GRU I (Glavnoje Razvedyvatel’noje Upravlenije – Serviço Militar de Inteligência do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia)

O “GRU” (Glavnoje Razvedyvatel'noje Upravlenije – Serviço Militar de Inteligência do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia)

Pesquisa publicada em duas partes.

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2ª Parte Link

                                        

                                 Frederico Aranha

Pesquisador independente

 Advertência: tradução livre.

 

Tanto na Rússia como no exterior a sigla do ano tem sido “GRU” – comumente usada para designar o Serviço Militar de Inteligência do país [também chamado Agência de Inteligência Militar ou Diretório Central de Inteligência (jargão soviético)…]. O estafe do Serviço é acusado de ter raqueado (1) em 2016 a rede do Comitê Nacional do Partido Democrata, visando influenciar as eleições presidenciais americanas; acusado igualmente de raquear as agências anti-droga americanas e a Corte Internacional de Arbitragem; tentar raquear a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW), na Holanda.

Além disso, agentes do GRU são acusados de envenenar Sergey Skripal (ex-coronel do GRU, condenado na Rússia por espionagem e exilado em Salisbury, Inglaterra), o que provocou uma nova onda de sanções do ocidente contra a Rússia. “Alexander Petrov” e “Ruslan Boshirov” – identificados pela Scotland Yard como os dois indivíduos que tentaram matar Skripal, – são codinomes dos agentes do GRU Coronéis Dr. Alexander Mishkin e Anatoly Chepiga (2).

                         

Subordinado ao Estado-Maior das Forças Armadas, o GRU, tecnicamente, não existe. Em 2010, no conjunto das reformas do Exército Russo, o Serviço de Inteligência Militar foi renomeado “GU” – “Escritório Central de Inteligência do Ministério da Defesa”. Contudo, esta alteração não impediu ninguém de continuar a referir a organização como “GRU” – uma sigla usada constantemente por jornalistas e em documentos oficiais, incluindo os indiciamentos por parte do governo americano e denúncias de autoridades holandesas.

                           

As reformas foram acidamente criticadas por alguns veteranos da Agência – [O ex-Ministro da Defesa Anatoly] “Serdyukov cortou mais do que uma letra (da sigla original da Agência). As melhores brigadas Spetsnaz (Forças Especiais) do GRU foram amputadas pela reforma e transferidas” (3).  Em Novembro de 2010, oficiais comemoraram o “Dia da Inteligência Militar” no conservatório Crocus City, fora de Moscou, brindando calorosamente à “memória do querido GRU”.

Muitos agentes perderam seu emprego nas reformas (4), e alguns institutos de pesquisas que trabalhavam para o Serviço fecharam. A Academia Militar do Ministério da Defesa (onde Anatoly Chepiga estudou) sofreu cortes no corpo docente. O resultado foi a forte queda no fluxo das informações de caráter militar e outras coletadas por agentes no exterior.

                         

Os agentes do GRU são treinados na Academia Militar do Ministério da Defesa, situada no número 50 na Narodnoe Opolchenie, Moscou – não muito longe da região onde se situam o quartel-general da Agência e institutos de pesquisa afiliados à inteligência militar da Rússia. A Academia é mais conhecida como “O Conservatório”.

Quartel-General do GRU, apelidado “Aquarium” – 76B Khoroshevskoe Highway, Moscou. Reuters / AP / Scanpix / LETA

                           

Os agentes – incluindo os especialistas em segurança cibernética – também frequentam a Escola Militar de Altos Estudos de Rádio-Eletrônica Cherepovets (http://chvviure.mil.ru/). Outro local de treinamento dos agentes é a Academia Militar de Estudos Espaciais Alexander Mozhaysky, onde Aleksei Morenets (o agente do GRU acusado de tentar raquear os serviços de informação da Holanda) foi aluno.  Os instrutores da Academia escolhem novos estudantes enviando recrutadores a unidades militares através do país examinando o currículo de jovens oficiais.

Eles entrevistam potenciais recrutas reservadamente, convidando os candidatos mais promissores a irem a Moscou para realizar testes (5). As avaliações dos candidatos em Moscou duram uma semana com trabalhos e contatos iniciando cedo pela madrugada e terminando muito tarde à noite. Os candidatos se submetem a centenas de provas testando seu conhecimento de línguas estrangeiras, sua capacidade espacial, memória, acuidade mental, “imunidade ao ruído” e resistência a fornecer informação.

Um teste consiste em mandar repetir frases em uma linguagem desconhecida incontáveis vezes, enquanto em outro lhes são mostradas dezenas de fotos identificadas e depois mandam que repitam o nome de cada pessoa das fotos, porém sem a identificação. Por fim, enfrentam uma banca que pode perguntar ao candidato sobre a bebida alcoólica preferida, as razões por que deseja juntar-se à inteligência militar da Rússia e sua atitude perante as mulheres.

                         

A duração do curso e treinamento é de três anos. No primeiro ano de instrução a ênfase é em línguas estrangeiras, manejo de equipamentos especializados, estudos específicos por área, codificação, decodificação e serviço de inteligência discreto. Há até treinamento para criar sua própria “legenda” – passado e história de vida – e como evadir-se de eventual vigilância.

A cada estudante é designado um setor de Moscou no qual ele traça e memoriza rotas para potenciais encontros com outros agentes, determina locais para colocar ou livrar-se de dispositivos e tenta identificar um possível perseguidor (normalmente oficiais do FSB (ex-KGB) da área de contra inteligência). Uma das mais importantes missões ordenadas pelo “Conservatório” é penetrar num local de média/alta segurança: o futuro agente deve ser admitido no local sem violência e de forma legal, por exemplo, convencendo alguém a lhe fornecer um passe ou até auxiliá-lo a se infiltrar.    

                         

A Academia Militar do Ministério da Defesa tem três departamentos: o primeiro treina agentes discretos que operam sob cobertura diplomática (chamados “suit jackets” – homens de terno). Estes oficiais estréiam em campo começando como assessores ou secretários de embaixadores e de representantes de empresas russas em outros países. São responsáveis pela comunicação com agentes secretos e por esforços de recrutamento de agentes no exterior. Um desses “suit jacket” é Viktor Ilyushin, expulso da França em 2014.

Oficialmente, secretário do ataché da Força Aérea na embaixada russa em Paris, o agente Ilyushin do GRU tentou obter informações “íntimas” sobre um membro do estafe do presidente François Hollande (6). O segundo departamento do Conservatório treina adidos militares (representantes das forças armadas da Rússia servindo em missões diplomáticas). Eduard Shishmakov, acusado pelo serviço de informações de Montenegro de tentar organizar um golpe de estado em 2016 (7), estudou neste departamento. Em 2014, ele trabalhou com o adido militar russo na Polônia, de onde também foi expulso.

O terceiro departamento prepara oficiais que vão liderar operações especiais no exterior. De acordo com desertores do GRU e websites dedicados a investigar as forças armadas russas (8), a Agência tem a estrutura e atuação dirigida como segue:

–    1ª Divisão –Europa

–    2ª Divisão – Estados Unidos

–    3ª Divisão – Ásia

–    4ª Divisão – Oriente Médio e África

–    5ª Divisão – Reconhecimento Estratégico

–    6ª Divisão – Comunicações (SIGINT)

–    7ª Divisão – Setor de Análise de Informações

–    8ª Divisão – Subversão

–    Divisão 12B – Guerra de informação, eletrônica e cibernética

O portal da Chefia do Estado-Maior das Forças Armadas Russas informa que seus agentes de modo geral abastecem as lideranças políticas do país com informações capazes de criar condições “favoráveis ao sucesso da condução política do Estado russo nas áreas da defesa e segurança nacional”, ao mesmo tempo contribuindo para impulsionar o desenvolvimento do país. De acordo com a lei (9), agencias russas de inteligência podem operar confidencialmente com seus informantes e fontes, tomando medidas para “manter seu pessoal inidentificável”.

Valem-se de métodos tanto públicos como discretos, porém não podem usá-los em relação a cidadãos russos, bem como não podem ameaçar pessoas no território nacional. Alexander Shlyakhturov, que chefiou o GRU na década de 2000, disse em 2011 que o trabalho da Agência é “descobrir e analisar ameaças aos interesses nacionais e à segurança militar da Rússia” (10). Seu predecessor, Valentin Korabelnikov, afirmou em 2003 que o GRU também coleta informações acerca de pesquisas científicas realizadas em e por Estados estrangeiros (11).

O GRU colhe muita inteligência por meio de “ilegais” (agentes secretos) que moram em outros países sob nome falso. Adicionalmente, identidades podem ser criadas para agentes que viajam para o exterior em missões especiais para eliminar possíveis alvos da Agência, o que ocorreu com Chipega e Mishkin (cit.).

                          

Algumas vezes as missões de agentes secretos podem durar décadas. Um veterano do Serviço revelou  como o “Conservatório” lhe forneceu uma identidade e um passado (12). Foi enviado para um país árabe onde ficou pelos próximos 24 anos. Ele comprou um quiosque num mercado e abriu um negócio de reparação de sapatos, transformando-o em ponto de encontro de agentes.

Muitas vezes havia despachos e informações escondidos nos saltos dos sapatos trazidos para reparo. Em 2005, Sergey Lebedev, um alto oficial do GRU, confidenciou que “meu pai morreu sem saber que eu servia à inteligência militar, uma vez que eu era General na época em que ele faleceu”. “Ele tinha muito orgulho pelo fato de eu ser um diplomata. Sempre dizia para todos, que seu filho trabalhava para o Ministério das Relações Exteriores” (13).

                          

A desinformação tem sido um dos principais objetivos do Serviço de Inteligência Militar desde sua fundação em 1918. No começo, a inteligência estrangeira das agencias de informações soviéticas – CHEKA > OGPU > GPU > NKVD e por fim KGB (Departamento “A”) – e o GRU eram responsáveis por “medidas ativas” ordenadas por Moscou. 

O Departamento de Desinformação sucedeu o “Disinformburo” ativado em 1923 com o objetivo de criar informações adulteradas e documentos não genuínos acerca de affaires domésticos na Rússia, “preparando o terreno para a divulgação de matérias falsas” (14). Alguns dos grandes sucessos de desinformação da União Soviética (descritos em detalhes no Churchill Archives Center) (15) incluem:

–    Em 1923, o “Disinformburo” publicou arquivos reveladores (16) sobre o Grão Duque Kirill Vladimirovich em jornais da Baviera onde morava três anos depois dele se proclamar o Imperador no exílio. A divulgação provocou o progressivo esvaziamento do apoio que recebia de monarquistas russos refugiados e políticos alemães.

–    Em 1950, a inteligência militar soviética inventou reportagens, acolhidas e repetidas na mídia ocidental, que acusavam os EEUU de empregarem armas biológicas na Coréia, supostamente lançando bombas com insetos e ratos infectados com cólera (16a).

–    Em 1960, espiões militares espalharam falsos rumores acerca das ligações da comunidade americana de informação com o assassinato do Presidente John Kennedy. Agências soviéticas financiaram o trabalho do advogado e ativista civil Mark Lane, que popularizou suas teorias de conspiração sobre o caso em inúmeros livros. Moscou também criou documentos e cartas ligando Lee Harvey Oswald à CIA e ao FBI.

–    De 1972 a 1973, a inteligência militar soviética financiou cerca de 5.000 artigos em jornais da Índia apoiando a então Primeira-Ministra Indira Gandhi (17).

–    Em 1983, a inteligência militar soviética espalhou rumores que o Vôo 007 da Korean Air Lines, abatido pela Força Aérea da União Soviética, era um avião espião enviado pela CIA.

–    No final dos anos 1980, agentes soviéticos espalharam a falsa informação de que a epidemia de AIDS era fruto de experimentos de certo laboratório secreto de biologia nos EEUU. A inteligência militar soviética forneceu documentos fabricados a um agente da CIA, que mais tarde revelou-os em livro.

–    No final dos anos 1980, a inteligência militar soviética lançou teorias conspiratórias (18) sobre as centenas de mortes de Jonestown (18a), que seriam resultado de uma operação da CIA.

                         

Leonid Shebarshin, um dos mais graduados agentes da comunidade soviética de inteligência, disse em 2003 (19) que espiões encontram editores ou repórteres em qualquer jornal do mundo querendo publicar alguma história, uma vez pago o preço “justo”. Sebarshin supervisionou a campanha de desinformação soviética nos anos 1970 a 1980 e confidenciou ao boletim eletrônico Kommersant que o único jornal no qual nunca conseguiu “plantar” uma história foi o The Washington Post.

Ele informou também que o Departamento “A” da KGB pagou muito dinheiro à imprensa ocidental para a publicação de artigos a respeito da “Gorbymania” e Perestroika. Em 2012, Shebarshin foi achado morto em sua casa em circunstâncias não esclarecidas, aparentemente por ter se dado um tiro. Algum tempo antes, o chefe do setor de desinformação do GRU nos EEUU, Dmitry Lisovolik, morreu quando inexplicavelmente caiu da janela do seu apartamento.

                         

A queda da União Soviética não interrompeu o emprego da técnica da desinformação pelas agências e organizações envolvidas com a inteligência militar russa. Desde 2016, autoridades americanas têm acusado Moscou de tocar a assim chamada Troll Factory (“fábrica de provocadores”) em São Petesburgo, para interferir nas eleições americanas divulgando “discursos de sabotadores” que operaram sob identidade falsa para promover Donald Trump e fazer oposição à Hillary Clinton.

Em 2016, o grupo até organizou eventos políticos nos EEUU e espalhou vírus e postou material nas redes sociais. As investigações das autoridades americanas prosseguem, porém não conseguiram provar o envolvimento do GRU na troll factory de São Petesburgo, cuja criação tem sido atribuída a Evgeny Prigozhin, poderoso homem de negócios russo com laços estreitos com Vladimir Putin.                 

                        

O GRU faz parte do Ministério da Defesa e jornalistas investigativos russos têm informado repetidamente sobre os esforços de Moscou para montar suas “forças cibernéticas” (as chamadas empresas de pesquisa) no âmbito da Agência. Em 2014, o Ministério criou suas “forças operacionais de informação” para agirem nas “confrontações cibernéticas com potenciais adversários”.  Recrutadores confidenciaram que procuravam  “hackers que tiveram problemas com a lei” (20).

De acordo com um instrutor do centro de treinamento das novas “forças-ciber” do Ministério da Defesa, os estudantes se preparam para futuros conflitos desenvolvendo algoritmos de defesa e ataque cibernéticos (21). Recentemente, ataques de guerra eletrônica (EW) contra agências governamentais em vários países – Estônia, Geórgia, Ucrânia, Turquia e os EEUU – têm coincidido com a escalada de tensões da Rússia com eles. Além disso, muitos hackers russos trabalham com institutos de pesquisa afiliados ao GRU. Aparentemente, há dezenas de institutos de pesquisa conectados com o GRU. É possível identificar alguns deles:

–    O Instituto Central de Pesquisa Nº 46 do Ministério da Defesa (Unidade Militar 54726) é um centro técnico-militar de informação e inteligência que cuida do potencial militar de Estados estrangeiros. É subordinado ao GRU, estando localizado no nº 86 da Highway Khoroshevskoye. O prédio de quatro andares é chamado “Pentagon” pelos ocupantes – não por causa da sua configuração, mas em razão do segredo que o cerca. O estafe deste Instituto é caracterizado (22) como “o pessoal mais bem informado do GRU” e sua atividade é compartilhada com o Conselho de Segurança da Rússia (23).

–    O prédio vizinho deste instituto de pesquisa abriga uma pequena companhia chamada Steadyhost, que tem o endereço IP StopGeorgia.ru – um website empregado por hackers russos que elaboraram e divulgaram listas dos sites georgianos que deveriam ser alvo de ataque durante a disputa pela Ossétia do Sul em 2008, bem como forneceram hyperlinks para os softwares necessários para levar a cabo esses ataques cibernéticos.

–    O Centro de Estudos Especiais do Ministério da Defesa está localizado em Moscou, na rua Svoboda. O site investigativo Meduza escreveu fartamente sobre este instituto em 2016 (24). Criado há dois anos, o centro oferece trabalho em época de férias, preferencialmente para graduandos de escolas de engenharia. A procura é por estudantes que possam analisar, explorar e encontrar vulnerabilidades em redes de computadores. Recebem identificações funcionais (que os obriga a avisar com antecedência quando se ausentam de Moscou) e um salário inicial de 120.000 rublos (US$1,835).

–    O Centro de Estudos Especiais empregou Evgeny Serebryakov, expulso da Holanda em abril de 2018 por tentar raquear a Organização Para a Proibição de Armas Químicas (OPCW).

–    Unidade Militar 26165 – “Quartel Khamovnichesky” – está localizado no nº 20 Komsomolsky Prospect. Esta unidade abriga, provavelmente, o maior agrupamento dos hackers mais talentosos da Rússia. Ali se localiza o Instituto Central de Pesquisa 85 do GRU, onde criptógrafos criam algoritmos de decodificação.

–    Vários hackers suspeitos de ataques cibernéticos aos EEUU e Europa aparentemente trabalham ou trabalharam na Unidade 26165. Quando o Wikileaks publicou e-mails pirateados de Emmanuel Macron em 07 de Maio de 2017 (um dia antes das eleições presidenciais da França), internautas investigadores imediatamente noticiaram que alguém chamado Georgy Petrovich Roshka modificou nove dos e-mails publicados (25). Roshka, na verdade, é um servidor de vários Institutos de Pesquisa da Inteligência Militar da Rússia. Numa lista de participantes de uma conferência em 2018, na qual Roshka constava como palestrante, ele era identificado como especialista do Instituto Central de Pesquisa 85 (do GRU). 

–    Foi neste prédio que o suspeito de atacar a OPCW, Aleksei Morenets, tomou um táxi que o levou ao aeroporto para embarcar no vôo à Holanda. De acordo com a Inteligência americana (26), este local é a base de operações de dezenas de hackers e agentes do GRU que invadiram a rede de computadores do Comitê Nacional do Partido Democrata.

–    Unidade Militar 74455 localizada na rua Kirov 22, Moscou. Oficialmente, é o endereço do centro de negócios “Novator”, mas o hall de entrada do prédio tem um quadro de informações, entre elas uma indicando a “casa” do “Centro de Gerenciamento das Operações Diárias” (conforme funcionários do Ministério da Defesa é o que eles chamam o conjunto de institutos de pesquisa criados “para a coordenação operacional das agencias de inteligência”). O Departamento de Justiça americano afirma (26a) que este prédio é também um local de trabalho de alguns hackers do GRU que invadiram o DNC em 2016.

–    O Instituto Central de Pesquisas nº 18 trabalha especificamente com comunicação eletrônica (27). Quase nada se sabe sobre ele, mas internautas e aficionados quando se reúnem em fóruns zombam que um UFO despencou em 1959 perfurando o solo até o porão do nº 22 da rua Kirov, supostamente conectado ao “Metro-2” de Moscou (há rumores que se trata de um complexo secreto do metrô da cidade).

–    “Sovinformsputnik” é uma divisão da operação de inteligência espacial do GRU. Em 2000, foi difundido que teria fotografado pela primeira vez a secretissima “Area 51” nos EEUU (28).

                         

Sabe-se mais sobre o GRU Spetsnaz (29) do que acerca de qualquer outra divisão da agência. Esta tropa é foco de filmes e reportagens de redes de televisão e o público frequentemente é informado sobre suas operações. Nos anos 2010, durante as maiores reformas patrocinadas pelo Ministério de Defesa, as GRU Spetsnaz foram transferidas para o Comando das tropas paraquedistas (VDV) da Rússia.

Hoje, as Spetsnaz voltaram ao comando da agência, fazendo parte das Forças Operacionais Especiais baseadas em Kubinka-2 na periferia de Moscou. De 2014 a 2015, o grupo esteve sob o comando do Tenente General Alexey Dyumin, um dos antigos guarda-costas de Vladimir Putin, atual Governador do Oblast Tula. Presentemente, a unidade é comandada pelo Coronel Blazhko Anatoliy Andreevich sobre quem não há maiores informações. Mantendo seus soldados em altíssimo nível de treinamento e plena operacionalidade, as GRU Spetsnaz são consideradas a nata da elite das Forças Armadas da Rússia.

Conforme “Preparing a Spy:  The GRU Spetsnaz System” (livro escrito por antigos elementos das tropas especiais) (30), operadores das Spetsnaz GRU devem ser essencialmente capazes de fazer tudo o que James Bond faz nos filmes: paraquedismo, rapel de um helicóptero, pilotar asa delta e aviões, dirigir um barco de alta velocidade, operar maquinaria pesada, navegar, nadar longas distâncias, mergulhar, colocar minas, escalar montanhas, identificar e empregar com proficiência qualquer tipo de arma inclusive as do inimigo, distinguir uniformes militares e insígnias, usar disfarces e mover-se silenciosamente em qualquer terreno.

O livro diz que os recrutas ideais para a inteligência militar exibem alta estamina e personalidade “passivo-agressiva”. Os candidatos devem ser ousados, valorizar a camaradagem e capazes de simplificar e resolver as coisas em qualquer situação. Durante o treinamento em campo, tropas GRU Spetsnaz são submetidas a exercícios de caráter psicológico: por exemplo, pretendendo prepará-los para ver grande quantidade de sangue e ferimentos em terceiros, os recrutas são submetidos a uma atividade que consiste em pegar um coelho vivo e matá-lo partindo sua cabeça contra uma árvore, degolá-lo e beber seu sangue rapidamente enquanto prende a respiração. 

“Nós fizemos um espantalho – manequim. Vestimos com um uniforme do exército americano e escondemos alguns documentos no bolso da sua gandola”, conta o Coronel Sergey Kozlov do GRU no seu livro. “Então jogamos baldes de sangue sobre o manequim e esfregamos as vísceras e partes de um cão vira-latas no interior da gandola desabotoada. E os oficiais de inteligência têm de revistar o ‘corpo’. É totalmente desnecessário a qualquer um mergulhar as mãos numa massa de restos com sangue, mas vencer a barreira psicológica de fazê-lo é simplesmente crucial. Não menos importante é preparar o homem para matar o inimigo por qualquer meio, outra área de atuação em que cães vira-latas também servem. Psicologicamente, é extremamente difícil ‘descartar’ uma criatura totalmente inocente, mas será importante se um operador tiver de matar um civil que acidentalmente descobre seu grupo atrás das linhas inimigas” (31).

                          

Nos seus livros de memórias, os veteranos afirmam que a operação cinética de maior sucesso realizada pelas Spetsnaz GRU foi o devastador ataque ao Palácio Tajbegem em Kabul, no Afeganistão, para assassinar o Presidente Hafizullah Amin, deflagrando a longa intervenção soviética no país (32). O sucesso do assalto permitiu a instalação na presidência de Babrak Karmal leal à União Soviética.

Morreram no reide onze agentes do GRU juntamente com Amin e 350 guardas palacianos. Um dos soldados das forças especiais mais tarde recordou: “Os rapazes que subiram ao segundo andar estouraram as portas das salas e lançaram granadas de mão, varrendo os cômodos com rajadas de tiro. No meio do caminho surgiu atrás deles Amin vestido com short Adidas e T-shirt. Já estava mortalmente ferido”.  Envolveram-se na luta contra os mujahidens até a retirada, sofrendo perdas significativas. As Spetsnaz GRU participaram das guerras na Chechênia, onde tiveram papel vital na luta antiterror e antiguerrilha atuando em confrontos extremamente ferozes com os insurretos.

Em meados dos anos 1990, essas tropas estavam no Tajiquistão sob o comando do Coronel Vladimir Kvachkov treinando soldados locais e liberando áreas ocupadas por terroristas. Em 2008, as Spetsnaz GRU combateram na breve guerra contra a Geórgia. Desde 2014, as Spetsnaz GRU vêm operando na Ucrânia. Em fevereiro de 2014, ocuparam o aeroporto e prédios governamentais na Criméia numa operação especial ordenada por Vladimir Putin. “Assediar e desarmar 20.000 elementos bem armados nos exigiu certo número de pessoal – não só em termos de quantidade, mas, principalmente, de qualidade. Por isso dei ordens e instruções ao Ministro da Defesa para deslocar as forças especiais do Serviço Militar de Inteligência para a Criméia, dissimuladas como reforço das nossas organizações militares lá existentes”, revelou o Presidente um ano após a anexação da península por Moscou (33).

                         

Mais adiante, as Spetsnaz do GRU passaram a operar no sudeste da Ucrânia apoiando os separatistas. Oficialmente, os russos afirmam desconhecer o papel do GRU na Donbass, mas vários oficiais e operadores da agência morreram em combate e outros foram capturados e interrogados (34). Aprisionados durante um combate nas cercanias de Luhansk, Alexander Alexandrov e Evgeny Erofeev admitiram ser agentes das Spetsnaz do GRU estacionadas em Tolyatti, Rússia.

Em 25 de Maio de 2016 eles foram trocados pela Primeira-Tenente Nadiya Savchenko (oficial da Força Aérea da Ucrânia, deputada e importante política local).  Na Síria, as Spetsnaz tiveram e têm marcante desempenho, assessorando e treinando soldados locais e combatendo em várias operações contra o Daesh, Al Qaeda e grupos rebeldes. Também atuam como observadores aéreos dirigindo bombardeios e participaram de ações para eliminar líderes terroristas e rebeldes. Sua ação foi crucial para a liberação das cidades de Palmyra e Aleppo, além de orientar o trabalho de retirada de minas e desmontagem de IEDs. Jornalistas investigativos descobriram em outubro de 2018, que as Spetsnaz GRU estão também ativas na Líbia treinando soldados leais ao Senhor da Guerra General Khalifa Haftar, que controla a região leste do país.

                         

O diretor da inteligência militar da Rússia é indicado pelo presidente, que controla e coordena as atividades de toda a comunidade de informações. Adicionalmente, o diretor do GRU se reporta ao Ministro da Defesa e ao Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas – respectivamente Sergey Shoigu e General de Exército Valery Gerasimov. Em 2016, Putin designou o Coronel General Igor Korobov para diretor da Inteligência Militar. Oficial de carreira do Exército iniciada em 1980, especialista de informações e atuando na área de inteligência desde 1985, Korobov graduou-se pelo “Conservatório” e supervisionou grupos de inteligência estratégica da Rússia incluindo a administração de todas as “estações” no exterior.

Sua indicação foi rotineira: desde 1990, tradicionalmente, a Presidência entrega o comando do serviço a oficiais que supervisionaram células de inteligência russa no exterior (35). Em 2016, o governo americano incluiu Korobov na lista de sancionados “por causa dos seus esforços para sabotar a democracia“ organizando ataques de hackers. Apesar disso, Korobov juntamente com os diretores do Serviço Federal de Segurança (FSB) e do Serviço de Inteligência do Ministério do Exterior (SRV) realizaram uma viagem sem precedentes à Washington em fevereiro de 2018, para um encontro com membros da comunidade de inteligência americana, cuja agenda era discutir a “guerra contra o terrorismo internacional”.

Ministro da Defesa da Rússia Sergey Shoigu (esq) e o Coronel General Igor Korobov por  ocasião da posse como Chefe do GRU, 02 de Fevereiro de 2016.  TASS / Scanpix / LETA

                          

O homem a quem é creditada a criação do “Império GRU” é o legendário Coronel General Pyotr Ivashutin (36), que chefiou a inteligência militar da União Soviética desde o começo dos anos 1960 até o final dos anos 1980.  Ele concebeu e organizou um sistema de coleta de informações que trabalhava “around the clock”, suprindo as lideranças do país com informes a respeito da segurança nacional em tempo real. Seu dia de trabalho começava às 7h: um carro o levava ao Boulevard Gogolevsky em Moscou, onde o GRU estava instalado nos anos 1960.

Ele resolvia problemas com desertores, quer nacionais, quer estrangeiros, viajava à Novocherkassk em junho de 1962 para administrar uma convulsão causada por um “banho de sangue” em protestos de civis contra as más condições de vida (37), supervisionava a atuação de grupos de inteligência em território hostil, comandava a tomada do aeroporto de Praga em 1968 e chefiava operações especiais no Afeganistão. Na única entrevista que concedeu na vida, Ivashutin disse que como diretor do GRU “apoiou movimentos revolucionários, transferindo-lhes enormes somas de dinheiro”. Morreu em 2002, elevado ao panteão dos Heróis da Pátria.

                          

Desde o final dos anos 1980, o GRU ocupa um enorme complexo na Highway Khoroshevskoye, Moscou. A instalação tem o apelido de “Aquarium” revelado no livro do desertor Vladimir Rezun (que escreve sob o pseudônimo de Viktor Suvorov).  Ele disse que foi inspirado pelo exterior totalmente de vidro e por causa da comunidade de inteligência russa ser como “um aquário fechado onde todos se conhecem” (38).

O complexo do GRU é composto por nove prédios de escritórios pré-montados murado por uma longa e alta cerca de aço. Antes da entrada do prédio do escritório de segurança fronteiro há uma enorme área aberta com muros altos, plantada com coníferas e álamos ao redor de um monumento alusivo aos oficiais da inteligência falecidos (39). No hall de entrada do prédio principal há um memorial dedicado aos heróis da Inteligência Soviética e da Rússia.  Os nomes listados no frontispício do enorme mural são os nomes reais dos agentes. De acordo com o livro de Suvorov (classificado por muitos como romanceado), há um crematório no interior do complexo do GRU destinado à eliminação de traidores. Pyotr Ivashutin certa vez confirmou que a sede tinha um forno, mas garantiu que era para a queima de documentos (40).

Visitantes do quartel-general do GRU no final dos anos 1990 disseram que as instalações estavam em péssimo estado: o linóleo do piso rachado, os móveis deteriorados e insuficientes, instalações elétricas expostas, as paredes trincadas e descascadas. Após uma visita surpresa de Vladimir Putin, o complexo todo passou por uma reforma a partir de 2002.  Quando findou a restauração, o nome da agência aparecia na entrada do complexo escrito em letras douradas (um dia depois o letreiro foi retirado). Na reabertura solene em 2006, Vladimir Putin estava presente para presidir a cerimônia. 

Todos os computadores dos vários departamentos são integralmente fabricados na Rússia e há enormes telas monitorando a situação militar em tempo real, bem como indicando a localização de todos os bombardeiros estratégicos e submarinos nucleares russos.  O novo prédio conta com piscina olímpica, um SPA, várias saunas, quadras de voleibol e basquetebol e um jardim de inverno. Alguns oficiais do GRU se gabam que foram transferidos para um hotel cinco estrelas.

                         

Não são poucos os agentes no exterior expostos cada ano. Em muitos casos, agentes “suit jackets” atuando em células legais (aqueles servindo em embaixadas ou trabalhando em representações de corporações russas no exterior) são deportados imediatamente ao invés de aprisionados, particularmente quando gozam de status diplomático. Mas, há exceções: em 1978, dois operativos da inteligência soviética, trabalhando sob cobertura da ONU, foram surpreendidos em Nova York incinerando papéis reservados da Marinha Americana. Ambos foram condenados a 50 anos de prisão, porém um ano depois foram trocados por cinco dissidentes aprisionados na USSR.

Quando voltaram para casa, os dois oficiais foram condecorados com a comenda de Oficiais Honoráveis da Segurança do Estado.  Em anos recentes, agentes do GRU têm sido descobertos nos EEUU (em 1999, o FBI prendeu Stanislav Gusev, segundo secretário da embaixada russa em Washington) (41) – no Japão (2000), Áustria (2007), Bulgária (2001), Alemanha (2004 e 2005), Qatar (2004) (42) – Azerbaijão (2006) (43), Polônia (2010 e 2018) (44), Geórgia (2011) (45) e Ucrânia (2014). Em 1º de Julho de 2015, um artigo intitulado “War in Putin’s Spy Triade” apareceu no site Warfiles.ru, mencionando que o FSB queria “retomar o status da toda poderosa KGB” chefiando todas as outras agências de inteligência russas.

O texto concluía com uma lista de 79 nomes – supostamente de agentes ativos do GRU operando discretamente nos EEUU, Europa e América do Sul, revelando que alguns agentes da lista trabalhavam, por exemplo, para representantes da Aeroflot na Holanda e outros servindo como assessores na embaixada russa na Moldovia. De acordo com o jornalista investigativo Sergey Kanev, foi ordenado ao Centro de Segurança de Informações do FSB identificar os responsáveis pela revelação dos nomes dos agentes secretos do GRU (46). O diretor do centro na época, Sergey Mikkailov, foi encarregado da investigação, no entanto, ao final, o FSB alertou que a lista do seu pessoal era um segredo de Estado. (Em dezembro de 2016, Mikkailov foi preso e acusado de traição, alegadamente por fornecer informações aos americanos sobre hackers russos) (47).

Durante a investigação o FSB descobriu que pessoal comum poderia topar com um agente do GRU usando o nome real. Segundo Sergey Kanev (48), um oficial de polícia prendeu um homem dormindo num banco de parada de ônibus no Distrito Shchukino, Moscou, em Março de 2017. Examinando seus documentos descobriu em uma agenda números de telefones e nomes de residentes num complexo residencial do Ministério da Defesa na rua Narodnoe Opolchenie – todos eles oficiais do GRU e instrutores do “Conservatório”.  O homem, igualmente agente do GRU, explicou que estava cansado, pois trabalhara nas eleições como fiscal do partido “Rússia Unida” e que todo o pessoal do GRU havia votado na mesma escola em Shchukino.

NOTAS

(1) Raquear: pode significar o mesmo que “hackear”. Isto é, explorar um sistema de computador para usá-lo de uma forma não prevista pelos seus desenvolvedores. Geralmente, se aproveitando de uma falha de segurança para acessar informações ou controlar sistemas restritos; Hackear: Usar contas de outras pessoas nas redes sociais sem permissão.

(2) V.https://www.bellingcat.com/category/news/page/2/

(3) V.http://argumenti.ru/espionage/n566/474609

(4) V.https://newtimes.ru/articles/detail/34773/

(5) V.https://public.wikireading.ru/75446

(6) V. https://www.novayagazeta.ru/articles/2014/07/25/60485-russkie-shpiony-vo-frantsii

(7) V. https://theins.ru/politika/49316

(8) V. http://shieldandsword.mozohin.ru/mi/gru4992/structure.htm

(9) V. http://www.kremlin.ru/acts/bank/8732

(10) V. https://rg.ru/2011/11/02/shlyahturov.html

(11) V. https://iz.ru/news/278987

(12) V. https://public.wikireading.ru/75446

(13) V. http://svr.gov.ru/smi/2005/rosgaz20051220.htm

(14) V. http://hrono.ru/dokum/192_dok/19230111ck.php

(15) V. https://www.rbc.ru/opinions/politics/31/01/2017/58906eb49a794751f5751459

(16) V. https://www.kommersant.ru/doc/358500

(16a) V. https://www.kommersant.ru/doc/358500

(17) Citado por Daniil Turovski – https://www.amazon.com/Mitrokhin-Archive-II-KGB-World/dp/0713993596

(18) V. http://lib.ru/MEMUARY/SHEBARSHIN/rukamoskwy.txt

(18a) V. https://www.huffingtonpost.com/adst/the-jonestown-massacre_b_8592338.html

(19) V. https://www.kommersant.ru/doc/358500

(20) V. https://rg.ru/2013/07/10/roty-site.html

(21) V. https://meduza.io/feature/2016/11/07/rossiyskie-vooruzhennye-kibersily

(22) V. http://nvo.ng.ru/forces/2012-10-12/11_gru.html

(23) V. https://rg.ru/2011/01/23/sovbez-site-dok.html

(24) V. https://www.buzzfeednews.com/article/sheerafrenkel/new-report-lifts-curtain-on-russias-construction-of-powerful.

(25) V. https://twitter.com/BivolBg

(26) V. https://www.justice.gov/file/1080281/download

(26a) V. https://www.justice.gov/file/1080281/download

(27) V. https://iz.ru/news/546680

(28) V. https://www.independent.co.uk/news/world/americas/the-truth-is-out-there-and-the-russians-have-a-photograph-of-area-51-to-prove-it-spooky-isnt-it-279549.html

(29) V. http://www.defesanet.com.br/russiadocs/noticia/27522/SPETSNAZ-–-Forcas-Especiais-Russas-na-Ucrania–Crimeia-e-Donbass–/

(30) V. https://www.ozon.ru/context/detail/id/2371432/

(31) https://www.ozon.ru/context/detail/id/3720223/

(32) V. https://tass.ru/info/1674760

(33) V.https://www.vesti.ru/doc.html?id=2427106

(34) V. https://www.novayagazeta.ru/articles/2018/06/24/76916

(35) V.https://vpk-news.ru/articles/29104

(36) V. https://www.globalsecurity.org/intell/world/russia/ivashutin.htm

(37) V. https://meduza.io/en/feature/2017/11/23/the-novocherkassk-massacre

(38) V. https://www.kommersant.ru/doc/3765996

(39) V. https://iz.ru/news/278987

(40) V. https://zvezdaweekly.ru/news/t/20186201616-MdVFn.html

(41)  V. https://www.kommersant.ru/doc/460614

(42) V. https://newtimes.ru/articles/detail/34773/

(43) V. https://www.kommersant.ru/doc/728183

(44) V. https://ria.ru/20180219/1514950048.html

(45) V. https://www.kommersant.ru/doc/1677165

(46) V. https://medium.com/@tzurrealism/fsb-vs-gru-c82f0b93b311

(47) V. https://meduza.io/en/news/2018/10/05/sources-tell-russian-newspaper-that-fsb-agents-leaked-secret-data-to-the-fbi-for-10-million-dollars

(48) V. https://medium.com/@tzurrealism/fsb-vs-gru-c82f0b93b311

                                                                                                                                   CONTINUA>

                       

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