EUA tratam ataque cibernético contra Sony como problema sério de segurança nacional

A Casa Branca afirmou nesta quinta-feira que autoridades norte-americanas estão tratando um ataque cibernético contra a Sony Pictures como uma séria questão nacional de segurança e que o Conselho de Segurança Nacional do presidente do país, Barack Obama, está considerando uma resposta proporcional.

Funcionários de alto escalão de segurança nacional de Obama têm se reunido diariamente para tratar do ataque, que foi feito por um "ator sofisticado", disse o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, a jornalistas.

Mas Earnest afirmou que não estava em condições de confirmar que a Coreia do Norte foi responsável pelo ataque e disse que a investigação federal está avançando.

Sony cancela estreia de filme

O ataque cibernético que forçou a Sony Pictures a anunciar, nesta quinta, o cancelamento do lançamento do filme A Entrevista está sendo encarado pelos EUA como uma ameaça à segurança nacional, diz o governo americano.

O episódio, que primeiro chamou a atenção do público por envolver fofocas hollywoodianas reveladas nos e-mails do estúdio, cresceu a ponto de chamar atenção em Washington.

O porta-voz da Casa Branca Josh Earnest disse que os EUA acreditam que o hackeamento foi obra de um "agente sofisticado" – mas recusou-se a confirmar suspeitas de que a Coreia do Norte esteja por trás do caso.

A comédia A Entrevista aborda um plano fictício para assassinar o presidente norte-coreano, Kim Jong-un.

Nos últimos dias, a Sony, produtora do filme, foi alvo de uma onda de divulgação de e-mails e documentos com conversas e informações sobre atores e outros famosos, causando uma saia-justa no estúdio. Além disso, hackers ameaçaram atacar cinemas e deixar o mundo "repleto de medo" caso o filme fosse lançado, evocando os ataques de 11 de Setembro.

Earnest afirmou que autoridades americanas têm debatido diariamente o ataque à Sony e estão avaliando "uma resposta apropriada".

'Precedente'

Na internet, críticos de Washington e estrelas de cinema condenaram o recuo da Sony.

"A América perdeu sua primeira ciberguerra", escreveu o ex-congressista republicano e atual comentarista Newt Gingrich. "É um precedente muito, muito perigoso."

"Um dia triste para a expressão criativa", tuitou o ator Steve Carell (de The Office), cujo filme ambientado na Coreia do Norte também foi abandonado pouco depois do cancelamento da estreia de A Entrevista.

A decisão da Sony foi "covarde", tuitou o editor de cultura do site Vox, Todd VanDerWerff. E a Weekly Standard até escreveu um editorial alegando que o cancelamento "pode ser – a não ser que mudemos de curso de modo fundamental – um sinal de colapso da coragem civilizatória".

Até o escritor brasileiro Paulo Coelho se ofereceu, pelo Twitter, a pagar US$ 100 mil pelos direitos do filme para divulgá-lo na internet.

Mas houve também quem minimizasse o impacto do episódio e até defendesse a Sony.

Para o colunista da Bloomberg View Stephen L Carter, a Sony não teve escolha senão prezar pela segurança – e pelas suas finanças: "Donos de cinema estão imaginando que, se A Entrevista estiver passando em suas salas, os espectadores passarão longe."

A divulgação do filme não valia o risco, opinou Steve Kovach, da Business Insider.

"Sabemos que esses hackers são organizados", escreveu. "Mas não sabemos o quanto. Por que arriscar, independentemente de quão tola pareça a ameaça?"

Papel do governo

Na New York Magazine, Jonathan Chait escreveu que a Sony esteja longe de ser um exemplo de coragem, não tem culpa no cartório.

"A Sony é uma empresa que busca o lucro, e sequer é uma empresa americana", argumentou. "Não cabe a empresas pró-lucro a defesa comum. E reconhecer que a ameaça a um filme da Sony é na verdade uma ameaça à liberdade da cultura americana deve nos levar a uma solução pública, em vez de privada."

John Nolte, do site Breitbart, chamou o recuo da Sony de "tático" – de forma a preservar seu filme como um produto viável.

"Quando o governo tiver feito seu trabalho (de proteger a população das ameaças), aí sim será moralmente necessário que a Sony e Hollywood revidem a Coreia do Norte – tomara que com uma sátira devastadora", escreveu.

Alguns também duvidam que a ameaça dos hackers seja para valer.

"A habilidade de roubar e-mails com fofocas de um computador não tão bem protegido não é o mesmo que levar a cabo um ataque físico ao estilo de 11 de Setembro, em 18 mil lugares (em referência às salas de cinema) simultaneamente", disse o especialista em segurança cibernética Peter W Singer à revista eletrônica Vice.

No fim das contas, escreveu Adam Sternberh na Vulture, a decisão da Sony pode não ser tanto uma concessão a ameaças, mas sim um cansaço dos executivos do estúdio.

"Em um determinado ponto, dado o dano causado em relações, a revelação de práticas corporativas, processos judiciais dos próprios empregados, potenciais pesadelos quanto à responsabilidade (sobre o filme)", A Entrevista simplesmente deixou de valer tamanho esforço, argumentou.

Se os americanos querem ficar bravos com algo, ele diz, devem se preocupar menos com ameaças de hackers desconhecidos e mais com o fato de estúdios de cinema estarem menos interessados em buscar os limites da sátira política.

*Com BBC

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