Militares trocam experiências e apontam desafios enfrentados em missões de paz da ONU

Marina Rocha / MD


Atuais e antigos integrantes de missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) apresentaram suas experiências, dificuldades e visões de futuro acerca dessas ações. Os debates aconteceram durante o Painel Independente de Alto Nível sobre Operações de Paz da ONU, que ocorre em Salvador (BA).

Na ocasião, o comandante da Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Democrática do Congo (Monusco), general Alberto dos Santos Cruz, enfatizou que a preocupação vigente é com a proteção dos civis em situações de conflito. “Hoje o maior desafio com as missões de paz é com a eficácia.

Não sei se têm que ser mais robustas ou não. Elas têm que funcionar”, sentenciou. Santos Cruz está, há dois anos, à frente da maior operação já desencadeada pela ONU. Ele chefia cerca de 20 mil militares de 18 países. “A proteção aos civis traz um componente de ação. E às vezes é preciso usar a força para atingir a segurança deles.”

O general citou, também, que flexibilidade, iniciativa, ação, vontade e determinação, além de não ter medo de correr riscos, são imprescindíveis para quem atua em “sistemas complexos” como as operações de paz.

Ideias e sugestões sobre o tema, surgidas no painel, serão encaminhadas ao organismo internacional para subsidiar a atualização do manual para missões, usado por todos os países que possuem profissionais atuando em atividades de manutenção da paz. O evento acontece até esta terça-feira (31) e conta com representantes da América Latina e Caribe.

Relacionamento

De acordo com o general, é fundamental em uma missão manter interação política com o país hospedeiro. “Só tem sucesso quando se tem boa interação com o governo local e administração orçamentária competente e com visão operacional.” Ainda segundo Santos Cruz, “a operação não pode nunca parecer que está representando apenas agenda de um lado”.

Entender aspectos culturais do Estado em que se trabalha foi outro aspecto abordado durante o painel. O capitão-de-mar-e-guerra Renato Rangel Ferreira comandou, em 2009, grupamento de 230 fuzileiros navais na Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah). “Se a tropa não aprender sobre a cultura do país que ela vai operar, não vai, com certeza, prosperar”, completou.
Rangel participou da Minustah como integrante do 10° contingente, ainda antes do terremoto que assolou a nação caribenha.

Ele afirmou que em sua gestão procurou enfatizar os assuntos civis para a missão, o que, depois, mostrou-se fundamental para o auxílio à população. “Com o terremoto, essa necessidade multiplicou-se”, lembrou o comandante que ficou seis meses no Haiti.

Treinamento

O diretor do escritório das Nações Unidas para Operações de Paz da ONU, general Luis Paul Cruz, defendeu a iniciativa de reformulação do manual do organismo internacional. De acordo com ele, as missões “requerem cada vez mais informações doutrinárias e são fruto do trabalho de milhares”.

Já o comandante do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB), coronel José Ricardo Vendramin Nunes, destacou a importância de ser feito adestramento com a tropa, antes de entrar em ação. “O treinamento é mais importante do que o combate convencional. É fundamental que se tenha avaliação disso.” Para ele, o painel é a oportunidade para ser traçado novo acordo que inclua treinamento e avaliação.

O CCOPAB é referência internacional na preparação de militares e civis para missões humanitárias e de segurança em regiões de conflito. Em 2014, o centro capacitou 3.059 pessoas. A organização fica localizada no Rio de Janeiro.

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