foi de R$ 191,5 milhões, ante R$ 694,2 milhões no mesmo período de 2016. No ano passado, o lucro líquido ajustado chegou a R$ 899,4 milhões frente aos R$ 969,4 milhões de 2016, queda de 7,2%.

No quarto trimestre de 2017, a receita líquida recuou para R$ 5,65 bilhões ante R$ 6,7 bilhões no quarto trimestre de 2016. A receita total de 2017 também encolheu em relação ao ano anterior: ficou em R$ 18,7 bilhões frente aos R$ 21,4 bilhões do ano passado, queda de12,6%.

Segundo a empresa, a estimativa de entregas de aeronaves para 2017 foi atingida. No quarto trimestre de 2017, a Embraer entregou 23 aeronaves comerciais e 50 executivas e em todo o ano passado foram 101 aeronaves comerciais e 109 executivas.

De acordo com relatório da corretora Coinvalores a clientes, a companhia conseguiu cumprir a meta de entrega de aeronaves em 2017, mas suas margens vieram abaixo do piso das estimativas da companhia.

"O resultado, no entanto, não trouxe grandes surpresas, pois os últimos trimestres já haviam mostrado essa tendência. Além disso, os papéis da companhia devem ser pouco influenciados pelos números já que o mercado segue na expectativa do acordo da Embraer com a Boeing", dizem os analistas da Coinvalores.

Para 2018, a Embraer reafirmou sua estimativa de entrega de 105 a 125 aviões executivos e entre 85 e 95 aviões comerciais. Mesmo assim, a companhia reduziu a previsão para o teto de suas receitas neste ano. A projeção agora é de receitas totais entre US$ 5,4 bilhões e US$ 5,9 bilhões ante US$ 5,3 bilhões e US$ 6 bilhões anteriores.

A contribuição aproximada na receita de cada segmento de negócio para 2018 é a seguinte: 42% Aviação Comercial, 25% Aviação Executiva, 15% Defesa & Segurança, 17% Serviços & Suporte e 1% Outros negócios.

A Embraer espera que os investimentos totais alcancem US$ 550 milhões em 2018. Desse total, pesquisa representará US$ 50 milhões, desenvolvimento de produto US$ 300 milhões e investimento de capital será de US$ 200 milhões.

BOEING X EMBRAER

Durante a teleconferência para apresentação dos resultados, o presidente da Embraer, Paulo Cesar de Souza e Silva, afirmou que a companhia, o governo brasileiro e os demais acionistas da empresa continuam trabalhando com “muito engajamento” para que as negociações com a Boeing avancem.

Trata-se de uma operação complexa. Todos os lados continuam tentando achar uma estrutura que atenda os interesses de todas as partes. Mas dada a complexidade da operação é natural que se gaste mais tempo nessas análises. As partes estão bastante engajadas para encontrar uma alternativa – afirmou Souza e Silva.

Em evento recente para certificação de uma aeronave da companhia, Souza e Silva afirmou que espera que as negociações estejam concluídas ainda no primeiro semestre.

¹João Sorima Neto

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