Ciberataque iraniano poderia afetar bancos e serviços públicos

O Irã tem uma complicada equação para resolver, enquanto decide como cumprir sua promessa de revidar o ataque aéreo americano que matou na sexta-feira (3) o general Qassim Suleimani.

Alarmistas temem um ataque tradicional contra os EUA. Mas essa solução parece ser um cálculo ruim para o regime iraniano. Poderia, afinal, levar a uma guerra aberta e, apesar das bravatas, Teerã não tem hoje poderio militar para fazer frente a Washington.

A internet, por outro lado, oferece uma saída tentadora. Ciberataques podem causar dano estrutural e financeiro a países rivais sem escalar o conflito militar. Os EUA sabem disso porque usam essa tática. Ao acusar o Irã de atacar navios petroleiros, o governo de Donald Trump supostamente ordenou ciberataques contra o Irã, em vez de responder na mesma moeda.

Uma vantagem dos ciberataques é que, como raramente há prova concreta de autoria, eles costumam causar menos alarde. O que não significa que são menos danosos.

O Irã tem investido nessa área, apesar de não ter a mesma expertise dos EUA. A Guarda Revolucionária -que era chefiada por Suleimani- é um dos órgãos oficiais envolvidos nesse tipo de ação, com o apoio de voluntários recrutados em universidades.

"O Irã tem ampliado suas capacidades de maneira consistente e eles estão dispostos a ser tão destrutivos quanto puderem", diz Robert Lee, fundador da firma de ciber-segurança Dragos. O país, porém, ainda não é capaz de ataques de grande escala. "As pessoas não precisam se preocupar com ataques como os que veem nos filmes e livros."

As primeiras reações podem vir no campo retórico, por meio de campanhas de desinformação e fake news. O conflito entre EUA e Irã é também um embate entre narrativas. Enquanto um lado diz que a morte de Suleimani foi necessária, o outro acusa o governo Trump de ter cometido um assassinato extrajudicial.

Para fortalecer sua versão, na esperança de colocar a opinião pública contra os EUA, o Irã aparentemente já começou a trabalhar. Analistas registraram um aumento significativo nas mensagens anti-americanas nas redes sociais. Quase 100 mil mensagens no Twitter entre 1º e 3 de janeiro incluíam #HardRevenge (dura vingança), segundo o Laboratório de Pesquisa Forense Digital do Atlantic Council.

"Essas campanhas não são apenas para influenciar, mas para ter hegemonia nos debates ao apresentar a visão iraniana", diz Kanishk Karan, pesquisador do Atlantic Council.

Para além da guerra retórica, o Irã tem a capacidade para atacar os EUA no ciberespaço de outras maneiras. Pode, por exemplo, usar malwares (softwares nocivos) ou ataques de tipo "wiper", que deletam informação nos computadores e redes alvejados.

O governo iraniano pode também utilizar ciberataques para afetar as redes utilizadas por bancos americanos. Grandes empresas provavelmente estão protegidas o suficiente, mas analistas temem ataques contra firmas menores.

Preocupa, ademais, a segurança de governos regionais e infraestrutura. Redes elétricas e o abastecimento de água, por exemplo, dependem de redes eletrônicas.

O Irã conta, ainda, com tecnologia para espionar indivíduos. O país é acusado, por exemplo, de ter infiltrado o celular do ex-chefe militar israelense Benny Gantz em 2019. Gantz, líder do partido Azul e Branco, disputava as eleições.

Ataques no ciberespaço não são exclusividade do Irã. Esse tipo de ação tem sido atribuída também a atores como Rússia e China. Os EUA, aliás, são pioneiros nessa área, e o Irã foi alvo de um de seus ataques mais emblemáticos.

Em 2007, em uma suposta operação conjunta com Israel, o governo americano atacou as instalações nucleares iranianas com um "malware". A ação fez com que as centrífugas acelerassem e desacelerassem de maneira incorreta, danificando o equipamento.

O programa nuclear iraniano é um dos principais alvos dos EUA, que acusam o país rival de tentar obter uma arma nuclear –algo que Teerã nega, afirmando ter apenas interesse na produção de energia.

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