Israelenses deixaram mapas para ajudar bombeiros a achar mais corpos em MG

Luis Kawaguti

A equipe de resgate israelense que trabalhou na busca por vítimas do rompimento da barragem de Brumadinho (MG) produziu e entregou a autoridades brasileiras dezenas de páginas de mapas com indicações que podem ajudar no resgate de corpos na região atingida pela lama.

Os israelenses apontaram os locais onde acreditam que há maior probabilidade de que corpos sejam encontrados, segundo afirmou ao UOL um participante do esforço de resgate que atua em função de coordenação de apoio e pediu para não ter o nome revelado.

Os mapas foram produzidos com base em cálculos de deslocamento da lama, que foram cruzados com dados obtidos por meio de drones e equipamentos que rastreiam prováveis corpos por sonar, por calor e pelos últimos sinais emitidos por equipamentos eletrônicos das vítimas.

Os documentos trazem estimativas de onde podem estar os corpos de parte das pessoas desaparecidas – principalmente as que se encontravam em um escritório e em um refeitório da mineradora Vale, em ônibus que se deslocavam pela região e em uma pousada atingida pela lama.

"Ciúmes" entre equipes de Israel e Brasil?

Os 136 militares da Unidade Nacional de Resgate das Forças de Defesa de Israel chegaram a Minas Gerais no domingo (27), enviados pelo premiê israelense Benjamin Netanyahu. O rompimento da barragem de rejeitos de mineração ocorreu no dia 25 de janeiro.

As relações diplomáticas entre Brasil e Israel têm se intensificado desde a eleição de Jair Bolsonaro. Eles participaram das buscas até quinta-feira (31) e auxiliaram no resgate de 35 corpos de vítimas. Acomodações e a logística necessária ao trabalho deles foram fornecidas pelo Exército brasileiro. Mais de 100 corpos foram encontrados na região do desastre, porém mais de 200 permanecem.

O tenente-coronel do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, Eduardo Ângelo, chegou a afirmar no início da semana que os equipamentos levados pelos israelenses ao local seriam ineficientes. O embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, disse na ocasião que haveria pessoas com "ciúmes" da eficiência dos israelenses e que o país tem todos os equipamentos necessários para salvar vidas.

No entanto, dois militares que atuaram na área do desastre disseram ao UOL que os israelenses trabalharam de forma integrada e harmônica com militares e bombeiros de Minas Gerais — apesar da polêmica sobre os equipamentos. Segundo eles, não houve "ciúmes" ou qualquer tipo de desentendimento entre as equipes, pois os israelenses deixaram para os brasileiros todo o levantamento de inteligência que realizaram.

Os dois militares preferiam não se identificar por questões hierárquicas. A embaixada de Israel no Brasil afirmou por meio de nota que autoridades de seu país e do Brasil decidiram em conjunto que os israelenses encerrariam sua participação na quinta-feira (31).

Por que as Forças Armadas do Brasil não foram usadas em massa no resgate?

Após a tragédia em Brumadinho, o presidente Jair Bolsonaro colocou cerca de 1.000 militares das Forças Armadas de prontidão para atuar junto com bombeiros e policiais do estado, mas o governo de Romeu Zema (Novo) não requisitou o apoio.

O Exército e a Aeronáutica aturam em contingentes limitados que deram apoio aos israelenses, ajudaram na logística e forneceram helicópteros. Na quinta-feira, o comandante militar do leste, general-de-exército Walter Souza Braga Netto, visitou o local do desastre e voltou a afirmar que 950 militares continuavam de prontidão.

Depois de fazer um reconhecimento da área, ao lado do governador Zema, Braga Netto disse que apesar dos militares estarem disponíveis, eles ainda não foram acionados. "O terreno é uma área de operações muito restrita. Então, com um excesso de pessoas naquela área, você em vez de ajudar iria tumultuar ainda mais o local de trabalho. É um trabalho muito especializado, as Forças Armadas já estão apoiando naquilo que é necessário e no que está sendo demandado", disse.

O UOL apurou que o Exército até poderia enviar homens para fazer a segurança no terreno e evitar saques, mas o efetivo de cerca de 400 policiais militares de Minas Gerais está conseguindo realizar a tarefa sem dificuldade.

Outro fator que explica o motivo de contingentes numerosos de tropas não serem usados é a natureza do resgate. As equipes devem se concentrar em procurar corpos em áreas como as apontadas pelos mapas israelenses – onde se acredita haver maior possibilidade de encontro de vítimas.

E o número de pessoas que podem atuar nessas áreas é limitado. Por outro lado, não há planos para revirar toda a área atingida pela lama em busca de vítimas.

Por outro lado, não há planos para revirar toda a área atingida pela lama em busca de vítimas. "Não é possível cavar toda a área, mesmo com efetivos muito maiores, seria como procurar uma agulha num palheiro. Até o momento a ideia é continuar procurando nesses locais onde havia maior concentração de pessoas na hora do acidente", disse o integrante do esforço de resgate ao UOL.

Autoridades estaduais afirmaram que não há risco de contaminação para os membros de equipes de resgate que atuam na região da tragédia. O Exército estuda porém um cenário menos provável – porém possível -, no qual tenha que fornecer roupas especiais e equipes de descontaminação para atuar no local, caso o processo de putrefação de matéria orgânica venha a oferecer risco para as equipes de trabalho.

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