Banco dos Brics pode ser veículo para ampliar influência da China no mundo

Luiza Duarte

Analistas ouvidos pela BBC Brasil acreditam que a criação de um banco de desenvolvimento pelos Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e de um fundo de socorro para países com problemas de liquidez financeira podem ser um veículo para expansão da influência chinesa no mundo.

Essas duas iniciativas serão anunciadas durante a reunião de cúpula dos Brics que começa nesta terça-feira em Fortaleza. O banco deve contar com um capital inicial de U$ 50 bilhões, US$ 10 bilhões vindos de cada país membro. Por outro lado, a China, detentora da maior reserva cambial do mundo, seria o principal financiador do fundo de socorro, contribuindo com U$ 41 bilhões do total de U$ 100 bilhões previstos.

"A influência vai ser muito forte. A China vai contribuir com mais dinheiro que os outros países. Ainda há a questão do yuan, que pode ser adotado como moeda oficial (das instituições)", afirma Michael Wong, professor de finanças da City University of Hong Kong.

Para Lok-sang Hon, membro do conselho executivo da Associação Econômica de Hong Kong e pesquisador da Lingnan University, a China "quer contribuir significativamente para esse projeto, cuja importância não é apenas econômica. Financeiramente está em uma posição melhor".

Anti-dólar

Na última semana, o vice-ministro chinês das Relações Exteriores, Li Baodong, afirmou que o "momento é propício" para a criação do novo banco, que será um "marco no atual sistema monetário internacional, dominado pelos Estados Unidos e pela Europa".

Trata-se de uma referência ao fato de que o banco poderia ser uma alternativa ao Banco Mundial, uma organização tradicionalmente dirigida por um representante americano, enquanto que o Fundo Monetário Internacional (FMI) tradicionalmente é controlado por um representante europeu.

O presidente do Banco Mundial, o sul-coreano-americano Jim Yong Kim, também se mostrou favorável a iniciativa de criação do banco dos Brics, que não considera como uma "ameaça", mas como um aliado na "batalha contra a pobreza" e no "estímulo ao crescimento".

"O tamanho do investimento não é tão grande comparado com investimentos feitos na China. Mas esse é apenas o capital inicial. O banco vai atrair outros depósitos e crescer dez vezes ou vinte vezes, se tornando forte e constituindo uma saída para a China e para outras economias", prevê Wong. No futuro, outras nações como México, Turquia, Nigéria e Indonésia também poderão se tornar parceiras do projeto.

A China é o maior credor dos Estados Unidos e o governo chinês já demonstrou interesse em diversificar as aplicações de suas reservas, diluindo a concentração atual em títulos americanos, considerada por Pequim excessiva, o que torna o país mais vulnerável a oscilações na economia americana.

"Na perspectiva chinesa, esse será um importante passo para transformar o yuan em moeda institucional. A China tem forte interesse em diversificar riscos, investimentos estrangeiros e a moeda em que são realizados. Ela é o maior credor dos Estados Unidos, mas quando há tensão entre os dois países, isso afeta Pequim".

Para Wong, uma das maneiras de diversificar os investimentos seria contribuir com o FMI, o Banco de Desenvolvimento da Ásia (ADB) ou o Banco Mundial, mas essas organizações sofrem grande influência americana. Enquanto outro rival, o Japão, exerce grande pressão sobre o banco asiático.

Acordo rublo-yuan

O novo banco deverá apoiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento nos países membros e em outras economias emergentes. "Isso quer dizer que eles não precisam mais do apoio dos Estados Unidos e da Europa".

Diante do bloqueio das reformas do FMI, a nova organização aparece como uma resposta à demanda dos Brics, que somam um quinto do PIB global e 40% da população mundial, de representatividade dentro do cenário financeiro.

A nova instituição deve estar operacional até 2016. As transações vão ocorrer através da permuta de divisas entre os bancos centrais dos Brics. O mecanismo pode reagir rapidamente a saída de capitais e pretende facilitar o comércio, ignorando o dólar.

De acordo com Lok-sang Hon, os interesses comuns entre Rússia e China e o peso dessas duas economias vão impulsionar o projeto. Um acordo paralelo rublo-yuan vem sendo discutido nas últimas semanas pelo Banco Popular da China e o Kremlin.

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