Exército Brasileiro investe R$ 5 mi em jogo eletrônico de guerra

Adriele Marchesini – Brasil Econômico

Depois de fornecer um software de controle para os Jogos Militares de 2011, a Decatron, empresa brasileira de TI focada em desenvolvimento, venceu licitação realizada pelo Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército para desenvolver o primeiro simulador nacional de operações cibernéticas (Simoc).

O processo ocorreu há cerca de um mês e o valor estipulado para o projeto foi de R$ 5 milhões – um valor pequeno, mas que indica o desejo do governo de proteger suas fronteiras virtuais.

A preparação para uma guerra online um inimigo silencioso que fica cada vez mais próximo, especialmente com ataques como o do vírus Stuxnet e diversas invasões do Anonymous e Lulz Sec tornou-se foco público brasileiro no início de 2011, ganhando corpo depois de invasões de hackers a sites do governo.

Os ataques ao Brasil ganharam notoriedade, especialmente, em junho do ano passado, quando, no dia 22, foi postada uma mensagem no Twitter afirmando um ataque às páginas da Presidência e Brasil.gov durante a madrugada. Os endereços eletrônicos voltaram ao ar apenas no dia seguinte.

A mais recente invasão que se teve notícia foi em 3 de novembro, quando o Anonymous invadiu a página do Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Polícia Militar, na internet.

Hacker do bem
Carlos Rust, sócio-diretor da Decatron explicou como funciona a preparação para parte do Exército especializado em tecnologia com base no software em desenvolvimento pela companhia. O ponto central, disse o executivo, é humano. “São pessoas que tomam conta dos computadores. São as pessoas que programam. Para se proteger contra ataques e fazer ataques é necessário ter um ser humano por trás da ação. Obviamente que isso ocorre com o apoio de ferramentas, mas o verdadeiro patrimônio é o guerreiro cibernético, que é um nome bonito para o que chamamos de hacker do bem", alertou.

Em sua visão, as invasões não são atos isolados e se configuram em uma tendência. “O país vive esse momento econômico único, somos a sexta economia mundial – passamos pela primeira vez o Reino Unido – e essas coisas chamam a atenção. É preciso defender esse patrimônio. E somos extremamente dependentes dos computadores e das redes da internet. É um ponto vulnerável: é possível desestabilizar um país inteiro se atacar seu ecossistema cibernético. Tudo isso sem dar nenhum tiro”.

Estratégia virtual
O software será utilizado pelo Exército para treinamento do corpo militar responsável pela proteção do ambiente virtual do Brasil. Pelo processo da Lei de Licitação, a 8.666, eles terão um prazo de seis meses para entregar o produto final, que atualmente está em uma versão beta. Cerca de 20 pessoas estão trabalhando na produção do software, que foi desenvolvido em plataforma Java.

De acordo com Rust, o programa é, na verdade, um simulador que permite a criação de diferentes cenários de ataques e avalia o aluno de forma online. "O capital intelectual, de como se comportar em uma situação de guerra, é deles. A ferramenta dá apenas o ambiente".

Os professores usam o simulador para criar cenários e rotinas, como se fosse a aplicação de um exercício em sala de aula. Já o aluno se vale da ferramenta para traçar estratégias e operação de ataque e defesa em um ambiente específico. “Eles podem simular uma rede de seis computadores, de 20, de 24, enfim. É uma rede de laboratório virtual e pode mudar a configuração o tempo todo”, detalhou.

Preparação
Com cerca de 250 profissionais e faturamento que gira em torno de R$ 70 milhões, a Decatron, que tem 17 anos de vida, iniciou o foco no setor público em 2011. A primeira ação veio com os Jogos Militares. E os próximos eventos esportivos são um filão em potencial. Isso, sem limitar as oportunidades à Copa do Mundo 2014 e à Olimpíada de 2016. “Teremos 18 grandes eventos nos próximos anos”, disse Rust considerando, mais uma vez, jogos e encontro militares.

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