AZEDO – O jabuti caiu do galho

Uma das frases mais famosas do nosso folclore político é aquela do jabuti em cima de árvore. “É melhor não mexer, jabuti não sobe em árvore. Ou foi enchente, ou mão de gente”. Pois bem, o ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, era o jabuti errado, no galho errado, na hora errada. E se jogou da árvore, a pedido do presidente interino, Michel Temer, contrariando a fábula. Fabiano foi indicado para o cargo pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e aparece numa gravação de conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado orientando seu padrinho político a se defender das acusações da Operação Lava-Jato.

Consultor jurídico do Senado, a gravação seria um registro trivial da conversa de um advogado com seu cliente se, à época, Fabiano não fosse integrante do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cargo para o qual também foi indicado por Renan, e depois viesse a ser nomeado para o ministério que absorveu a antiga Controladoria-Geral da União (CGU). Para complicar a situação, a absorção da controladoria já vinha sendo objeto de protestos dos servidores do órgão, que rapidamente direcionaram suas manifestações contra o ministro, escrachando-o num ato em que lavaram as escadarias do ministério e a porta do gabinete ministerial.

Na expectativa da aprovação do impeachment definitivo de Dilma Rousseff pelo Senado, Temer precisaria do aval de Renan para demitir Fabiano, como na fábula do jabuti. Preferiu deixar a árvore pegar fogo, até o jabuti cair. Foi o que aconteceu no começo da noite, quando Fabiano pediu demissão, para voltar à Consultoria Jurídica do Senado. É o segundo ministro a cair por causa da Lava-Jato.

A nova crise ocorre numa semana em que Temer pretende emplacar uma agenda positiva, com aprovação de medidas do ajuste fiscal, reposição salarial de servidores e medidas de combate à violência contra a mulher. Por causa do caso de Fabiano, essa agenda ficou ameaçada.

Como o presidente interino esteve reunido com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na tarde de ontem, deduz-se que tenha estabelecido para si próprio uma linha de atuação em relação aos envolvidos no escândalo que participam do seu governo. Há outros jabutis na árvore, como o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que está no galho pelas mãos de Temer.

Assombrados

No Palácio do Planalto, as gravações de Sérgio Machado são um grande incômodo. Já derrubaram dois ministros ligados à base de Temer no Senado, onde a margem para aprovação do impeachment, considerando a votação da sua admissibilidade, é de apenas dois votos.

Cristovam Buarque (PPS-DF), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Alvaro Dias (PV-PR) e Simone Tebet (PMDB-MT) já avisaram que ainda têm dúvidas quanto ao impeachment. Na verdade, todo erro de Temer aumenta seu desgaste e alimenta protestos, que quase sempre resultam em ocupação e paralisia das repartições públicas, como ocorreu na Cultura e agora na antiga CGU.

Temer tem problemas demais para resolver na economia e terá que atravessar um terreno minado na política até a aprovação definitiva do impeachment. A pressão da base para lotear os cargos de segundo e terceiro escalões dos ministérios só aumenta.

E a Operação Lava-Jato assombra os aliados, sobretudo os que andaram conversando com Sérgio Machado. Para conseguir a homologação de sua delação premiada, o ex-senador atuou como um infiltrado e gravou conversas com aliados com os quais mantinha relação de extrema confiança, como o ex-presidente José Sarney.

As conversas gravadas por Machado alimentaram a tese petista de que o impeachment é um golpe de Estado, cujo objetivo seria abafar a Operação Lava-Jato. Esse discurso tem muito mais audiência na opinião pública do que o “volta, Dilma”, palavra de ordem que não empolga nem a cúpula do PT. E também repercute internacionalmente, porque a imagem do Congresso é péssima no exterior.

Além disso, ao contrário das delações premiadas do ex-senador Delcídio do Amaral e do ex-deputado Pedro Corrêa — cujo foco principal foram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; a presidente afastada, Dilma Rousseff; e os petistas —, a delação premiada de Sérgio Machado mira a cúpula do PMDB e o PSDB, de cuja bancada fez parte no Senado. Ou seja, o eixo de sustentação do governo Temer.

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