Apagão Aéreo – MOTIM

Rudnei Dias da Cunha

Estudioso Assuntos Aeronáuticos

Os fatos ocorridos na noite do dia 30 de março, por parte dos militares controladores de tráfego aéreo, foram extremamente perigosos para a Nação.

As Forças Armadas baseiam-se, antes de mais nada, na hierarquia. O respeito aos superiores e o estrito cumprimento das ordens deles emanadas são exigências que não podem ser confundidas com autoritarismo, como muitos setores da sociedade brasileira erroneamente julgam ser.

O manifesto publicado pelos controladores de tráfego aéreo apresenta, evidentemente, alguns fatos que deveriam ter merecido melhor atenção do Governo (não só do atual), como a necessidade de reaparelhamento dos radares, sistemas de apoio à navegação aérea, ao pouso e decolagem em aeroportos de grande movimentação. Infelizmente, não o foram, e causa ainda maior espécie quando já se projetava um aumento do tráfego aéreo, à luz das melhores condições econômicas do País.

No entanto, de forma alguma isso pode justificar o ato de insurreição praticados por aqueles militares. Primeiro, porque eles são militares por livre e espontânea vontade, já que prestaram concurso para ingresso na Escola de Especialistas da Aeronáutica, a qual forma os sargentos-especialistas da FAB. Segundo, porque eles são controladores de tráfego aéreo também por livre e espontânea vontade, tendo escolhido tal especialidade durante o curso naquela Escola. Terceiro, e decorrente desses dois, é que se as condições de trabalho não são adequadas, ou o salário é baixo, o militar, diferente dos demais assalariados civis, não pode – de maneira alguma – entrar em greve.

Também é importante ressaltar que o regime de trabalho dos controladores de tráfego aéreo, por conta do estresse associado ao mesmo, permitiu e permite – por mais paradoxal que seja – que muitos deles estudem durante o horário em que supostamente deveriam estar se recuperando para enfrentar a jornada de trabalho seguinte.

Nada há contra o desenvolvimento pessoal do indivíduo, mas essa diferenciação do regime de trabalho dos mesmos coloca-os em vantagem frente aos outros militares de mesmo posto que labutam suas oito horas diárias – e muitos, com conhecimento do autor, por dedicação ao seu trabalho, à Força Aérea e ao Brasil, dispendem suas noites e seus fins-de-semana na manutenção de aeronaves, para colocá-las novamente em uso – e esses, que se saiba, não se amotinaram na história recente do Brasil (mesmo recebendo os mesmos salários de seus colegas controladores de vôo).

É em nome desses militares anônimos que cito, e de tantos outros cidadãos brasileiros, seguidores da lei, que o motim realizado na noite do dia 30 de março de 2007 não pode ser deixado em branco, sob pena de abalarmos severamente as nossas instituições.

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